16.06.2013
A uma janela de Roma
“Deus é mais forte do que o mal”
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O Papa pediu aos fiéis para entoarem com ele: “Deus é mais forte do que o mal”. Na semana em que falou do amor misericordioso de Deus, Francisco abdicou de ler um discurso para não ser "demasiado aborrecido" e alertou os futuros diplomatas. Foi ainda revelado o plano de férias do Papa.
1. O Papa voltou a surpreender os fiéis reunidos na Praça de São Pedro, ao pedir para entoarem com ele: “Deus é mais forte do que o mal”. Agradado com o que estava a ver, Francisco pediu à multidão para continuar, sendo correspondido pelos fiéis de forma entusiástica. A frase do Papa surgiu no contexto da sua reflexão na audiência-geral de quarta-feira, dia 12 de junho, durante a qual pediu, também, a quem o ouvia, para rezar por alguém que não gostem. “Vamos tentar algo, hoje. Digam a Deus com quem é que estão zangados e rezem por essa pessoa. Façam-no hoje”, insistiu, afirmando que este é "um primeiro passo em direção ao amor”. Segundo o Papa, a Igreja deve ser um lugar onde “todos podem experimentar a misericórdia de Deus, sentir-se bem acolhidos, amados, perdoados e encorajados”. Francisco disse ainda que “a Igreja é o lugar do Povo de Deus, o povo é que pertence a Deus, não é Deus que lhes pertence”.
O Papa lembrou também que aquele dia era dedicado ao combate ao trabalho infantil, “um problema que cresce, sobretudo em países pobres”. “Todas as crianças têm o direito a brincar, estudar, rezar e crescer no seio das suas famílias, num ambiente de harmonia, amor e serenidade”, sentenciou.
Ainda durante a audiência-geral, o Papa recebeu, de um grupo de motards que está em Roma para festejar os 110 anos da criação da marca Harley Davidson, duas motas desta marca.
2. O amor misericordioso de Deus voltou a ser sublinhado pelo Papa Francisco, no passado Domingo, por ocasião do Angelus. Começando por recordar que “o mês de junho é tradicionalmente dedicado ao Sagrado Coração, máxima expressão do amor divino”, o Papa observou que “o Coração de Jesus é o símbolo por excelência da misericórdia de Deus; mas não é um símbolo imaginário, é um símbolo real, que representa o centro, a fonte de onde brotou a salvação para toda a humanidade”.
Nesta oração, Francisco lembrou também a misericórdia divina: “O Senhor olha-nos sempre com misericórdia, aguarda-nos com misericórdia. Não tenhamos medo de nos aproximarmos d’Ele! Tem um coração misericordioso! Se lhe mostrarmos as nossas feridas interiores, os nossos pecados, Ele sempre nos perdoa. É pura misericórdia!”.
3. O Papa Francisco encontrou-se, no dia 7, com centenas de alunos de colégios jesuítas. Em vez de ler um discurso preparado, o que seria "demasiado aborrecido", Francisco voltou a romper com o protocolo e preferiu uma sessão livre de perguntas e respostas. Questionado sobre a razão pela qual não foi viver para a residência papal, Francisco invocou "razões psiquiátricas". Na afirmação, feita num registo de humor, o Papa explicou que detesta viver sozinho e que gosta de estar no meio da ação. Em resposta a outro assunto, Francisco disse que era o dever de todos os cristãos envolverem-se na política, considerando que esta é uma forma de caridade, uma vez que procura o bem comum. Se atualmente a política é "suja", continuou o Papa, talvez a culpa seja dos cristãos que não fazem o suficiente. "É muito fácil culpar os outros", considerou.
Outra área abordada foi a da educação, um campo em que os jesuítas estão muito envolvidos em todo o mundo. O Papa afirma que tanto professores como pais devem procurar um equilíbrio entre providenciar segurança e empurrar as crianças para fora das suas zonas de conforto. Ir longe de mais em qualquer um dos aspetos é mau, considerou. Francisco voltou a falar da pobreza, um assunto a que tem voltado recorrentemente desde que foi eleito. A pobreza que existe no mundo "é um escândalo", afirmou, questionando como pode ser possível que haja pessoas a quem falta comida e educação quando existem tantos recursos e tanta riqueza no mundo.
4. Ao falar com um grupo de alunos da Academia Eclesiástica, onde se formam os diplomatas do Vaticano, o Papa criticou, uma vez mais, o carreirismo. Recorrendo a palavras fortes, Francisco comparou a busca de sucesso à lepra: “O carreirismo é uma lepra. Por favor, nada de carreirismo!”. Depois, criticou também os diplomatas da Igreja que se deixam envolver pelos caminhos do mundo, desistindo do espiritual. “Quando na Nunciatura há um secretário, um Núncio que não vai pelo caminho da santidade e se deixa envolver em tantas formas e maneiras de mundanidade espiritual, torna-se ridículo, todos se riem dele. Por favor, não sejam ridículos: sejam santos, ou então regressem à diocese e sejam párocos, mas não sejam ridículos na vida diplomática, onde há tanto perigo de se tornarem mundanos na espiritualidade!”, sublinhou o Papa.
5. O Vaticano anunciou que o Papa Francisco não vai deixar Roma durante as férias, como tem sido o hábito dos seus antecessores, que costumam mudar-se para Castel Gandolfo nos meses mais quentes do Verão. Segundo a Sala de Imprensa da Santa Sé, Francisco vai permanecer em Roma, precisamente na Casa de Santa Marta, no entanto o ritmo de trabalho vai sofrer alterações. As missas públicas diárias que o Papa tem celebrado desde que foi eleito vão ser interrompidas a partir de 7 de julho, mas serão retomadas em setembro, e também não haverá as habituais audiências-gerais às quartas-feiras durante o próximo mês, sendo retomadas apenas no dia 7 de agosto. Apesar de o Papa não planear passar muito tempo em Castel Gandolfo, pelo menos a oração do Angelus de dia 14 de julho será feita a partir desse local.
Aura Miguel, à conversa com Diogo Paiva Brandão