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O Perdão na Família
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Neste ano pastoral de 2013-2014, a Diocese de Lisboa apresenta como tema de trabalho “A fé atua pela caridade”. Fiel a este tema, ao longo deste ano o Familiarmente vai abordar alguns dos pontos pelos quais podemos viver a caridade em família. Após termos falado sobre o descanso e o trabalho, neste mês abordamos o perdão e a família.

 

O perdão é determinante para viver a caridade Evangélica na vida do casal, nas relações familiares e nas opções da família. Viver o perdão é uma exortação que brota antes de mais da nossa condição de Filhos de Deus, que experimentam a Sua infinita misericórdia. Quem reconhece que recebe o dom gratuito do perdão de Deus sabe como isso o implica na sua vida de perdoado e também de perdoador, pois somos convidados a perdoar também (“Pai Nosso…perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”).

Sem o perdão as relações humanas não podem perdurar, pois qualquer falha de um leva ao voltar das costas pelo outro. A ausência de perdão é uma barreira que mina a família, levando ao afastamento das pessoas - primeiro emocional e muitas vezes também físico: provoca divórcios entre os casais, leva irmãos a voltar as costas uns aos outros, pais e filhos a rejeitarem-se. Quem não perdoa tende a sentir uma permanente insatisfação, pois está sempre à procura e nunca encontra aquela relação que a vai satisfazer plenamente, esquecendo que o que nos satisfaz plenamente é o amor incondicional.

Perdoar não é fácil, sobretudo quando olhamos para o mal que o outro nos fez ou o bem que deixou de fazer. Porém, não podemos reduzir o outro ao que fez, esquecendo o que ele é. Olhar para o outro não pelo que fez, mas pelo que é, pelo amor que lhe temos, é o caminho do perdão que o Senhor nos aponta, Ele que nos ama não pelo nosso mérito, mas por dom gratuito. Que este amor que brota da paternidade de Deus ilumine as nossas famílias e nos faça viver a fidelidade à decisão de amar o outro na família.

 

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Testemunho...

Eu e o Diogo estamos casados há 6 anos. Quando o conheci, o que chegou até mim foi um olhar carregado de sofrimento, de dor, de desespero. Perante um olhar como aquele o que era chamada a fazer? Estender a mão, acolher e integrar. Perdoar? Ou recolher-me, e fingir que não tinha visto aquele olhar?

O primeiro casamento do Diogo tinha falhado, e o seu olhar transparecia toda a dor deste sofrimento… um sofrimento de uma vida a dois fracassada, de um sonho desfeito, de dois filhos, cujas vidas deixaria de acompanhar em pleno, de amigos que misteriosamente desapareciam, de memórias que se desvaneciam…de um passado que deixava de fazer sentido. Porquê tudo isto? Onde tinha errado? Onde tinha pecado?

Quando conheci a Vera, tinha acabado de me divorciar. Tal como o cego que à saída de Jericó, sentado à beira da estrada, clama pela ajuda de Jesus e pela sua fé recupera a visão, acredito que o Senhor colocou a Vera no meu caminho para me pegar na mão e, com ela, fazer-me à estrada. Lembro-me, comovido, do feliz momento em que a Vera, de frente para mim, pegando carinhosamente nas minhas mãos me disse: "Diogo, vou tirar essa tristeza do teu olhar!".

Dizem os manuais que a dor de um divórcio só é suplantada pela morte de alguém muito querido. De facto, assim é.

A vida é muito boa, mas cada vez mais complexa à medida que a percorremos. Este caminho está repleto de oportunidades infinitas que nos cumpre discernir e avaliar. Avaliar, se vão no bom sentido, e se são caminhos que, apesar de dolorosos, valem a pena percorrer porque nos aproximam de Deus, do 'mais' inaciano, ou pelo contrário, que convém deixar cair porque nos afastam de Deus, e nos tornam mais pequenos.

Deus ama-nos com um Amor infinito. Como tal, acredita em nós e coloca nas nossas mãos o nosso destino. É esta a nossa responsabilidade, fazer que a nossa vida seja instrumento do Bem. Alguém de quem gostamos muito diz que pecar é ter tudo para acertar no alvo e não o fazer!

