Lisboa |
D. José Policarpo
Um pontificado em testemunhos
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D. José – testemunho

Foi para mim uma graça ter iniciado o meu ministério episcopal no Patriarcado de Lisboa como Auxiliar do Sr. D. José Policarpo. Do muito que, durante cinco anos, com ele vivi e aprendi, destaco a participação em três acontecimentos que muito mexeram com a vida cristã da diocese, em correspondência com as convicções e o carisma do seu pastor.

Foram eles, em primeiro lugar, o Congresso Internacional para a Nova Evangelização, em 2005, e a visita do Papa Bento XVI, em 2010, isto é e respectivamente, no início e no fim da minha passagem por Lisboa. Se o Congresso despertou os cristãos para novos horizontes na transmissão do evangelho, fruto de uma atenta leitura dos sinais dos tempos, a visita do Santo Padre veio reforçar a unidade entre os membros da Igreja, na mesma fé e em comunhão com seu pastor supremo.

Pelo meio, celebrámos o Ano Paulino, com rumos idênticos. Foi S. Paulo quem, no cristianismo nascente, mais contribuiu para a expansão do evangelho de Cristo à escala universal. Simultaneamente e com igual intensidade, tudo fez, até ao martírio, pela unidade interna e externa das comunidades cristãs por ele fundadas e dinamizadas.

Bendito seja Deus que, deste modo e por meio de servidores seus, tão atentos e dedicados, continua a abençoar-nos com tais bênçãos espirituais em Cristo!

 

Anacleto Oliveira, Bispo de Viana do Castelo

 

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Uma Palavra de Reconhecimento

Pede-me o Director deste jornal uma palavra para este número dedicado ao Senhor Patriarca D. José Policarpo no momento em que deixa a responsabilidade Pastoral desta Diocese.

Outra palavra não me ocorre que não seja esta: Reconhecimento!

O reconhecimento exige, antes de mais, manifestar a nossa gratidão a Deus pelo sucessor dos apóstolos que concedeu a esta Igreja Particular na pessoa do Sr. D. José como insigne Mestre, Pontífice e Pastor desde 1998.

Reconhecimento em nome pessoal, pela graça de colaborar de perto com o Sr. D. José ao ser nomeado Bispo Auxiliar de Lisboa em 1978 começando, então, a acompanhar a Região Pastoral do Termo Oriental, a que pertence a Vigararia de Vila Franca de Xira - Azambuja, onde como membro do Presbitério tenho exercido a minha actividade pastoral, até ser designado, em 1997, Bispo Coadjutor de D. António Ribeiro, com direito a sucessão.

Já como Patriarca os meus sentimentos de gratidão não podem esquecer as várias tarefas pastorais que com magnanimidade entendeu confiar-me.

O Senhor D. José deixa-nos o testemunho de uma vida totalmente entregue ao serviço da Igreja na sua Diocese onde nasceu e o recebeu como filho de Deus no Baptismo que depois o chamou ao ministério sacerdotal e episcopal desta Igreja Particular que não deixa de ser uma referência na Igreja em Portugal onde a sua acção não deixou de se notar.

Teólogo apaixonado pela eclesiologia conciliar, pastor atento às transformações da sociedade, e as suas influências na vida do povo de Deus, perfil de intelectual aberto à cultura contemporânea, preocupado em estabelecer diálogo entre a fé e às suas correntes de pensamento, deixa-nos o legado de um magistério exercido com lucidez, resguardado sempre de protagonismos e radicalismos.

Cultivou com “arte” a hermenêutica dos textos conciliares como o caminho seguro e vital para levar a uma sociedade enferma a força renovadora de uma “nova evangelização”, afirmando-se como lúcido “Mestre da Fé” do povo de Deus.

Como “académico” insigne, na sua cátedra de professor e durante vários anos na de Reitor, contribuiu com elevada competência para a afirmação da Universidade Católica Portuguesa no meio cultural e científico deste país.

Acolhamos no nosso coração o seu testemunho de vida e aprendamos com ele em qualquer situação que o Senhor nos chame a viver, a fazer da nossa existência um espaço onde palpite sempre a presença de Deus, proclame a fé e renove o reino de Deus.

 

Cón. João Canilho, Vigário Geral


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Atento aos sinais dos tempos

Falar do Cardeal Policarpo obriga a identificar duas etapas na relação que me tem sido oferecido ter com ele.

