Domingo |
À procura da Palavra
A “esmola” de escutar

DOMINGO II DA QUARESMA Ano C

“Este é o meu Filho, o meu Eleito:

Escutai-O.”

Lc 9, 35

 

No alto do Tabor (que tem uma vista deslumbrante sobre os campos da Galileia) o que mais me impressiona não é a espectacularidade da experiência que os discípulos fazem. Não são as vestes luminosas de Jesus, nem Moisés e Elias a conversar com Ele, nem o encanto e a delícia de acampar ali e esquecer a vida dura e sofredora de cá de baixo. Impressiona-me o pedido simples e aparentemente insignificante da voz do Pai: “Escutai-O”. Como se nos pudéssemos deixar de escutar as suas palavras de vida eterna, as parábolas que “mordem” na vida, os discursos que nos fazem pensar! Mas a verdade é que o Pai sabe como até deixamos de escutar! 

O exercício de escutar não é tão simples como parece. É verdade que passámos os últimos dos nove meses de gestação já a escutar (segundo dizem os pediatras!) e os primeiros tempos de vida os nossos ouvidos foram grandes parabólicas dirigidas a todos os sons e mensagens. Depois crescemos e fomos seleccionando melhor o que queríamos ouvir, às vezes caindo no erro de só ouvir o que agrada, ou de gostarmos muito de nos ouvir a nós próprios. Ouvir o outro em profundidade, com os ouvidos mas também com os olhos (quantas coisas se dizem sem palavras!), ouvir acolhendo e realizando o milagre de recolher as suas luzes e sombras, sem julgar nem preparar respostas, é bem difícil. Chamamos diálogo ao movimento de palavra e de escuta que une as pessoas, mesmo quando as ideias são diferentes. E tantos amores se gastam, tantos preconceitos matam, tantos fanatismos proliferam, tantas oportunidades de felicidade se desvanecem, por falta de verdadeira escuta.     

É verdade que escutar é uma arte que se desenvolve. Não posso esquecer o privilégio de ter contactado com os religiosos Camilianos (de Espanha) e de ter conhecido a metodologia dos seus “Centros de Escucha”, iniciados em Madrid e agora já em oito cidades espanholas. Mas quanto desse saber pode ser praticado por cada um nos nossos encontros quotidianos! Porque são tantos os que pedem a pequena esmola de um tempo de escuta! Não precisam de respostas, não precisam de explicações, precisam de ser ouvidos. E se tudo o que é exterior, as notícias da crise e os últimos escândalos, as novelas e o “diz que diz-se” são mais importantes que os sentimentos e pensamentos daqueles que dizemos amar, não custa adivinhar como a solidão vai crescendo.

O pedido do Pai para escutarmos Jesus implica o modo, a qualidade e o tempo de também nos escutarmos uns aos outros. De sermos mais igreja que escuta e acolhe, do que prega e dá respostas feitas. De amar a verdade do que pensamos e sentimos. De despirmos falsos moralismos e presunções ocas que impedem o encontro feliz das pessoas e de Deus. O que Deus gostaria de mudar se nos escutássemos melhor?

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