O caminho que optámos por trilhar foi difícil, mas foi acompanhado e rezado. Não queríamos uma Igreja à nossa medida, mas sim integrarmo-nos nós nesta Igreja em que acreditamos e que tanto amamos.

Algo que à partida parecia não fazer sentido, uma vez que seria uma situação que nos afastaria de uma vida de Igreja em pleno, afinal poderia ser um caminho de verdade se adequadamente vivido. Foi este caminho que percorremos, a dois, ou melhor a três, porque acreditávamos que Deus estava nele, porque nós fazíamos questão de O incluir neste percurso.

Para tal, foi necessário perceber, discernir, acolher, perdoar, rezar e, convictos, seguir em frente.

A reconciliação passa também por aqui… quando algo é mal vivido, perceber, pedir desculpas e integrando esta realidade, seguir em frente. Com Deus ao nosso lado. O olhar de Nossa Senhora que tudo acolhe e tudo compreende no silêncio do seu coração, passa também por aqui. Um olhar que nos faz seguir em frente, que nos faz acreditar que, apesar de difícil, a vida é boa e faz sentido.

Firmemente convicto, iniciei o longo e nem sempre fácil percurso de ver provada a nulidade do primeiro matrimónio, o que veio a concretizar-se passados quatro anos, vividos com grande intensidade e muita oração. No passado dia 8 de Dezembro, tivemos a grande graça de poder renovar os votos expressos em junho de 2007, desta feita no seio da nossa Igreja. Nós tivemos a sorte de ver a nossa opção confirmada pela Igreja. Agora tudo faz sentido. Tudo é mais fácil.

 O olhar do Diogo é agora muito mais um olhar de esperança e de felicidade. O meu também!

 

Vera e Diogo Pais

 

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Catequese Doméstica: “A misericórdia de Deus no sacramento da reconciliação”

O sacramento da reconciliação não é um mero confessar de um pecado a outro homem - no caso um padre - mas um dom, oferta gratuita da misericórdia de Deus, um dizer bem do homem por Deus que eleva a pessoa ao melhor que foi feita para ser, imagem de Deus (Gen 1, 27).

Meditemos sobre o sacramento da reconciliação lendo a parábola dos dois filhos e do pai misericordioso (Lc 15, 11-32). Lemos que o filho mais novo pediu a seu pai a parte dos bens que lhe correspondia (Lc 15, 12). Deste filho não sabemos o nome, apenas sabemos que ele é "filho" e que é esse ser que ele rejeita. Ao rejeitar o pai, o filho perde a sua própria identidade, pois já não se reconhece como o filho que nasceu para ser, e é. O pai perdeu o filho que o rejeitou da sua vida, mas o filho perdeu-se a si próprio - já não sabe quem é. Disso nos dá conta o evangelista: o filho depressa esbanjou tudo o que tinha e entrou numa situação de miséria, sendo obrigado ao trabalho mais infame para um judeu, guardador de porcos. Aquilo que o pai lhe tinha dado desaparece da vida do filho. Mas como poderia este filho manter o que recebera do pai se entretanto o rejeitara?

Então São Lucas diz-nos que o filho caiu em si, ou seja, recordou-se da sua condição de filho e da generosidade de seu pai. Assoberbado pela culpa de ter abandonado o pai, já não espera ser tratado como filho, mas como servo. É o próprio sentimento de culpa que leva o filho a apontar por baixo, incapaz de imaginar a absoluta misericórdia do seu pai. Então, o filho, no seu exame de consciência, reconheceu o seu pecado para com o Pai e, indo ao seu encontro, tomou a resolução de se confessar (Lc 15, 18). Atente-se em pormenor no versículo 20: "Quando ainda estava longe, o pai viu-o e, enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço e cobriu-o de beijos". O filho decidiu regressar a casa do pai. Não poderia ter sido de outra maneira, pois ninguém o poderia fazer por ele. Mas quando ainda estava longe, sendo já perceptível para o pai o seu regresso, é o pai quem se precipita a abraçá-lo e a beijá-lo. O pai, que fora abandonado pelo filho, desejava ardentemente pelo seu regresso. O amor do pai pelo filho em nada tinha diminuído e assim que o vê, enche-se de compaixão. Porém, o filho precisa pedir perdão ao pai. As palavras não podem ficar por serem ditas, pois sem isso o reconhecimento do abandono cometido pelo filho não estaria completo. O filho humilha-se perante o pai e diz "Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho". Desde logo, o filho recupera a sua condição de filho por relação ao pai: reconhece que não é por mérito que é filho, mas por graça. Não é pela exemplaridade dos seus actos, mas a partir de uma relação gratuita de amor que ele se pode conhecer como filho.