A primeira corresponde ao tempo em que D. José foi meu reitor no Seminário: era Bispo Auxiliar de Lisboa e Reitor da UCP, e foi também meu professor de eclesiologia. A marca que guardo desse tempo é a de um homem atento aos ritmos e sinais de Deus no tempo e na Igreja. Os ciclos do reitor que nos apresentava, os momentos à mesa quando estava (que eu escutava mais do que participava) e as aulas em que nos despertava para o pensamento teológico, tinham tanto de profundidade espiritual e de pensamento como de simplicidade de linguagem e sensibilidade à vida da Igreja, das pessoas e comunidades, que me atraíam para a consciência da presença de Cristo na Igreja e no mundo, para o encontro com Ele e o desejo de com Ele me configurar. Mesmo sem uma conversa mais formal, que nesta fase nunca tive com o Cardeal Policarpo, o seu olhar de fé e o seu sentir eclesial deixavam marca em mim e em meus companheiros.

A segunda etapa corresponde à de Patriarca de Lisboa. Aí acentuou-se uma relação afectiva suportada na comunhão do ministério: tanto as cartas, prioridades e iniciativas pastorais propostas à Diocese, como aquelas mais dirigidas aos padres (as duas Assembleias do Presbitério), entusiasmaram e convocaram para o serviço dedicado ao Reino de Deus, numa especial atenção à Missão na Cidade e à evangelização da cultura e da sociedade. Posso ainda testemunhar a sua solicitude pronta e paterna diante das necessidades dos seus sacerdotes, sempre que estas, directamente ou por interposta pessoa, lhes eram feitas chegar. A sua relação com a comunicação social, mesmo à custa de alguns dissabores, sempre foram sinal da consciência de que a Igreja tem necessariamente uma presença relevante na sociedade, à qual não pode subtrair-se sob pena de infidelidade: esta deve viver-se respeitosamente, não numa linha de suspeição ou combate, mas no compromisso empenhado e diário nas instâncias da vida social (família, trabalho, cultura, política, solidariedade).

A entrega a Deus na atenção aos sinais dos tempos foram para o Cardeal Policarpo muito mais que uma tese académica: foram a sua forma de servir e exercer o ministério, na fidelidade ao mistério da Encarnação do Verbo de Deus.

 

Pe. José Miguel Pereira, Reitor do Seminário dos Olivais

 

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Quando a Teologia se faz Pastoral

Devo a D. José, eu que tinha feito, como ele, um curso de teologia dogmática com o apoio de compêndios escolásticos e com um professor que dava as aulas em latim, a descoberta da dimensão pastoral de toda a teologia.

Já era jovem sacerdote, prefeito no Seminário de Almada, quando isso começou a acontecer. D. José tinha sido enviado para a Universidade Gregoriana e quando vinha de férias, tínhamos com ele umas tertúlias teológicas que foram para mim uma verdadeira revelação pelas perspectivas novas que nos abriam e, sobretudo, por uma nova epistemologia que me permitiam traduzir a mensagem numa nova linguagem, capaz de me ajudar a comunicá-la aos seus destinatários naturais a quem me sentia enviado. Mais tarde, já colocado no Seminário dos Olivais para fazer equipa com o D. José, inscrevi-me de novo, agora na Faculdade de Teologia, onde fui aluno do Doutor José Policarpo e aí aprofundei a convicção de que toda a Teologia é Pastoral, já que, na raiz, a Trindade ontológica é simultaneamente Trindade económica.

Isto o devo sobretudo a D. José e esta foi a razão de ser de tantas actividades pastorais que com ele assumi no Centro de Estudos Pastorais, no Plano de Acção Pastoral, no Congresso Internacional para a Nova Evangelização, para apenas mencionar algumas mais relevantes. Só por isto já mereceu a pena ter sido seu discípulo e sentir uma grande gratidão pelo seu magistério.

 

P. Carlos Paes, Deão do Cabido

 

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“Tenho a mania de acreditar até ao fim...”

Pediu-me, o Voz da Verdade, um breve testemunho sobre o cardeal Policarpo, a partir dos muitos anos de cooperação com Sua Eminência, ao serviço da Igreja. Tarefa impensável. O testemunho em papel, fora das Escrituras, não passa de agrilhoar ao tempo e a algum lugar, adensando ou minguando, algum aspeto ou visão particular. Só a vida que nas horas se consome, é inefável testemunho.

