15.12.2013
A uma janela de Roma
“Partilhar o pão quotidiano sem desperdiçar”
 |
1/ |
 |
O Papa falou sobre o escândalo da fome. Na semana em que foi nomeado ‘Personalidade do Ano 2013’ para a revista ‘Time’, Francisco lembrou o projeto de Deus para humanidade, recordou Mandela e nomeou uma portuguesa.
1. O Papa lançou um apelo contra a fome e o desperdício de alimentos, lembrando a campanha da Caritas Internationalis. “Ontem a Caritas lançou uma campanha mundial contra a fome e o desperdício de alimentos com o lema: ‘Uma só família humana, alimento para todos’. O escândalo dos milhões de pessoas que padecem de fome não nos deve paralisar, mas empurrar-nos a agir a todos nós, famílias, comunidades e governos para eliminar esta injustiça. O Evangelho de Jesus mostra-nos o caminho: confiarmos na providência do Pai e partilhar o pão quotidiano sem desperdiçar. Encorajo a Caritas a levar em frente este empenho e convido todos a unirem-se a esta onda de solidariedade”, pediu o Papa Francisco, no final da habitual audiência-geral das quartas-feiras, perante uma multidão de peregrinos reunidos na Praça de São Pedro.
No âmbito desta campanha da Caritas Internationalis, que foi lançada esta terça-feira, dia 10, a nível mundial, o Papa publicou uma mensagem vídeo. “Estamos perante um escândalo mundial que afeta quase mil milhões. Mil milhões de pessoas que ainda hoje passam fome: não podemos virar a cara para o lado e fingir que esta realidade não existe”, lembra o Papa, acrescentado que “os alimentos hoje disponíveis no mundo seriam suficientes para alimentar todos”.
A Cáritas internacional, recorde-se, lançou no Dia Internacional dos Direitos Humanos uma campanha mundial em que apela à erradicação da fome no mundo até 2025 e iniciou uma “onda de oração”. Neste sentido, o Papa Francisco convida “todas as instituições do mundo, toda a Igreja e cada um de nós, como uma só família humana, a dar voz aos que sofrem silenciosamente por causa da fome, para que estas vozes se transformem num rugido capaz de fazer tremer o mundo”.
2. A revista ‘Time’ nomeou o Papa Francisco ‘Personalidade do Ano 2013’. A distinção foi anunciada ao início da tarde de quarta-feira. Segundo o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, padre Federico Lombardi, o Papa não procurava esta distinção, mas “se isso traz esperança às pessoas, então fica satisfeito”.
Num vídeo que acompanha o artigo, a ‘Time’ destaca o facto de o Papa ter dado “tanta esperança e inspiração às pessoas ao longo destes nove meses" e de "mais ninguém" ter feito isso este ano. A energia “inexplicável” de Francisco é outro fator realçado pela ‘Time’. “Tem uma energia que não ser percebe de onde vem. Tem 77 anos, mas anda a abraçar pessoas que a maioria de nós não quereríamos sequer tocar, lavar os pés a reclusos, interceder por imigrantes numa ilha no meio do Mediterrâneo”. O grande destaque é para a mensagem sobre a pobreza: “Preocupa-se sobretudo com os pobres, essa é a mensagem mais forte”. A revista admite, por outro lado, que nem tudo sobre Francisco é consensual e considera que o futuro vai ser complicado: “Vai ser interessante observar o Papa ao longo do próximo ano, porque todos os conservadores estão preocupados que abdique da autoridade da Igreja, enquanto os liberais estão com medo que não passe das palavras aos atos”.
Esta é a terceira vez que a revista ‘Time’ coloca um Papa na capa da edição que anuncia a pessoa do ano. A primeira foi em 1963, com João XXIII, e a segunda em 1994, com João Paulo II. A tradição de nomear uma ‘personalidade do ano’ começou em 1927.
2. O Papa assinalou no passado Domingo, no Vaticano, a celebração da Solenidade da Imaculada Conceição, sublinhando que este dia recorda o projeto de Deus para humanidade livre do pecado. “Também nós, desde sempre, fomos escolhidos por Deus para viver uma vida santa, livre do pecado. É um projeto de amor que Deus renova sempre que nós aproximamos dele, especialmente nos Sacramentos”, salientou Francisco, perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro para a oração do Angelus. Esta solenidade coincidiu este ano com o segundo Domingo do Advento, tempo de preparação para o Natal. Francisco destacou este facto e disse que a Virgem Maria mostra “como viver este tempo do Advento na espera do Senhor”.
Durante a tarde, o Papa rezou junto ao monumento dedicado à Imaculada Conceição na Praça de Espanha, centro de Roma, tendo sido acompanhado por uma multidão.
4. O Papa Francisco enviou um telegrama ao Presidente da África do Sul onde lamentou a morte de Nelson Mandela, no dia 5, aos 95 anos, dizendo esperar que o seu exemplo inspire o país a lutar pela "justiça e bem comum". Numa curta mensagem, Francisco elogia a contribuição de Madiba para a dignidade do povo da África do Sul: “Ao prestar homenagem ao firme compromisso demonstrado por Nelson Mandela na promoção da dignidade humana de todos os cidadãos e na construção de uma nova África do Sul, construída sobre as fundações firmes da não-violência, reconciliação e verdade, rezo para que o exemplo do falecido Presidente inspire gerações de sul-africanos para colocar a justiça e o bem comum à frente das aspirações políticas”.
O Papa fala ainda da “tristeza” com que tomou conhecimento da morte do antigo Presidente e diz “aos membros do Governo e a todo o povo da África do Sul” que está a rezar pelo antigo Presidente. “Ao encomendar a alma do falecido à infinita misericórdia de Deus Todo Poderoso, peço ao Senhor que console e fortaleça todos os que fazem luto por ele. Com estes sentimentos, invoco sobre todo o povo da África do Sul os dons divinos da paz e da prosperidade”, finaliza Francisco.
5. A portuguesa Maria de Lurdes Correia Fernandes, professora da Faculdade de Letras e atual vice-reitora da Universidade do Porto, foi nomeada pelo Papa para o Comité Pontifício de Ciências Históricas. Especialista em cultura portuguesa, com várias investigações na área da história religiosa e da cultura, Maria de Lurdes Correia Fernandes acredita que foi essa experiência que pesou na sua nomeação.
O Comité Pontifício de Ciências Históricas foi criado em 1954 pelo Papa Pio XII e tem cerca de 30 membros, de vários países. Tem como missão representar a Santa Sé nos organismos internacionais do sector, como o Comité Internacional das Ciências Históricas.
Aura Miguel, à conversa com Diogo Paiva Brandão