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Dias de sobressalto para os Cristãos na Nigéria
“Ainda me resta um filho”
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Não há dia que passe sem que os olhos de Chioma fiquem alagados em tristeza e revolta quando repara no seu filho, doente, ainda ferido pela explosão criminosa que destruiu a Igreja de Santa Teresa no Natal de 2011.

 

No final da Missa, um carro armadilhado embateu contra o edifício. O estrondo fez-se ouvir em toda a cidade de Madalla. Chioma estava em casa a fazer o almoço. O marido e os quatro filhos tinham ido à Missa. Era o dia de Natal. Estavam já a sair da Igreja, rumo a casa, quando se deu a explosão. Chioma ficou viúva, perdeu três filhos, dois rapazes e uma menina, e agora tem de sobreviver, nem sabe como, sozinha, com o rapaz a seu cuidado, que continua a ostentar as feridas causadas pelo rebentamento da bomba. “Ainda me resta um filho pequeno”, diz ela com um olhar triste, vazio. “Ele ficou gravemente ferido nos olhos, nas mãos, na cabeça.”

Como é que se reconstrói a vida depois de uma tragédia assim? Chioma Dike não se envergonha das lágrimas que continua a chorar todos os dias, nem se perturba quando olha em volta e vê a sua enorme impotência. “Ponho tudo nas mãos do Senhor. Ninguém pode ajudar-me. Só Deus pode consolar-me”.

 

Atentados terroristas

A Nigéria vive assolada por uma vaga de atentados, desde 2009, da autoria de um grupo terrorista, o Boko Haram, que pretende instaurar um estado islâmico no país. Boko Haram, que significa “a educação ocidental é proibida”, tem ligações à Al Qaeda e à Al-Shabaab, e foi incluído pelos Estados Unidos, em Novembro passado, nas organizações terroristas internacionais.

A Nigéria é um país rico onde a maioria da população vive numa pobreza abjecta. Apesar de ser um dos maiores produtores mundiais de petróleo, essa riqueza natural não se espelha no dia-a-dia da esmagadora maioria dos seus 170 milhões de habitantes, dos quais, cerca de metade são cristãos.

O Boko Haram, com uma metódica estratégia de terror, visando os Cristãos, tem procurado dividir o país entre o Norte, maioritariamente muçulmano, e o Sul, onde predomina o Cristianismo.

 

A força da fé

Para Chioma, a única coisa que conta, agora, é salvar o seu único filho e sobreviver a um futuro que se afigura dramático. Mas nada disso, porém, a faz vacilar na sua fé: “Rezo para que o Senhor nos proteja e peço-vos que rezem pelo filho que me resta e que continua ferido”.

Infelizmente, a história de Chioma banalizou-se nos últimos anos. Desde 2009 já se contabilizaram mais de 3 mil mortos e largos milhares de feridos, em resultado dos ataques terroristas. Nos últimos tempos, começaram a surgir também notícias aterradoras de raptos de jovens cristãs nigerianas, forçadas à conversão ao Islão.
Na semana passada, uma rapariga de 19 anos contou como foi raptada, como, sob a ameaça de uma faca encostada à garganta, foi obrigada a renunciar ao Cristianismo e transformada "escrava” dos terroristas. “Eles estavam quase a matar-me, e um deles exigiu-me que não resistisse ou cortariam mesmo a minha garganta. Eu cedi. Eles colocaram-me um véu e obrigaram-me a ler o Alcorão.”
A jovem conseguiu fugir e contou agora a sua história. “Se chorava, batiam-me, se dizia alguma coisa, batiam-me.”

 

Solidariedade portuguesa
A vaga de atentados que sobressaltou a Nigéria nos últimos anos, levou, inclusivamente, a Conferência Episcopal Portuguesa a condenar “a chacina” dos Cristãos neste país africano. “A Igreja em Portugal está do lado daqueles que são perseguidos”, sublinhou, em Julho de 2012, o Padre Manuel Morujão, porta-voz da Conferência Episcopal. “O apoio da nossa Igreja em Portugal é um apoio de solidariedade, é um apoio moral, mas também é um apoio através dos contactos internacionais: levar a opinião da Igreja a instâncias sociais e políticas, que podem ajudar, mesmo no aspecto material”, refere a CEP. “Nomeadamente”, exemplificou o Padre Morujão, “a Ajuda à Igreja que Sofre tem feito pontes concretas para que sintam a solidariedade e apoio prático de todas as Igrejas”.

Da Nigéria, quase todas as semanas chegam-nos notícias de ataques a comunidades cristãs. A violência dos relatos é assustadora. Há pessoas que são mortas à machadada, queimadas vivas, brutalmente executadas a tiro, num desrespeito absoluto pela vida humana.

No meio da sua impotência, com o “filho que lhe resta” nos braços, Chioma apenas pede as nossas orações. Faltam uns dias para o Natal. Foi há dois anos que a vida de Chioma Dike se transformou num enorme pesadelo.

 

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texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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