Tantos percursos, assistidos ou partilhados, dariam azo a múltiplos ângulos de leitura aberta, sempre aberta. Percursos de anúncio de fé e de cultura: da América à Oceânia, das Europas à Ásia, de África à longínqua Timor. Sem nunca “ter ido aonde não foi preciso ir”. E outros percursos: reformas da cúria, de estruturas de apostolado, de seminários, de conselhos; tantas viagens: pela Diocese, pelas assembleias do clero; pelo ensino, pela comunicação social, pela Conferencia episcopal...; viagens interiores umas, visíveis e invisíveis outras; itinerários tantas vezes de risco, com clareiras de encanto...; a Concordata de 2004, as suas aplicações, o tecido nacional, a cooperação dos povos, o diálogo inter-religioso, o colégio dos Cardeais... Testemunhar o quê? Com que fito? Tentações não faltam para analisar, avaliar, rever, projetar... Se a alma o faz diante de Deus, exposta ao seu olhar misericordioso, não ousamos, porque limitado, senão ofensivo, face ao mistério, onde o homem é servo, aplicar a grelha da avaliação sociológica, para fazer contas e medir resultados. Neste ponto, tudo cai, ações e agentes, naquele silêncio, sem contas, onde é Deus Quem dá o crescimento, ao regado por Apolo e por Paulo plantado (cf. 1Cor 3, 6).

Um homem único. Nele cabem cada coisa e o seu contrário, de onde o sim flui, franco, do crivo da intuição, e se dilui o não, no caldear da espera do tempo favorável. “Sê todo em cada coisa...”, aplica-se-lhe o imperativo do poeta, e, assim o vi agir, “põe quanto és na mínima coisa que fazes” como se cada uma coisa, fosse o único e o tudo, acabado de nascer das suas mãos, por si vivesse e frutificasse.

Cedendo ao capricho do testemunho, fixo o guia de todos os percursos: “a mania de acreditar nas pessoas até ao fim”. Deste modo respondia o Patriarca a quem achava que o senhor x, não podia desempenhar aquele lugar, porque o vira falhar tantas vezes...

 

Álvaro Bizarro, Ecónomo do Patriarcado de Lisboa

 

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Tributo a D. José Policarpo

“A Igreja, pelo seu poder sacramental, tem a força de fazer o que só Jesus pode fazer e ao impor-vos as mãos eu faço aquilo que só Ele pode fazer”. Esta frase, proferida na homilia da minha ordenação sacerdotal, a 1 de Julho de 2012, exprime, muito concretamente, o meu olhar sobre D. José Policarpo. Se mais nada houvesse, a importância de D. José na minha vida impunha-se imediatamente pela sua presença nos momentos mais significativos da minha caminhada vocacional (e sacerdotal). Mas ao longo da minha vida, sobretudo nos sete anos de seminário e nos doze meses de sacerdócio, aprendi a olhar não tanto para a pessoa mas para o ministério, para Aquele que sacramentalmente representa e para o depósito da fé que guarda e nos mantém unidos à fé apostólica. Aprendi uma nova maneira de ser Igreja e de ver a Igreja, que é o ser mistério de comunhão, realidade que vai para além dos gostos ou afinidades pessoais, de simpatias ou antipatias, de maneiras de olhar, e estar, mais próximas ou menos próximas de nós. Não posso esconder que durante algum tempo me habituei a ver em D. José Policarpo um bispo demasiado frio e distante do que eu imaginava ser dever de um bispo, mas à medida que fui avançando no percurso em seminário passei a olhar como um verdadeiro pai, aquele que me educa na fé, me faz mergulhar mais fundo no mistério da Igreja, me mantém unido à fé de Cristo, que é a fé da Igreja, e que na sabedoria das suas palavras me rasga caminhos novos no amor e no conhecimento de Cristo. Hoje, a minha relação com D. José é de filial obediência, patenteada de viva voz e de coração na minha ordenação sacerdotal; amanhã, de filial gratidão. Mas como alguém disse recentemente, ‘ninguém tem pais eméritos’. Por isso, continuará sempre a ser um pai, um patriarca, um sucessor dos apóstolos com quem me manterei unido na oração e na comunhão de vida cristã. E sempre que me lembrar de D. José, imediatamente me deixarei interpelar pelas palavras de S. Paulo a Timóteo: «Exorto-te a que reavives a graça de Deus que está em ti pela imposição das minhas mãos» (2 Tim 1, 6). Obrigado, D. José.

