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Conferência Vicentina do Bombarral celebra 70 anos
“Há fome, e não há fome, no Bombarral”
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Fundada desde há 70 anos, as Conferências Vicentinas do Bombarral são hoje mais atuais do que nunca. Naquela vila do Oeste os problemas sociais são uma constante, com tendência a aumentar, mas a missão destas conferências de São Vicente de Paulo “não permite que alguém possa morrer vítima da fome”.

 

No próximo dia 21 de junho, as Conferências de São Vicente de Paulo do Bombarral celebram 70 anos de fundação. Um projeto iniciado pelo padre Fernando Diogo e que, segundo o atual presidente, Nuno Ferreira, é “hoje em dia, mais atual do que antes”. Este projeto demonstra “a importância que a Igreja tem de ter na área social”, sem olhar a credos, refere este responsável. “Não fazemos a mínima ideia se os nossos carenciados são católicos ou não”, justifica.

 

A missão

A missão das Conferências de São Vicente de Paulo no Bombarral passa por “apoiar as famílias carenciadas”. Em declarações ao Jornal VOZ DA VERDADE, Nuno Ferreira, que pertence a este movimento desde há onze anos, explica que a atividade das Conferências Vicentinas está centrada, “principalmente”, nos quinze fogos de habitação social que, “embora sejam propriedade da paróquia do Bombarral, são geridos e foram construídos de início pelas Conferências de São Vicente de Paulo”.

A crise que atualmente se vai vivendo, um pouco por toda a parte, tem vindo a fazer aumentar os problemas sociais e, com o alargar da crise, as Conferências Vicentinas desta paróquia estão a alargar a sua atividade tendo chegado, no ano passado, com apoio alimentar, a 127 pessoas.

“Temos um projeto diário de refeições quentes. Temos distribuição de cabazes mensais. Também fazemos candidaturas para apoio a rendas de casa e estamos em negociações com instituições bancárias, que curiosamente foram muito receptivas, para pagamento de dívidas que existiam, como a luz e a água”, refere Nuno Ferreira. “Há outras situações onde gostávamos de poder chegar mas não temos meios humanos para poder responder”, lamenta.

 

Um teto para morar

As Conferências Vicentinas têm no Bombarral e arredores três bairros sociais, totalizando quinzes fogos. As pessoas que habitam nessas casas cedidas pelas Conferências de São Vicente de Paulo “são famílias que estavam em grandes dificuldades”, e dessas há situações que já passam de geração. “São filhos e netos de famílias que em 1955 ocuparam as primeiras habitações”, explica Nuno Ferreira, que foi também catequista na paróquia do Bombarral durante 23 anos. Noutros casos, são pessoas que “foram perdendo os seus empregos e foram perdendo a capacidade de pagar rendas de casa, e vieram pedir ajuda à paróquia. À medida que foi havendo disponibilidade, foram-lhes sendo entregues habitações”, explica o presidente das Conferências Vicentinas do Bombarral. “Neste momento há uma lista de espera muito grande que dava para outros quinze fogos e ainda ficaria gente em espera”, revela.

 

Há fome no Bombarral

Ao nível social, a situação que se vive atualmente na paróquia do Bombarral “é complicada” devido, sobretudo, ao desemprego. “Há muita gente, neste momento, desempregada que não consegue assegurar os compromissos. Há fome e não há fome no Bombarral”, denuncia o presidente das Conferências Vicentinas. “Há fome porque há muitos agregados familiares que não têm, por si próprios, capacidade de se alimentar. Mas não há fome porque a seguir há respostas como o nosso projeto alimentar, a cantina social, o Banco Alimentar e até as redes de solidariedade de vizinhos. Há sempre um prato de sopa! Ninguém vai morrer de fome nos tempos mais próximos”, garante Nuno Ferreira.

 

Desemprego preocupa

A situação que se vive na vila do Bombarral tem-se vindo a agravar. “O Bombarral tem neste momento cerca de 800 desempregados, o que é muito para um concelho com cerca de cinco mil pessoas de mão de obra ativa”, aponta.

Se há dois anos atrás as Conferências Vicentinas apoiavam cerca de sessenta pessoas, o ano passado, só na freguesia do Bombarral, eram apoiadas 127 pessoas, e este ano o número tem vindo a aumentar. “Todas as semanas vão chegando um ou dois pedidos de ajuda e já vamos a caminho das duzentas”, observa Nuno Ferreira, referindo que “a situação tem-se agravado muito”.

