Mundo |
Cazaquistão: a história de fidelidade do Padre Waclaw
“A primeira Missa foi incrível!”
<<
1/
>>
Imagem

É alto, magro, bastante magro. E simples. Muito simples. A história do Padre Waclaw Poplawski é um hino à resistência, uma fonte de inspiração. Nasceu no Cazaquistão, mas, na verdade, é polaco. Os pais foram deportados para ali em 1936, quando Estaline governava a União Soviética com mão de ferro e sonhava tornar-se dono do mundo.

 

O Cazaquistão era uma espécie de arrecadação do império soviético. Todos os que Estaline e o regime consideravam suspeitos, perigosos, todos os que ousavam ter uma fé que não fosse no partido comunista, eram encaminhados para enormes campos de concentração onde teriam de renunciar a si próprios. Foi assim com os pais de Waclaw Poplawski. Foi assim que este homem de sangue polaco acabou por nascer no Cazaquistão. Prisioneiro. Cresceu num país imenso – quase 2,7 milhões de km2 – pobre, privado de liberdade, acostumado ao frio, ao vento, à ausência de qualquer tipo de conforto. Comia-se apenas o que havia nas hortas. Nem mais, nem menos. Era ainda assim na casa de Poplawski, já adulto. Quando recorda esses anos, agora, lembra-se de que faltava quase tudo, que havia o sentimento generalizado de que o Cazaquistão era apenas uma espécie de depósito de pessoas, de exilados forçados, de famílias em degredo.

 

Fé invisível

Até os raros padres que por ali apareciam não escondiam esse sentimento. Eram vigiados constantemente, sabiam que a sua liberdade seria apenas uma questão de tempo. O regime sabia tudo, via tudo, escutava tudo. E foi assim, aos poucos, que Waclaw começou a imaginar-se sacerdote. Na resistência. Os poucos padres que visitavam a aldeia falavam-lhe de Deus e da necessidade de apoiar espiritualmente os que por ali viviam. Para ele, não havia problema: Deus era património de família. Tinha vindo num vagão de gado, desde a Polónia, com centenas de outros deportados, com os seus pais. Estaline julgava que prendia a consciência de um povo mas nenhuma polícia política poderia, alguma vez, escutar os murmúrios dos corações daqueles prisioneiros. E a fé cresceu ainda mais forte, mas invisível aos olhos humanos.

 

Espiões do Vaticano

Mas para se ser padre, na União Soviética, naqueles tempos, era preciso de uma autorização superior. Não de Deus, claro, mas do partido comunista. Quando Waclaw Poplawski fez o pedido, preencheu os papéis, respondeu aos formulários, a resposta veio carimbada a vermelho, a cor do sangue: “Não!” Moscovo olhava para os padres como “espiões do Vaticano”. Já bastava os que existiam. E deixaram uma ameaça ao jovem candidato ao sacerdócio: “sabes o que acontece sempre que alguém é condenado por espionagem? São, pelo menos, 10 a 15 anos de prisão. E o Vaticano é o nosso maior inimigo”.
Waclaw sabia bem o que era a prisão. Os pais disseram-lho, palavra por palavra, descrevendo os dias de horror, a humilhação que viveram. A ignomínia. Mas a sua convicção era superior ao medo. E nunca desistiu.

 

A primeira Missa

Quando o império soviético sucumbiu, abriram-se as portas de muitos seminários. Waclaw tinha 53 anos quando, não escondendo os nervos, foi acolhido como o mais novo seminarista, sendo o mais velho estudante de todos. Em 1998 celebrou a sua primeira Missa. Hoje, quando fala do passado, os seus olhos ficam cinzentos, tristes. Mas quando fala do futuro, o rosto alegra-se. Deus levou-o até ali, onde está agora, no Cazaquistão, para ser testemunha de uma Igreja que sofre mas que é sinal de esperança. Nas suas veias corre sangue polaco, recorda uma viagem de comboio com deportados, uma vida em campos de concentração, o medo, a pobreza, a humilhação. Mas também a esperança. “Celebrei a minha primeira Santa Missa com o meu povo. Foi em Abril. Foi absolutamente incrível!”

 

Saiba mais em www.fundacao-ais.pt

Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
A OPINIÃO DE
Guilherme d'Oliveira Martins
A Santa Sé acaba de divulgar o tema da mensagem do Papa Leão XIV para o Dia Mundial da Paz de 2026....
ver [+]

Tony Neves
Domingo é o Dia Mundial das Missões. Há 99 anos, decorria o ano 1926, o Papa Pio XI instituiu o Dia Mundial...
ver [+]

Pedro Vaz Patto
No âmbito das celebrações do ano jubilar no Patriarcado de Lisboa, catorze organizações católicas (Ação...
ver [+]

Tony Neves
Há notícias que nos entram pelo coração adentro deixando-nos um misto de sentimentos. A nomeação do P.
ver [+]

Visite a página online
do Patriarcado de Lisboa
EDIÇÕES ANTERIORES