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Sudão do Sul: a aldeia da paz do Bispo Paride Taban
O antídoto da violência
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Primeiro, foi o inferno. Durante décadas, no Sudão, não havia esperança para ninguém. A guerra fratricida deixou um rasto de violência, de horror e de morte. Em 2005 foi assinado um acordo de paz, que iria conduzir a um referendo e à divisão do país. O referendo trouxe uma enorme esperança e inspirou um bispo a criar uma aldeia onde todos pudessem aprender a viver em comunidade. Tinha tudo para falhar…

 

O bispo queria apenas juntar pessoas numa mesma aldeia. Quando todos olhavam em volta, ainda toldados pelo ódio, pela violência, viam apenas inimigos. Ele, o bispo, via pessoas. Apenas. E percebia que estavam todos irremediavelmente abandonados. Havia uma enorme solidão por ali, por causa da guerra. Da guerra civil que, durante duas décadas, deixou um rasto de mais de 2 milhões de mortos, que enlutou todas as famílias como se fosse uma cicatriz, uma marca que não se apaga mais do corpo e não se esquece mais da memória.

 

Famílias perdidas

Quando olhava em volta, o Bispo Paride Taban via famílias perdidas, destroçadas, crianças sem futuro, gente sem rumo. Imaginar uma aldeia onde todos pudessem viver em comunidade, independentemente das origens e da religião, era arriscado. Quase tão arriscado como juntar dois antigos inimigos na mesma casa. Mas o projecto, que tinha tudo para falhar, correu bem. A aldeia tornou-se num sucesso e hoje é exemplo de progresso. Ali nada é imposto. Todos são chamados a contribuir para a vida colectiva.

 

Casa grande

A aldeia é a casa grande onde todos se albergam apesar das diferenças. Mas todos aprenderam por ali que têm mais em comum do que as divergências que alimentaram anos de guerra. A aldeia, a que o Bispo Taban chamou de Santa Trindade Pacífica, no estado de Kuron, é hoje um oásis de desenvolvimento. Ali, as crianças vão à escola, há um centro de saúde, fazem-se campanhas de vacinação, desenvolveram-se técnicas agrícolas, os terrenos foram irrigados, diversificaram-se as culturas. Mas, mais importante do que tudo isso, na aldeia aprendeu-se a respeitar o outro.

 

Lembrar Darfur

Hoje, é raro ainda o dia em que as agências de notícias não publicam alguma história de violência na região. Especialmente a zona fronteiriça entre o Sudão e o Sudão do Sul continua muito instável, com a actuação de grupos rebeldes que procuram desestabilizar os acordos de paz.

É claro que a região, particularmente rica em recursos naturais, como o petróleo, alimenta sonhos de conquista que são, muitas vezes, disfarçados sob fardas militares de bandos cuja ideologia é apenas a do saque, da pilhagem. As populações, como sempre, sofrem. Vivem mutiladas da esperança numa vida apenas normal. É o que todos sonham: uma vida apenas normal. Um pouco a norte, na parte ocidental do Sudão, o Darfur continua a ser sinónimo de pesadelo, fome, doenças. De tragédia.

 

À procura da paz
Em Março, as Nações Unidas entregaram ao Bispo emérito do Sudão do Sul, D. Paride Taban, o prémio Sérgio Vieira de Mello por ter promovido o diálogo e a reconciliação entre tribos e facções e por ter promovido um projecto de convivência harmoniosa: a aldeia de Santa Trindade Pacífica.
No seu discurso de agradecimento, D. Taban, de 76 anos, cujo projecto é apoiado pela Fundação AIS, disse que a sua vida tem sido “uma caminhada de muitos anos à procura da paz”. Às vezes, os maiores monumentos são apenas lugares que mal se vislumbram no mapa. É o caso da aldeia de Santa Trindade Pacífica, no Sudão do Sul, onde católicos, evangélicos e muçulmanos vivem em paz. Afinal, há sempre um antídoto da violência.

 

Saiba mais em www.fundacao-ais.pt

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