O Cardeal-Patriarca de Lisboa considera que a caridade nas paróquias não se deve esgotar nos centros sociais paroquiais e convida as comunidades cristãs a organizarem experiências de vizinhança. Num encontro com as direções dos centros sociais paroquiais da Vigararia de Caldas da Rainha – Peniche, D. José Policarpo pediu a estas instituições para não perderem a frescura da caridade.
No entender do Cardeal-Patriarca de Lisboa, todos os centros sociais paroquiais enfrentam nos dias de hoje um desafio muito particular: “Em que medida é que a estrutura organizativa – com todas as técnicas e a ligação ao Estado – não ‘mata’ a frescura da caridade?”. Lembrando que “algumas instituições não mantêm a frescura do testemunho cristão, apesar de tecnicamente estarem bem organizadas”, D. José Policarpo desafiou as direções dos seis centros sociais paroquiais da Vigararia de Caldas da Rainha - Peniche a darem um testemunho de caridade. “Em que medida é que a perfeição da estrutura e a burocracia garantem aquilo que é prioritário na missão da Igreja, que é o ardor, o vigor e o testemunho da caridade e do amor fraterno, que pode não ser tão perfeito mas que toca os corações?”.
Este encontro, realizado na noite de sexta-feira, dia 25 de janeiro, em Santa Catarina (Caldas da Rainha) no âmbito da Visita Pastoral à Vigararia, contou com a presença do Centro Paroquial de Bem-Estar Social de Atouguia da Baleia, Centro Social Paroquial de Caldas da Rainha, Centro Social Paroquial de Nossa Senhora das Mercês de Carvalhal Benfeito, Centro Solidariedade e Cultura de Peniche, Centro Social Paroquial de Santa Catarina e Centro Social Paroquial de Nossa Senhora da Piedade dos Vidais, além do movimento Guias de São Lourenço de Óbidos.
Para D. José Policarpo, os centros sociais paroquiais “põem no terreno uma dimensão fundamental da fé cristã, a caridade”. Citando palavras do Papa na Carta Apostólica ‘Porta da Fé’, o Patriarca sublinhou que “a fé sem a caridade corre seriamente o risco de se transformar confusa e cair na dúvida”. Porque, acentuou, “a verdade da fé exprime-se depois no amor fraterno, na caridade cristã”.
No Patriarcado de Lisboa existem atualmente 146 centros sociais paroquiais. Salientando que “num determinado momento houve um entusiasmo das paróquias por criar centros sociais paroquiais”, o Cardeal-Patriarca manifestou reserva: “Ter 146 centros sociais paroquiais na diocese é uma estrutura pesadíssima! E arriscada! Nós, Igreja, somos a entidade patronal de mais de quatro mil trabalhadores!”.
Experiência de vizinhança
Questionado sobre “a diferença entre a pastoral social das IPSS e a dos grupos de cristãos voluntários”, o Cardeal-Patriarca lembrou estes responsáveis que “há casos de centros sociais paroquiais que têm um dinamismo tal que são os próprios centros que fazem a síntese espontânea das outras expressões da caridade”. E exemplificou: “Estamos a atravessar um momento difícil do país, com muita gente a sofrer com esta situação, e há centros sociais paroquiais que organizaram grupos de cidadãos e é a partir do dinamismo do centro que se estende a toda a comunidade essa atenção à caridade”.
Salientando, contudo, que “os centros sociais paroquiais não podem responder a todas as situações somente com a sua estrutura burocrática e técnica”, D. José Policarpo coloca o acento no papel dos cristãos. “A experiência da vizinhança é essencial! Porque há situações que só o vizinho pode conhecer! Há pessoas que não têm problema em ir à sopa dos pobres ou ao centro social buscar um saco de alimentos, mas há muita gente que não tem à vontade para isso. Sobretudo gente da classe média, que está a passar um momento difícil, e que é preciso tratar com discrição e respeito!”. Neste sentido, apontou, “a única solução é haver um grupo de ‘olheiros’ nas comunidades, que esteja atento ao que se passa no seu prédio ou na sua rua”, sem esquecer o papel dos centros: “É bonito ver que há centros sociais paroquiais que têm alargado a sua ação para este campo. Significa que o centro tem, dentro dele, agentes que não são só burocratas ou técnicos, mas que estão sensibilizados para os problemas do próximo”.
