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A uma janela de Roma
“A Igreja deve ser fecunda e uma casa para todos”
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Correu mundo a entrevista do Papa às revistas jesuítas. Na semana em que visitou a Sardenha, Francisco falou aos bispos e aos médicos. O cardeal português da Cúria romana resignou.

 

1. O Papa Francisco concedeu uma longa entrevista, divulgada no final da passada semana por várias revistas jesuítas, incluindo a portuguesa Brotéria (www.broteria.pt), onde defendeu que a Igreja tem de evitar falar sempre dos mesmos temas. O aborto, o casamento homossexual e a contraceção não devem dominar os seus ensinamentos que, aliás, são conhecidos. Francisco refere que não tem falado muito nestes temas, porque é preciso fazê-lo num contexto não moralista.

Sem deixar espaço para dúvidas de que concorda com as posições oficiais da Igreja em todos estes assuntos, o Papa diz que não é preciso estar sempre a bater na mesma tecla e que devemos encontrar um novo equilíbrio, sob pena de o edifício da Igreja perder a frescura e desmoronar como um castelo de cartas. No fundo, a proposta evangélica deve ser simples, profunda e irradiante. E só depois é que vêm as consequências morais.

Francisco recorda que “a Igreja não é uma capelinha para um grupinho de pessoas, nem um ninho protetor da mediocridade, a Igreja deve ser fecunda e uma casa para todos”. No atual contexto, o Papa vê a Igreja como um hospital de campanha depois de uma batalha, em que a primeira coisa a fazer é curar as feridas. Claro que as reformas são importantes, mas aquilo de que a Igreja mais precisa hoje é aquecer o coração dos fiéis, é a proximidade a começar de baixo.

A longa entrevista, de vinte páginas, aborda muitos outros temas, desde o Concílio Vaticano II, o papel das mulheres, o ecumenismo e a Cúria romana, até às facetas mais pessoais do Papa argentino, ao seu modo de vida e preferências culturais.

 

2. Ternura e humildade, assim se devem fazer as obras de caridade. Foi o recado do Papa Francisco durante a visita à ilha italiana de Sardenha. Na catedral de Cagliari, na manhã do passado Domingo, Francisco deixou um alerta àqueles que ajudam quem precisa só para darem nas vistas. “Devemos fazer obras de misericórdia com misericórdia, as obras de caridade com caridade, com ternura e sempre com humildade”, referiu. “Sabem, às vezes encontra-se também arrogância no serviço aos pobres! Alguns fazem boa figura, enchem a boca com os pobres, alguns instrumentalizam os pobres para interesses pessoais ou do próprio grupo. Bem sei, isto é humano, mas não está bem! E digo mais: isto é pecado! Seria melhor que ficassem em casa”, criticou o Papa.

À tarde, num encontro com gente da área da cultura, o Papa assegurou que a crise, mesmo a que vivemos, tem que ser aproveitada para fazer uma renovação. No último compromisso da sua visita pastoral a Cagliari, na Sardenha, Francisco pediu aos jovens para não se deixarem vencer pelo pessimismo e não perderem a esperança. “Diante desta realidade, vocês interrogam-se: que podemos fazer? Há certamente uma coisa a não fazer que é deixar-se vencer pelo pessimismo e desconfiança. Vós, jovens, não podeis nem deveis perder a esperança! A esperança faz parte do vosso ser, um jovem sem alegria e esperança é preocupante! Não é um jovem”, garantiu.

 

3. O bispo é chamado a acolher, caminhar e permanecer com seu povo. O Papa falou aos novos bispos em Roma e falou claro: comparou o carreirismo a um cancro e deixou uma série de conselhos aos novos bispos. “Por favor, nós, os pastores, não somos homens com psicologia de príncipes, homens ambiciosos, esposos de uma Igreja, à espera de arranjar outra mais bela, mais importante e mais rica. Isto é um escândalo. Estejam atentos para não caírem no espírito do carreirismo: isso é um cancro!”, alertou.

Outro dos problemas, segundo o Papa, é a falta de tempo dos bispos que viajam demais e acolhem de menos os seus padres e com os fiéis. “Peço-vos, por favor: permaneçam junto do vosso povo, permaneçam! Evitem o escândalo de serem “Bispos de aeroporto”! Sejam pastores que acolham, em caminho com o vosso povo, com afeto, com misericórdia, com doçura no trato e firmeza paterna, com humildade e discrição, capazes de olhar para os vossos limites e ter uma boa dose de humorismo!”, salientou Francisco aos novos bispos.

 

4. Francisco lançou um apelo às consciências dos médicos e profissionais de saúde, contra a cultura do descartável, sobretudo contra a mentalidade que tenta eliminar os mais fracos, desde os doentes e idosos, às crianças por nascer. “Cada criança não nascida, mas condenada injustamente a ser abortada, tem o rosto de Jesus Cristo, tem o rosto do Senhor que, ainda antes de nascer e logo depois de nascer, experimentou a recusa do mundo”, observou o Papa, aos participantes do X Encontro da Federação Internacional das Associações Médicas Católicas, que reuniu em Roma, de 18 a 22 de setembro, médicos de todo o mundo.

Enquanto se reivindicam novos e cada vez mais direitos à pessoa – disse o Papa – nem sempre se tutela a vida como valor primário e direito primordial de cada homem. Uma contradição que é preciso combater, a começar pelos sistemas de saúde. “A credibilidade de um sistema de saúde não se mede apenas pela eficácia mas, sobretudo, pela atenção e amor para com as pessoas, cuja vida é sempre sagrada e inviolável”, garantiu.

 

5. O Cardeal D. Manuel Monteiro de Castro, antigo Penitenciário-Mor do Vaticano, resignou ao cargo por limite de idade. O português presidia a um dos três tribunais da Cúria Romana desde janeiro de 2012.

O Papa Francisco aceitou a resignação, mas D. Manuel Monteiro de Castro diz, à Rádio Renascença, que vai continuar no Vaticano. “Foi uma missão muito grata, quando chegamos ao fim de um trabalho bem feito ficamos contentes, não é? Continuarei em Roma, porque sou membro do colégio cardinalício e tenho voto até aos 80 anos. Neste momento fico com mais tempo livre e posso ir à minha terra mais vezes do que ia até agora”, salienta.

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