A atitude do pai expressa nesta parábola é reveladora da infinita misericórdia de Deus. Através dela, São Lucas procura mostrar este dom de Deus que é a misericórdia que alcançamos através dos sacramentos da cura. O pai nunca deixou de amar o filho e desejava avidamente o seu regresso. Contudo não o podia fazer regressar. Só o filho podia fazer esse caminho de regresso à vida. Por isso o pai se alegrou porque este filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado!

Que imagem tão bela. Lendo esta parábola, como podemos não desejar ardentemente viver este encontro com o Pai que ao ver-nos de longe se enche de compaixão e corre a lançar-se-nos ao pescoço cobrindo-nos de beijos? Cientes que não somos incorruptíveis, procuremos continuamente a nossa conversão de modo a viver a santidade à imagem e semelhança do Pai. Almejemos pois a santidade e vivamos com verdadeira alegria a nossa vida, procurando este encontro com o Pai que se lança a abraçar-nos.

 

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ACONTECEU em FÁTIMA – Jornadas Nacionais da Pastoral Familiar

No passado mês de outubro o Departamento Nacional de Pastoral Familiar realizou as XXV Jornadas Nacionais de Pastoral Familiar que tiveram como tema “O trabalho e a Família”. Ali se reuniram representantes de quase todas as dioceses, nas pessoas dos coordenadores dos secretariados diocesanos e de muitos leigos envolvidos paroquialmente no serviço de pastoral familiar.

Em três dias de trabalho há a destacar o convívio entre famílias (os filhos de todas as idades também tiveram programa próprio) de onde resultou uma partilha de experiências e percursos coincidentes mas diversificados.

Estas Jornadas têm duas características fundamentais: são abertas a todos aqueles que se empenham nas suas comunidades pela causa da Família, e têm um carácter anual, com um tema de reflexão e do qual são dadas pistas de trabalho para aprofundamento formativo e de partilha de boas práticas.

O Prof. Doutor Manuel Braga da Cruz fez uma rica reflexão sobre o trabalho e a família em duas vertentes: na atualidade e no Magistério da Igreja. Aqui apresentou uma síntese cronológica das várias afirmações de diversos Papas e em diversos documentos conciliares, a favor da dignidade do trabalho e do homem / família. Sobre a transformação da família na atualidade, abordou a evolução desde a família alargada, em muitas gerações, à família nuclear de 3 pessoas, ou até ao novo fenómeno de famílias mono-pessoais, como resultado das mudanças sociais em que a família tem evoluído e se tem manifestado. Da família que vivia no mesmo espaço, à família em rede, pelos meios de comunicação eletrónica de que já não prescindimos hoje.

Outros momentos fortes foram os testemunhos de três casais que abordaram a fé no local de trabalho; a manifestação da família e de cada um dos seus membros no espaço de trabalho e no espaço familiar; o exercício de apostolado na conjugalidade, realçando a entrega e o sentido de compromisso.

Estas XXV Jornadas incluíram ainda momentos de oração, culminando com a celebração da eucaristia onde foram apresentados os trabalhos e as ofertas dos jovens a todos os participantes.

Recomendamos a participação dos nossos leitores nestas Jornadas Nacionais, sabendo que as mesmas se realizam sempre em Outubro, em Fátima.

texto pelo Sector da Pastoral Familiar
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