 

Pe. David Palatino

 

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Pormenores de um itinerário

Conhecemo-nos no Seminário dos Olivais, em 1958. Era eu um jovem recém-chegado olhando respeitosamente, a distância, os alunos de Teologia mais adiantados. Um conhecimento mais próximo aconteceu quando me iniciei como catequista na velhinha igreja de Sacavém. Ele ainda não era Dom, mas já revelava muitos dons, nomeadamente o de líder, como responsável da Catequese que nós seminaristas fazíamos à quinta-feira nas redondezas. Depois foram as missas novas na sua terra natal, em Alvorninha – sim, naquele dia, em Agosto de 1961, na mesma igreja houve duas – numa festa grande, em que conheci os seus familiares.

Já padre, professor de moral em Lisboa, do Padre Policarpo, então o responsável do Seminário de Penafirme, retenho só a lembrança de algumas visitas ali feitas no Verão. Porém, houve um episódio que terá tido consequências… uma conferência de um avançado teólogo holandês, na Casa de Retiros da Buraca, que foi destemidamente enfrentado por aquele que viria a ser, anos depois, teólogo de nomeada, Director da Faculdade de Teologia e meu Reitor na UCP. Mas, antes, foi o nosso encontro, em finais de 1969, no antigo Colégio Português em Roma, em que tive o proveito de ser seu “herdeiro” de quarto e de alguns bens úteis, que triste destino tiveram… As suas vindas a Roma, ultimando o doutoramento, enquanto já regressado ao Seminário dos Olivais como Reitor, permitiram-me a passagem de um companheirismo respeitoso a uma amizade admirativa. Foi inesquecível aquela brilhante defesa da sua tese na Gregoriana – sobre os “sinais dos tempos” - e a confraternização que se lhe seguiu num modesto self-service romano. Ainda recordo o filme que vimos de seguida…

No Advento de 1972, naquela que ficou sendo designada por Capela do Rato, houve um ciclo de conferências muito participado, com a presença de vários militares, nas quais se distinguiu o Padre Doutor Policarpo apresentando, com toda a frontalidade, a doutrina conciliar sobre alguns temas então considerados pelo Regime como tabu. Ventos semeados que colheram, pouco tempo depois, aquela “tempestade” que foi o “caso da Capela do Rato”…

Voltámos a um convívio mais frequente, para além do tempo de férias vivido nas Penhas Douradas, quando em 1989, a seu convite, na qualidade de Reitor e já Bispo Auxiliar, regressei ao Seminário dos Olivais para ser formador e seu colaborador directo no Centro de Estudos Pastorais. Muito aprendi com o seu saber teológico aplicado à reflexão e acção pastoral. Foram dez anos ricos de partilha e de iniciativas numa equipa liderada por Dom José Policarpo, quer no Seminário, quer no Secretariado de Acção Pastoral (SAP).

Numa tarde de Fevereiro de 1997, estando no seu quarto de perna estendida, por mor daquela recorrente erisipela, pediu-me para o conduzir à Nunciatura. Quando regressou e entrou no carro silencioso atrevi-me a perguntar: “Senhor Arcebispo Coadjutor para onde deseja ir?”. Riu-se, simplesmente.

Com o este feitio de “respingão” – Dom José dixit – teremos tido alguns desencontros, no entanto, sanados por um espírito eclesial mútuo: nunca deixei de lhe expressar a minha lealdade numa colaboração dedicada, mas frontal. E nunca esquecerei a sua amizade revelada em ter querido presidir, já Bispo Auxiliar, às exéquias de meu pai e de minha mãe.

Ainda duas notas que sempre admirei: uma memória prodigiosa – nunca o vi tomar um apontamento nas reuniões, mas quando necessário tudo se tornava presente, até ao pormenor; e um apurado sentido de humor que nos desconcertava, mesmo em circunstâncias formais…

 

Pe. António Janela, presidente da direção do Instituto Diocesano da Formação Cristã

 

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Dom José Policarpo - uma palavra de agradecimento

Durante mais de meio século, o nosso Cardeal-Patriarca de Lisboa, que agora se retira como Bispo desta Diocese, imprimiu uma profunda marca de Fé e Humanismo na Igreja e na Sociedade Portuguesa.

