Um homem de fé, com visão, muito lúcido na análise dos problemas e de diálogo. É desta forma que o cónego Luís Alberto define o amigo D. Manuel Clemente, nomeado Patriarca de Lisboa.

 

“D. Manuel é um homem que se situa na vida só com um olhar, que é o da fé! Isso significa estar disponível, sempre, até ao fim, para dizer ‘Sim’ a tudo aquilo que a Igreja lhe pedir e que ele perceba que é vontade de Deus!”. O cónego Luís Alberto conhece o novo Patriarca de Lisboa há 40 anos. Numa palavra, define D. Manuel como “amigo”. “Dizendo de outra maneira, é uma referência de fé, de verdade, de proximidade, com uma capacidade de trabalho impressionante e uma atenção e delicadeza no trato”, aponta este sacerdote ao Jornal VOZ DA VERDADE. “Tem uma atenção aos pormenores, que é impressionante: a escrever, a comunicar, não há uma mensagem que fique sem resposta. Há nele muita disciplina, mas há também muita santidade, muito caminho feito”.

 

Uma referência

A amizade com o novo Patriarca de Lisboa vem dos tempos de seminário. “Conheço D. Manuel desde 1973, quando passámos a fazer parte do mesmo curso. Tem sido alguém muito importante para mim, ao longo da minha vida, no meu discernimento no seminário e como padre”. De então para cá, os dois sacerdotes mantiveram uma relação “sempre muito próxima”. “Somos um curso que reúne sempre três vezes por ano! Temos datas que procuramos que sejam fixas para não nos enganarmos! Depois, desde há 15 anos que temos feito também uma semana de férias no Verão, juntos!”, aponta. “São momentos de descontração, mas onde falamos muito das questões da Igreja, daquilo que nos preocupa e das experiências que vamos fazendo”.

Durante todo o curso, refere o cónego Luís Alberto, D. Manuel Clemente foi sempre uma referência. Entre os colegas, era costume brincar-se que o novo Patriarca de Lisboa iria ter uma carreira eclesiástica de notoriedade. “D. Manuel tinha mais cinco anos do que a maioria de nós – já tinha feito inclusive o curso de História – e portanto acaba por ser, dentro do próprio curso, uma referência! Alguém que ao mesmo tempo é um de nós mas que, desde cedo, vaticinámos que haveria de ser reitor do Seminário dos Olivais, Bispo Auxiliar e, porventura, Patriarca de Lisboa! Brincávamos um pouco com ele, sobretudo no início, e parece que veio a dar certo!”, recorda este sacerdote, que é hoje pároco de Nossa Senhora de Fátima, em Lisboa, e diretor espiritual do Seminário dos Olivais.

 

Alegria pessoal e pela Igreja

Foi “com alegria” que o cónego Luís Alberto recebeu a notícia da nomeação de D. Manuel Clemente para Patriarca de Lisboa, na manhã do passado sábado, 18 de maio. Alegria e também uma certa estranheza. “O Cardeal Ribeiro foi o Patriarca de grande parte do meu ministério, foi quem me ordenou e me acompanhou durante o discernimento vocacional. A transição para D. José Policarpo foi muito boa para mim, porque foi meu reitor no Seminário Menor, em Penafirme, e vi-o sempre muito próximo, com muita amizade. Um e outro sempre foram o ‘Senhor Patriarca’ e sempre vi o Patriarca como alguém mais velho! A estranheza relativamente ao D. Manuel passa por aqui… como é que vou ‘dobrar a língua’ em ambientes intermédios, que não sejam nem formais, nem em privado?”, questiona, em tom de brincadeira, o cónego Luís Alberto. A “alegria pessoal” pela escolha do Papa Francisco para a Diocese de Lisboa é extensiva, também, à “alegria pela Igreja”. “Acredito que a Igreja de Lisboa pode esperar aquilo que ela já sabe: pode esperar um homem de fé, com visão, muito lúcido na análise dos problemas, de diálogo e que tem uma imagem – que não é só imagem, mas uma realidade – de grande aceitação junto do meio não eclesial. É um homem de cultura! A Igreja de Lisboa conhece muito bem o D. Manuel, na sua humildade mas com a marca do testemunho da fé”.

O cónego Luís Alberto diz que não teve ainda oportunidade de falar com o novo Patriarca de Lisboa. Contudo, já fez chegar a D. Manuel Clemente uma pequena nota mostrando a sua alegria. “Enviei-lhe apenas uma mensagem, que dizia: ‘Parabéns? Parabéns! Quando a graça de Deus ganha, estamos todos de parabéns’”.

 

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“A sua escolha para dirigir o Patriarcado de Lisboa representa, estou certo, o reconhecimento do percurso do servidor da Igreja e do académico ilustre, do homem de cultura e do cidadão exemplar. A sociedade portuguesa, que tão bem conhece, recorda as suas intervenções lúcidas, moderadas, bem como o profundo sentido social e humanista da sua ação, atributos tão relevantes no momento de grande exigência que o país atravessa.”

Presidente da República, Cavaco Silva

 

“A Presidente da AR manifesta o seu contentamento com a nomeação do bispo do Porto, D. Manuel Clemente, como patriarca de Lisboa. A nomeação de D. Manuel Clemente é o sinal de uma crescente proximidade da Igreja com os domínios concretos da vida, de certo modo, no caminho da mensagem do Papa Francisco. Pois que todo o testemunho de D. Manuel Clemente é o testemunho da religião que se identifica, como ideal e como prática, com o sentido de uma suprema humanidade.”

