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Coreia do Norte: a história (quase) esquecida dos cristãos
A semente da fé não morreu
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No país mais fechado do mundo, onde a prática religiosa é severamente proibida, chegam sinais de que o povo não se esqueceu das suas raízes cristãs, apesar da tenebrosa perseguição que o regime promove a todas as práticas religiosas.

 

O Padre Lee Eun-hyung, secretário-geral da Comissão para a Reconciliação do Povo Coreano e um dos sacerdotes católicos que melhor conhecem a Coreia do Norte, fala de um país destroçado por um regime impiedoso e afirma que, por isso, é difícil até falar numa “Igreja clandestina”. Porém, o testemunho de refugiados norte-coreanos que conseguem fugir do país alimenta a esperança de que ainda há uma comunidade de fé neste país.

 

Orações dissimuladas

Esses testemunhos, diz o Padre Lee à Fundação AIS, referem "mulheres idosas sentados em círculo, ocupadas a contar grãos e sussurrando como se estivessem a recitar o rosário”. O padre Lee Eun-hyung esteve em Pyongyang, a capital da Coreia do Norte, por três vezes nos últimos oito anos. As suas palavras são o resultado do que viu e ouviu, mais até do que das suas convicções pessoais. “Acreditamos que pelo menos 10 mil norte-coreanos continuam a cultivar a fé católica no mais profundo dos seus corações, mas é difícil acreditar que possa existir uma Igreja clandestina na Coreia do Norte”.

 

Campos de concentração

Porém, no último Relatório sobre Liberdade Religiosa no mundo, da responsabilidade do Governo norte-americano, é referida a existência de “inúmeros casos de membros de Igrejas clandestinas presos, maltratados, torturados ou mortos devido às suas crenças religiosas”. O documento fala em milhares de pessoas detidas em condições inimagináveis apenas por causa do delito da fé. “Estima-se que entre 100 mil e 200 mil presos políticos têm sido mantidos em campos de prisioneiros em áreas remotas, alguns deles por motivos religiosos.” 

 

Igreja para turistas

Na capital da Coreia do Norte, Pyongyang, há apenas uma igreja aberta ao público. Funciona como uma espécie de montra para os turistas. Ou de disfarce de normalidade para um regime que instituiu para os seus líderes uma espécie de estatuto de divindade. O Padre Lee até já lá celebrou Missa. O templo fica no bairro de Jangchung. “Havia sempre muitas pessoas sentadas nos bancos, mas não sei dizer se eram católicas, de facto, porque fui rigorosamente proibido de me aproximar e falar com elas”.

 

País sem clero

Com excepção destas raras visitas de sacerdotes, sempre vigiados pelas autoridades, pode dizer-se que a Coreia do Norte é um país – provavelmente o único do mundo – sem clero. Quando se deu a divisão das Coreias, em 1945, Pyongyang era considerada como a Jerusalém do Oriente. Até a mãe do primeiro ditador norte-coreano, Kim il-sung, era originária de uma devota família evangélica. Hoje, depois da expulsão de sacerdotes e religiosas, da prisão de missionários, o regime comunista coreano quase se pode ufanar de ter eliminado a fé cristã. A Igreja Sul-coreana tem desenvolvido, ao longo dos últimos anos, um trabalho de monitorização da situação no vizinho do norte, no que diz respeito aos direitos humanos e, muito concretamente, à prática religiosa.

 

Igreja clandestina?

Num inquérito a norte-coreanos refugiados que vivem actualmente na Coreia do Sul, foi possível averiguar centenas de casos concretos de perseguição religiosa, sendo que 99,7 % dos inquiridos asseguraram que não podiam praticar livremente a sua fé na Coreia do Norte e que, quando alguém proclama publicamente a sua crença ou possui artigos religiosos em casa, “é imediatamente perseguido”. Mas os relatos que têm chegado ao Padre Lee, nomeadamente das idosas que rezam o rosário contando grãos, ou dos rumores da existência de “uma igreja clandestina na fronteira com a China”, acalentam todas as esperanças.

 

Ajuda humanitária

A Coreia do Norte é hoje um país que parece parado no tempo, nos anos cinquenta do século passado. Falta tudo a uma população faminta governada por um poder delirante que ameaça o mundo com o holocausto nuclear. A ajuda humanitária que chega aos norte-coreanos (alimentação, medicamentos, carvão…) através da Igreja da Coreia do Sul – é assim que o Padre Lee consegue visitar Pyongyang - representa mais do que tudo aquilo que é entregue na fronteira para ser depois distribuído ao povo. Esta ajuda, de uma vasta cadeia de solidariedade em que participa a Fundação AIS, representa a certeza de que o povo norte-coreano não está sozinho e que as suas orações são escutadas, mesmo quando apenas ditas em sussurros, ou entoadas nos campos de concentração do regime. Poucos povos precisam tanto da nossa ajuda!

 

Saiba mais em www.fundacao-ais.pt

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