Pastor com grande força de caráter, distinguiu-se na ação pastoral, no labor intenso em prol do “seu povo de Deus”, na Doutrina e na prática religiosa tantas vezes reconhecidos pelos seus pares. Em 2011, o elogio chegou-lhe do Papa Bento XVI, que quis assinalar o meio século de ordenação sacerdotal de Dom José Policarpo com estas palavras: “Desde o momento em que o nosso antecessor, venerável servo de Deus Paulo VI, te quis bispo auxiliar de Lisboa [1978], agiste com múltiplas forças para que esta comunidade fruísse de benefícios mais abundantes, e depois recebeste-a, primeiro como coadjutor [1997] e mais tarde para a governares de pleno direito [1998], pois o beato João Paulo II julgou-te seres aí mais útil como dispensador das riquezas de Cristo e fiel ministro da Igreja”.

Com o dom da caridade e da generosidade, o nosso Cardeal-Patriarca esteve sempre próximo e muito atento aos mais necessitados e carenciados. Mas soube também ser oportuno a propósito dos vários acontecimentos, mostrando enorme coragem, que nele muito aprecio. É ele, aliás, o protagonista da renovação cultural da própria Igreja Católica no nosso País, conduzindo todos à reflexão, nas suas intervenções e em cerca de cinquenta obras escritas, transportando a Voz da Igreja em Portugal para o século XXI.

Em vários momentos, tive o privilégio de poder conhecer e privar com Dom José Policarpo. Mais recentemente, já nas funções de Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, pude continuar a comprovar a sua clareza de espírito e de Palavra, a lucidez com que pugna contra os individualismos, os egoísmos. Com que soube trazer a esperança, que nos deve unir e mover como Sociedade.

É por tudo isto, e muito mais, que lhe faço o muito merecido elogio e desejo felicidades ao Cardeal-Patriarca de Lisboa, Dom José Policarpo, que agora dá lugar a Dom Manuel Clemente. Retira-se para um merecido descanso, tendo manifestado a sua total disponibilidade para ajudar o seu sucessor, como testemunho da dedicação extraordinária deste homem que uma vez disse: “Serei até ao último minuto o Bispo que Deus deu à sua Igreja, para a conduzir nos caminhos da comunhão”.

 

Pedro Santana Lopes, Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

 

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Acção de Graças

A Equipa de casais de Nossa Senhora que o Senhor D. José Policarpo tem tido a generosidade de orientar ao longo de mais de 40 anos, não pode deixar de tomar parte na homenagem que a Voz da Verdade vem prestar ao Pastor da sua Diocese, herdeira de um enorme legado de disponibilidade na entrega e na dádiva incondicional ao rebanho que o Senhor lhe confiou.

Os seus valores, a abertura de espírito, rigor e serenidade, enfim, as suas qualidades humanas, foram decisivas para nos manterem unidos no percurso das nossas vidas.

Nesta já longa caminhada muito nos ensinou. Com ele aprendemos que, como em todas as peregrinações, mesmo sentados à beira do caminho, Deus não desiste de nós. Fez-nos sentir Igreja, enquanto pertença a uma grande comunidade ao serviço de um projecto divino.

Na vida de cada um há várias etapas a percorrer com a nobreza própria de cristãos, descobrindo o que nos é proposto, tentando a cada momento decifrar a letra de Deus a nosso respeito. Gostaríamos muito de com ele partilhar este novo período da sua vida, pois acreditamos que os tempos futuros vão ser de conciliação de todos os projectos e pedimos que continue a incluir-nos entre os seus companheiros de viagem.

Ainda não chegou a hora de nos instalarmos; há todo um caminho de esperança que liga o tempo à eternidade e que constitui a herança das gerações que se seguem.

Pelo grande privilégio de o termos como amigo, lhe estamos muito reconhecidos e ousamos dizer: Até breve, amigo!

 

A sua,

Equipa de casais

 

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Sr. D. José Policarpo um desafiador!

