É um jovem chinês de sorriso franco e olhar meigo. Está a estudar teologia num país europeu e não pode sequer dizer o seu nome. Pertence à Igreja Clandestina, fiel a Roma. No próximo ano deverá ser ordenado sacerdote e o seu mais profundo desejo é regressar a casa, para se juntar a todos os que dão testemunho de Cristo apesar da perseguição das autoridades. Vamos chamar-lhe Pedro, apenas.
A China é um país imenso controlado com mão de ferro pelo Partido Comunista. A prática religiosa só é permitida aos que aceitam a tutela do Estado através da autodenominada Igreja Patriótica, criada em 1957. Pequim e a Santa Sé não têm relações diplomáticas. É indeterminado o número de fiéis, padres, religiosos e bispos que estão detidos na China. Muitos encontram-se em prisão domiciliária, impedidos de contactar seja quem for. Isolados, são sujeitos a “aulas de reeducação”.
As autoridades exercem enorme pressão a todos os padres que continuam fiéis a Roma, aliciando-os com benesses vários, salários elevados, viatura pessoal, privilégios. Dizer “não” na China é arriscado. Pedro descobriu a sua vocação tinha apenas 15 anos.
Lei do filho único
Poucas pessoas fora da Chinasaberão melhor o que é viver a fé clandestinamente do que Pedro. São cinco irmãos. Na China o Governo impôs a lei do filho único. Os pais de Pedro foram forçados, por isso, a sair de casa, a separar os irmãos, para não serem apanhados pelas autoridades. A família dividiu-se. Durante algum tempo foi o irmão mais velho que tomou conta de Pedro. Durante essa época, era raro o dia em que não se sobressaltavam quando alguém batia à porta. O medo da polícia, das rusgas, da denúncia de algum vizinho assustava qualquer um. Das recordações mais antigas, porém, está a imagem de todos, pais e irmãos, a rezar. Foi assim que tudo começou. Foi a profunda fé dos pais, as orações aprendidas desde criança, que fizeram crescer em Pedro a vontade de ser sacerdote e de oferecer a sua vida a Cristo. Um dos irmãos antecipou-se nesse desejo e já foi ordenado padre. Também ele pertence à Igreja Clandestina.
Seminário clandestino
Pedro esteve em Portugal, a convite da Fundação AIS, para dar o seu testemunho do que é pertencer a uma comunidade religiosa perseguida, ter de rezar às escondidas, do risco da prisão, de viver em campos de reeducação, um eufemismo que as autoridades criaram para verdadeiros "gulags", os “laogai”, onde são encarcerados os que se opõem ao regime.
Antes de vir para a Europa estudar teologia – na China ninguém sabe disso – Pedro fez a sua primeira caminhada de fé num seminário clandestino. Tinha 18 anos. “Era uma casa cedida pela comunidade, nem podíamos sair à rua. Às vezes, durante mais de seis meses estávamos ali fechados”, recorda. Durante esse ano, o seminário clandestino albergou dezasseis jovens. “Uma única divisão da casa servia para tudo: sala de estudo, dormitório e refeitório”. O medo de que alguém os denunciasse obrigava-os a falar e a rezar em voz baixa, quase em sussurros.
Este ambiente de perseguição acabou por tornar mais forte a fé de Pedro e fez aumentar, todos os dias, a certeza da sua vocação. Nem o facto de o seu bispo estar há vários anos em prisão domiciliária, impedido até de receber chamadas telefónicas, por estarem sob escuta, o demove de seguir esse caminho. Ser mártir não assusta. Diz Pedro: “Não tenho medo. Se tiver de ser mártir, estou preparado e aceitarei isso como se fosse uma honra. Se acontecer, será uma graça que o Senhor me concede”.
Servir a Igreja
Pedro nunca se esquece do dia em que a mãe lhe contou, olhos nos olhos, que tinha assistido ao fuzilamento de um padre na sua aldeia apenas por se recusar a integrar a Igreja Patriótica, renegando a sua ligação ao Vaticano e ao Papa. Pedro recorda estes horrores mas a sua voz não se escandaliza. São muitos, demais, os exemplos que conhece de homens e mulheres que foram perseguidos, presos e mortos por causa da sua fé. Como é o caso do bispo da diocese vizinha à sua – cuja identidade não pode revelar para ele próprio não ser mais facilmente identificado – cujo paradeiro se desconhece actualmente e que já passou mais de quarenta anos na prisão. Quarenta anos…
Pedro fala do futuro com uma certeza que só pode ser inspirada no coração. Os padres da Igreja Clandestina, por serem poucos, especialmente nas zonas rurais, têm a responsabilidade de cuidar às vezes de sessenta povoações. Há aldeias que só recebem a visita do seu sacerdote uma vez por ano. É um trabalho imenso, sem dias de descanso, arriscado, sempre sob a ameaça da prisão, da tortura, por vezes até da morte. Mas é isto, apenas isto, que Pedro deseja. Servir a Igreja, servir o Papa é o sonho da vida deste jovem seminarista. A nós, pede-nos orações, o vigor da nossa fé, a certeza de que Deus ouvirá as nossas preces. Nada mais.
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