Alice Vieira nasceu a 20 de Março de 1943. Tendo passado a infância e adolescência saltando entre tios-avós, madrinhas, primas, tudo gente mais velha, em casas de corredores enormes, podia mexer em todos os livros que havia. Assim, em contato com os livros desde tenra idade, aprendeu a ler e escrever sozinha.
Foi nos livros que encontrou os amigos que não tinha e, muito cedo, neles aprendeu que só com trabalho se consegue o que se quer. As tias, que ajudaram a criá-la, não a deixaram ir à escola, mas quando chegou aos 10 anos teimou, teimou, e lá permitiram que fosse para o liceu. Em 1953 entrou para o liceu Filipa de Lencastre, e lá passou os melhores 7 anos da sua vida. Hoje, a sua antiga sala de aula tem o seu nome, que é uma das coisas de que se orgulha muito. Os primeiros passos como jornalista e a ida para Paris Apesar de não ter o aval das tias, Alice quis desde sempre ser jornalista. Tinha 14 anos quando comecou a enviar textos para um suplemento juvenil que havia no “Diário de Lisboa”. Alguns eram publicados, outros recusados, mas sempre com uma explicação de quem dirigia o suplemento, o jornalista Mário Castrim. Um dia, um poema seu foi publicado no próprio corpo do jornal, integrado numa grande reportagem sobre Lisboa. “Nem queria acreditar”, conta-nos. E, por isso, acabaram por chamá-la para trabalhar no jornal, em 1961. Entrou para o jornalismo na mesma altura em que entrou para a Faculdade de Letras. Não porque quisesse ser professora (nunca o foi) mas para acalmar as tias. “Nessa altura nem se sonhava que um dia iria haver cursos de jornalismo! Aprendíamos ali no duro, e com os mais velhos, jornalistas e tipógrafos. Com a entrada na Faculdade, comecou a trabalhar no CASU (Centro de Ação Social Universitário) como aconteceu com muitos outros colegas. “Lembro-me do choque de ver as crianças na miséria dos bairros de lata, e a descoberta de uma realidade bem diferente do que a que tinha à minha volta,”conta-nos. Em 1965, depois de terminar a licenciatura, zangou-se consigo própria, com o país e com a família e foi ter com a tia Maria Lamas, também jornalista, a Paris. “Acho que essa foi a minha verdadeira universidade, por tudo o que aprendi e pelas pessoas que conheci”. No regresso a Portugal encontra o seu grande amor Em 1968 regressou a Portugal, para uma vida diferente, ao lado do homem com quem viveu quase 40 anos e que foi, como diz, a pessoa que mais peso teve na sua vida : o jornalista Mário Castrim, que Alice conhecia desde a sua adolescência. Ela tinha 25 anos, ele estava à beira dos 50. “Foi paixão até ao dia em que ele morreu, há 10 anos.” “O Mário - conta-nos - conseguia essa coisa extraordinária, e que poucos eram capazes de entender, de ser comunista e católico.” A primeira prenda que deu a Alice foi uma Bíblia. “Sempre que precisares, abre-a ‘ao calhas’, e encontrarás sempre o que precisas” - disse-lhe um dia. É um precioso ensinamento que segue até hoje. Em 1969 nasceu a sua filha Catarina; em 1970 o seu filho Andé. Entretanto, tinha começado uma nova vida profissional. A juntar ao jornalismo, começou nesta altura a escrever livros para crianças, tendo ganho inclusivamente, em 1979, o “Prémio do Ano Internacional da Criança”, com o romance juvenil “Rosa, Minha Irmã Rosa”. A Audácia dos Missionários Combonianos e os projetos solidários Por essa altura o Mário trabalhava na revista “Audácia”, dos Missionários Combonianos, foi através dele que os conheceu. Depois da morte do Mário, em 2002, ocupou o seu lugar na revista. A Casa da Calçada tem sido desde então o seu porto de abrigo, “é uma lição de vida e de fé seguir os percursos de muitos dos missionários combonianos, no Tchad, no Darfur, na Namíbia, nas Filipinas. Nunca esquecerei a viagem que fizemos todos a Roma (com passagem por Assis, um lugar que me tocou muito fundo), em Outubro de 2003, para as cerimónias da canonização de Daniel Comboni.” Há cerca de 5 anos aceitou o desafio de escrever textos para os manuais de Educação Moral e Religiosa de todo o primeiro ciclo. Apesar de ter coincidido com um período em que esteve doente, Alice considera o trabalho como uma maneira de lutar contra as doenças. O trabalho e a presença dos amigos: “tenho o meu grupo “puro e duro” que me acompanha sempre, e a presença inspiradora do Padre Tolentino Mendonça, grande poeta e meu amigo de há muitos anos, que sabe sempre as palavras de que preciso, e que me deu a conhecer as Monjas Dominicanas do Convento do Lumiar (“aquela espantosa Irmã Maria Domingos!”). Foi há sete anos que conheceu a FEC – Fundação Fé e Cooperação, através da primeira edição dos “Presentes Solidários”, a que aderiu imediatamente. Em 2010 aceitou o convite para ser uma das madrinhas do projeto. Um marco para o resto da vida Um acontecimento que há-de acompanhar Alice para o resto da vida foi o convite para integrar o grupo de 10 pessoas que foram cumprimentar o Papa Bento XVI, no seu encontro com intelectuais no CCB, em Maio de 2010. “Só me lembro de atender o telefone e ouvir a voz de D. Carlos Azevedo e fazer-me o convite e eu a repetir “mas porquê eu?, mas porquê eu?”. Atualmente, e para o bem de quem aprecia ler, continua a escrever, tendo publicado no passado Natal o livro “Histórias da Bíblia” contadas às crianças, a que se irá seguir um segundo livro, continua a ir às escolas, a trabalhar na “Audácia” e noutros projetos solidários que vão aparecendo, e a tentar ter um pouco mais de tempo para os seus 4 netos.![]() |
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