Mensagem da presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves

 

“D. Manuel Clemente é reconhecidamente um homem de fé, cultura e sensibilidade social. Profundo conhecedor da história da Igreja portuguesa é, simultaneamente, um inspirado intérprete do tempo presente. Para a sociedade portuguesa, independentemente da atitude perante a fé, D. Manuel é uma voz presente e atuante - tanto sobre as grandes questões do nosso tempo como sobre cada um dos problemas dos nossos dias."

Comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros

 

“Quero desejar-lhe as maiores felicidades nas novas funções e aproveitar para cumprimentar, saudar e agradecer todo o trabalho e mérito que foi desenvolvido pelo anterior Patriarca D. José Policarpo, que foi uma figura marcante e deixou marcas profundas na cidade de Lisboa e no acompanhamento das suas populações. D. Manuel Clemente, por todo o seu percurso, desempenhará muito bem as funções para que foi agora investido.”

Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa

 

“[D. Manuel Clemente] é um homem com profundas raízes na diocese que lhe cabe servir. Será, portanto, uma transição natural, de quem conhece a casa da Diocese de Lisboa e tem uma relação de estima com o seu predecessor. [Ser patriarca] é ser também o bispo da capital de Portugal, com tudo o que isso implica de contactos e relações a nível da sociedade civil e do governo da nação.”

Porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, padre Manuel Morujão

 

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Perfil do 17º Patriarca de Lisboa

D. Manuel José Macário do Nascimento Clemente nasceu a 16 de julho de 1948, em São Pedro e São Tiago, Concelho de Torres Vedras, Lisboa. Formado em História, ingressou no Seminário Maior dos Olivais em 1973, tendo-se licenciado, em 1979, em Teologia, pela Universidade Católica Portuguesa, doutorando-se em Teologia Histórica em 1992.

Ordenado sacerdote a 29 de junho de 1979, o novo Patriarca de Lisboa foi coadjutor das paróquias de Torres Vedras e Runa, em 1980, e membro da Equipa Formadora do Seminário Maior dos Olivais, entre 1980 e 1989. Nesse mesmo ano, foi nomeado vice-reitor do Seminário Maior dos Olivais, até 1997, data em que se tornou reitor. A 6 de novembro de 1999, então com 51 anos, é nomeado Bispo Titular de Pinhel e Auxiliar do Patriarcado de Lisboa, cuja Ordenação Episcopal aconteceu a 22 de janeiro de 2000. Nomeado Bispo do Porto em 2007, foi presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais entre 2005 e 2011, ano em que foi eleito vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa e membro do Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais. Tem publicados diversos livros e estudos sobre História, Teologia e Pastoral e colabora habitualmente nos programas ‘Ecclesia’ (RTP2) e o ‘Dia do Senhor’, da Rádio Renascença. Recebeu a Grã-Cruz da Ordem de Cristo, o Prémio Pessoa 2009 e foi agraciado com a Medalha Municipal de Honra da Cidade do Porto, em 25 de abril de 2011.

O Papa Francisco nomeou D. Manuel Clemente como novo Patriarca de Lisboa. A nomeação foi tornada pública na manhã do dia 18 de maio, pela Sala de Imprensa da Santa Sé. D. Manuel Clemente, de 64 anos, sucede a D. José Policarpo, tornando-se, assim, no 17º Patriarca de Lisboa.

 

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“Todos juntos seremos o Corpo eclesial de Cristo”

No dia em que foi nomeado Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente enviou uma saudação aos “caríssimos diocesanos do Patriarcado de Lisboa”, assegurando a unidade. “Todos juntos, na complementaridade dos carismas e ministérios que o Espírito distribui, seremos o Corpo eclesial de Cristo”. A nota recorda também D. José Policarpo, seu antecessor. “A ele dirijo neste momento palavras sentidas de muita gratidão e estima, sabendo que posso contar com a sua sabedoria e experiência”.

Lembrando também as “populações que, de Lisboa a Alcobaça e do Ribatejo ao Atlântico, integram o Patriarcado de Lisboa”, D. Manuel Clemente garante: “Da minha parte, contareis com tudo o que puder, n’ Aquele que nos dá força (cf. Fl 4, 13)”. 

 

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D. Manuel Clemente pede políticos “solidários e pedagógicos”

O novo Patriarca de Lisboa pediu aos decisores políticos que para serem, “ao mesmo tempo, solidários e pedagógicos” no combate à crise. Numa conferência de imprensa realizada no dia seguinte à nomeação, o ainda Bispo do Porto sublinhou que “as pessoas mantêm uma grande responsabilidade para construir um futuro e os poderes devem responder com solidariedade, pedagogia e muita clareza”. Porque, referiu, as mensagens são por vezes tão contraditórias que “ficamos todos atordoados e desistimos de perceber”.

 

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“Continuaremos juntos, no coração de Deus”

Numa mensagem de despedida à Diocese do Porto, D. Manuel Clemente agradece “do coração toda a estima e proximidade” ao longo destes seis anos. “Levarei comigo e em ação de graças as mil e uma expressões da amizade com que me recebestes e ajudastes no exercício do ministério”. Nesta nota, o novo Patriarca revela ainda que a sua entrada no Patriarcado será a 7 de julho. “O coração não tem distância, só profundidade acrescida. Aqui ou além, continuaremos juntos, no coração de Deus”, assegura.

Numa mensagem de agradecimento, os Bispos Auxiliares, Vigários Gerais e Chanceler da Diocese do Porto garantem que, com a nomeação de D. Manuel Clemente para Patriarca de Lisboa, a “Igreja do Porto vê partir um dos seus Bispos mais notáveis”.