 

Falta habitação

O pedido fundamental que é feito, em primeiro lugar, às Conferências Vicentinas é o de habitação. “Toda a gente pede aquilo que é mais difícil de corresponder”, lamenta Nuno Ferreira, explicando que as pessoas ficam sem as suas casas. “Perdem o emprego, ficam sem subsídio de desemprego e o que recebem de Rendimento Social de Inserção, quando o recebem, não chega para pagar as suas despesas. E assim, sem o emprego e sem o rendimento fixo, as pessoas não conseguem subsistir. A situação só não é pior, neste momento, porque há muitos senhorios, principalmente os mais idosos, que estão a arcar com o prejuízo de rendeiros que não pagam. Estes senhorios caiem numa situação de carência económica, mas estão a optar por não colocarem as pessoas na rua”, sublinha.

 

Apoios e angariação de fundos

Para ajudar a responder às situações de carência que vão surgindo, as Conferências Vicentinas no Bombarral vão fazendo candidaturas aos apoios disponibilizados pela Cáritas Diocesana e recebem, por vezes, apoios de entidades civis. “Tivemos agora um subsídio da Junta de Freguesia do Bombarral”, salienta Nuno Ferreira. Outros apoios vêm de outros organismos, sobretudo em termos alimentares, como a Cruz Vermelha, os Rotários, a Santa Casa da Misericórdia de Bombarral. A Câmara Municipal do Bombarral “tem apoiado em termos de mão-de-obra, porque também não tem capacidade económica para nos ajudar”, refere Nuno Ferreira.

Para angariar fundos, as Conferências Vicentinas vão marcando presença mensal no Mercado Rural que se realiza naquela vila do Oeste, “com produtos oferecidos”. Mas os fundos de que dispõe também já começam a não ser suficientes. “Estamos, também nós, a começar a ficar em dificuldade para responder”, revela o presidente das Conferências Vicentinas.

 

O limite da idade

Na paróquia de Bombarral existem duas Conferências Vicentinas: uma que é, atualmente, mista, e que comemora este mês 70 anos de fundação, e da qual fazem parte treze pessoas, na sua maioria senhoras; outra, é uma conferência feminina e com a qual “é sempre possível o diálogo”, aponta Nuno Ferreira.

Segundo este responsável, o problema que se verifica na Conferência Vicentina mista tem a ver com a idade dos seus membros. “Das treze pessoas que a compõem, abaixo dos 60 anos, somos três”, destaca Nuno Ferreira, de 43 anos, frisando que “tem sido bastante difícil captar gente mais nova” para integrar esta missão. No entanto, e apesar das limitações que possam advir da idade dos seus membros, Nuno Ferreira não deixa de elogiar “o empenho e a dedicação” de todos aqueles que fazem parte daquela Conferência Vicentina.

 

Desafios

Ao celebrar os 70 anos, a Conferência Vicentina do Bombarral encontra, agora, alguns desafios, e a aposta nos mais jovens é uma prioridade. “Um dos nossos projetos é tentar criar uma conferência vicentina jovem”, declara Nuno Ferreira, presidente da Conferência desde há três anos, reconhecendo “não saber ainda muito bem como se vai operacionalizar” essa tentativa. “A possibilidade de ter um espaço próprio, para efeito de atendimento das pessoas” é outro objetivo apontado por Nuno Ferreira, salientando que atualmente esse atendimento é feito no seu lugar de trabalho com o conhecimento e aprovação da entidade patronal, a Câmara Municipal do Bombarral, onde é secretário do presidente. Por fim, “o apoio aos idosos que vivem sozinhos e não têm acompanhamento” é outro desafio que este responsável gostava de poder concretizar.

 

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O pároco na génese da Conferência

A Conferência Vicentina do Bombarral foi fundada em data próxima do Natal de 1942. Após o incêndio e destruição da igreja do Bombarral em 1915, como consequência da República, o Bombarral ficou sem padre e sem paróquia, até ao ano 1940. Nessa data, chega o padre Fernando Diogo, que segundo Nuno Ferreira, “foi uma das pessoas mais importantes do século XX no Bombarral”. “Ele trouxe uma grande dinâmica à vila. Construiu a Igreja e dinamizou a paróquia. Agarrou em jovens do Bombarral e foi com eles que reconstruiu esta paróquia. Nessa altura, muitos desses jovens eram do Vale Covo, e por isso o primeiro presidente das Conferências Vicentinas foi o professor primário do Vale Covo”, explica Nuno Ferreira.

Com o início desta Conferência, surgem outras obras na paróquia. “A Cresce, que hoje é o Centro Social Paroquial, foi iniciada pelas Conferências de São Vicente de Paulo”, observa.

texto por Nuno Rosário Fernandes; fotos por NRF e Conf Vicentina do Bombarral
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