Embora o contacto mais próximo tenha sido apenas nestes últimos dois anos, gostaria de destacar dois momentos particularmente marcantes na minha vida mais recente. O primeiro ocorreu na cerimónia solene na Universidade Católica em que recebi o meu diploma de Doutoramento. Na alocução de encerramento Sr. D. José deixou-nos mais uma vez emocionados e altamente desafiados quando, dirigindo-se a todos os presentes, partilhou que estava a olhar para nós e a sentir que o futuro da Universidade estava assegurado e por isso sentia o seu papel cumprido aludindo à passagem de Simeão! Ainda hoje fico arrepiado com a sua simplicidade e humildade.

O segundo momento ocorreu quando me convidou para assumir a gestão da Comunidade Vida e Paz! Assustado com tamanha responsabilidade e tão grande desafio, o que pesou no meu sim foi a sua serenidade e confiança que sempre senti quer nas conversas que tivemos antes da minha resposta, quer nas conversas que tivemos posteriormente. Num momento em que procurava discernir o que o Senhor me pediria após o Doutoramento lembro-me de a minha mulher me ter dito: "procuras compreender o que são os desafios de Deus para a tua carreira e o Sr. Patriarca convida-te para esta missão? Então isso não é uma voz de Deus?". Sim esta voz calma mas desafiadora e com visão levou-me a aceitar servir a Igreja e cuidar das pessoas mais necessitadas.

Em resumo o que posso dizer do Sr. D. José é que de facto me marcou a vida sendo a voz de Deus sempre confiante, serena, simples e discreta mas muito interpelante. Atrevo-me ainda a pedir-lhe que nos tenha sempre nas suas orações e nas suas reflexões e que continue a apontar os caminhos.

 

Henrique Joaquim, presidente da direção da Comunidade Vida e Paz


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D. José Policarpo

Começo por confessar aos leitores da Voz da Verdade que não me é fácil escrever um texto de caráter testemunhal sobre o Senhor Cardeal D. José Policarpo, como me foi pedido. Há experiências e vivências que são indizíveis, que fazem parte do nosso património íntimo e pessoal. Contudo, não me poderei furtar a dizer que foi um grande bem, uma graça poder colaborar durante mais de cinco anos como Bispo Auxiliar.

Proveniente da uma Congregação Religiosa, com alguma apreensão perante a missão episcopal no Patriarcado de Lisboa, senti-me acolhido pelo Senhor D. José desde o primeiro encontro, após a minha nomeação episcopal. Depois, fui partilhando a vida e a missão pastoral, aprendendo com a sua humanidade, a sua prudência e sabedoria; o seu testemunho de fé e de amor a Cristo e à Igreja; o seu modo de governar “mais com o Evangelho do que com o báculo, mais com o coração do que com a mitra”, com a sua bondade e misericórdia.

Foi uma graça poder viver e colaborar com um Pastor dotado de sábia ousadia pastoral e teológica, com uma grande sensibilidade cultural e social, e com um coração magnânimo, de grande caridade pastoral, que procurou edificar a Igreja como grande família de Deus, espaço de comunhão, aberta ao mundo e às suas inquietações e problemas.

Foi uma graça poder conviver com um Pastor do Concílio Vaticano II, conhecedor profundo da Gaudium et Spes, do diálogo aberto e respeitador com o mundo e com todos, uma grande testemunha de Cristo e do Evangelho, um verdadeiro e autêntico mestre, pontífice e pastor, com grande inquietação pastoral por comunicar o Evangelho, com audácia e frescura de linguagem, e com grande sensibilidade aos problemas da sociedade e do mundo contemporâneo.

Não me resta senão dar graças a Deus por me ter concedido estar e colaborar ao lado do Senhor D. José durante estes anos. Ele continua connosco e continua a ensinar-nos com o exemplo e o testemunho da sua vida de Pastor e com o seu vasto e rico magistério. Ele continua a amar e a servir a Igreja onde nasceu para a fé, onde foi pastor solícito e dedicado. Continuamos a contar com a sua oração, a sua solicitude pastoral e a sua amizade. Aceite, Senhor D. José, a nossa gratidão, a nossa oração e o nosso afeto fraterno. Deus guarde Vossa Eminência e lhe conceda longos anos de vida.

 

† Joaquim Mendes sdb

Bispo Auxiliar de Lisboa

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