Todos os dias alguém é iludido nos seus sonhos. Todos os dias alguma família empobrece ainda mais a sua miséria para que um deles possa imigrar, fazer-se à vida, triunfar. Resgatá-los do sofrimento. Todos os dias se conhece uma nova história miserável de exploração de pessoas. Muitos são jovens. Como é o caso de Pascal, que, dizem, podia muito bem ter sido um Cristiano Ronaldo…
É um jovem como tantos outros. Desde menino que sonha tornar-se jogador de futebol. Se lhe derem uma bola, agarra-a com as mãos, afagando-a, sentindo-lhe a pele. Ajeita-a no chão, recua dois, três passos, pernas afastadas, olha em frente para uma imaginária baliza e dispara um chuto. Tal e qual Cristiano Ronaldo. Tem jeito, ninguém o pode negar. Mas, ao contrário de Ronaldo, um ídolo planetário, dono de uma fortuna de milhões de euros, Pascal – assim se chama este jovem – não joga em nenhum clube. Está desempregado.
Uma bola de trapos
Pascal é nigeriano e cristão. O seu talento para o futebol era conhecido na aldeia onde vivia e, nas redondezas, todos apontavam para ele quando dançava com uma bola de trapos, pés descalços, fintando os amigos e marcando golos. Tal e qual o Ronaldo, diziam. Um manager ouviu falar em Pascal e conseguiu que ele jogasse num clube na Nigéria. Tudo parecia bem encaminhado. Tal como Cristiano Ronaldo, que nasceu pobre na Madeira e que resgatou a família a um futuro difícil, também Pascal começou a sonhar. E o manager ajudou-o nesse sonho: tinha tudo tratado. Um clube turco estava pronto a contratá-lo. Pascal entusiasmou-se e em casa todos se entusiasmaram com ele.
4 mil dólares
Havia, porém, uma dificuldade. Para conseguir que o clube, o Izmir, o contratasse, era preciso algum dinheiro. Melhor, era preciso muito dinheiro. Mas o que são 4 mil dólares para quem ia começar uma carreira de sucesso? O que são hoje 4 mil dólares para Ronaldo? Toda a família se uniu e, num esforço tremendo, juntou as economias de uma vida, empenhou os parcos haveres e conseguiu o dinheiro. Pascal despediu-se de todos e não escondeu as lágrimas da emoção. Ao contrário da esmagadora maioria dos amigos e dos outros jovens da Nigéria, ia ter um futuro, ia sair da pobreza, da miséria.
A vida num inferno
Mal chegou à Turquia percebeu, porém, que tudo não passava de um logro. O manager telefonou e disse-lhe que o clube, o Izmir, já não estava interessado nele. Até ameaçou que, se regressasse à Nigéria, iria transformar a sua vida num inferno. Mas, mesmo que quisesse, Pascal não podia regressar. Faltava-lhe dinheiro e coragem para enfrentar a família. Por sua causa, todos empobreceram. Agora só lhe restava uma saída digna. Procurar algum trabalho.
Um dia, quando deambulava pelas ruas de Istambul, travou conhecimento com um turco que se sensibilizou com a sua história e se prontificou a ajudá-lo. E foi assim, por ter sido vítima de um logro, perdido em Istambul, desesperado, que Pascal conheceu o padre Julius Ohnele, também ele oriundo da Nigéria.
O isco do futebol
Uma das missões deste sacerdote é, precisamente, ajudar os jovens que caem nas redes de imigração clandestina, que são vítimas de extorsão e de ameaças. Que ficam perdidos, incapazes de se libertarem das malhas em que estão presos, mais pobres e fragilizados do que nunca. “O futebol é o isco”, diz este padre. “São tantos os jovens que caem nestes esquemas que já organizo entre eles um campeonato, para que eles possam ir treinando, mantendo-se em boa forma física e possam manter vivo o sonho de se profissionalizarem.” O padre chega a convidar dirigentes de alguns clubes para assistirem aos jogos que organiza, como se fossem uma montra de talentos. Às vezes resulta. Às vezes, não. O padre Julius, um dos responsáveis pelo apoio aos imigrantes católicos na Turquia, não tem mãos a medir.
A missão do padre Julius
Como Pascal, há histórias terríveis de jovens oriundos da Somália, Eritreia, Congo. Para ficarem no país, na Turquia, precisam de obter uma autorização de residência, que pode custar entre mil a três mil euros. Além disso, são olhados com desconfiança num país onde 99% da população é muçulmana. O padre Julius pouco pode fazer. Mas as suas orações mantêm unida esta comunidade de imigrantes enganados nos seus sonhos. Muitos estão desesperados. “Preferem morrer de fome e serem humilhados no dia-a-dia, nos parcos trabalhos que conseguem, do que regressarem de mãos vazias, fracassados, perante a família que tanto se hipotecou por eles”, diz o padre. “Todos sofrem muito, alguns acabam na prisão, são raros os que têm sucesso.” A comunidade católica é talvez o único lugar onde estes africanos da diáspora se sentem em casa. O padre Julius é tudo o que eles têm, é o seu porto de abrigo. O padre Julius precisa da nossa ajuda para continuar a sua missão. Pascal ainda acredita, mas a cada dia que passa o sonho está mais longe…
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