Comunidades sensíveis à caridade
Neste encontro com as direções dos centros sociais paroquiais da Vigararia de Caldas da Rainha - Peniche, o Cardeal-Patriarca de Lisboa considerou também que a caridade nas paróquias não se deve esgotar nos centros sociais paroquiais. “A pastoral da caridade organizada, ou seja, as grandes estruturas, não podem esgotar o dinamismo da comunidade. Não podemos ter paróquias que, perante determinada carência, respondem: ‘Isso é lá com o centro social. Temos um centro social paroquial, por isso está tudo resolvido’”, alertou, frisando: “Ninguém está dispensado da sensibilidade à caridade! É importante que a comunidade cristã não pense que por ter um centro social paroquial está dispensada de ajudar o próximo, porque não está!”.
Em tempos de crise, D. José Policarpo considera que “as comunidades têm dado um exemplo muito grande de solidariedade e de sensibilidade ao próximo”. O exemplo foi dado com base numa recente visita a uma associação. “Uma das coisas que me comoveu na visita que efetuei à associação Ajuda de Berço foi ver um grande armazém que tinha inúmeros produtos básicos para crianças e bebés e que, segundo a diretora, tinham sido dados à instituição por gente anónima”.
Encontros no Turcifal
Os chamados ‘encontros no Turcifal’, organizados pelo Departamento da Pastoral Sócio-Caritativa do Patriarcado de Lisboa e que reuniam as direções dos centros sociais paroquiais de toda a diocese, foram também abordados no encontro com D. José Policarpo, com os responsáveis a manifestarem a vontade de reativar estas sessões. O Patriarca de Lisboa, contudo, tem dúvidas se os encontros alargados como esses são a melhor forma de os centros sociais partilharem experiências. “Os ‘encontros no Turcifal’ não acabaram, mas houve uma fase de reflexão. Não sei se é o tipo de encontro que convinha, nomeadamente para a partilha de experiências. Penso que os centros se deviam encontrar não todos ao mesmo tempo mas uns com os outros, porque torna a partilha mais fácil”, observou.
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Repensar os serviços diocesanos no setor da pastoral social
O Cardeal-Patriarca de Lisboa anunciou que a diocese está a repensar a pastoral social. “Penso que os centros sociais paroquiais da diocese, neste momento, precisam de um grupo de peritos, que faça parte da estrutura do Departamento Sócio-Caritativo do Patriarcado de Lisboa, dedicado concretamente aos centros. Um grupo que preste apoio técnico ou aconselhamento financeiro e que ajude a resolver problemas concretos”, salientou D. José Policarpo, durante o encontro com as direções dos centros sociais paroquiais da Vigararia de Caldas da Rainha – Peniche, sublinhando a necessidade de coordenação: “É necessária uma coordenação para os centros sociais paroquiais. Os centros, na sua globalidade, estão bem, mas em outros começa a haver problemas sérios, de vária ordem, seja de estrutura ou de viabilidade financeira. Por isso, estamos neste momento a repensar os serviços diocesanos neste setor da pastoral social”.
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Centro Paroquial de Bem-Estar Social de Atouguia da Baleia
Ano de fundação: 1972
Funcionários: 40
Valências dirigidas à infância: 3 (creche, pré-escolar e ATL)
Valências para os idosos: 1 (apoio domiciliário)
Utentes: 206 (158 crianças e 48 idosos)
Centro Social Paroquial de Caldas da Rainha
Ano de fundação: 1985
Funcionários: 63
Valências dirigidas à infância: 4 (creche, pré-escolar, ATL e 1º ciclo)
Valências para os idosos: 3 (lar, centro de dia e apoio domiciliário)
Utentes: 337 (222 crianças e 115 idosos)
Centro Social Paroquial de Nossa Senhora das Mercês de Carvalhal Benfeito
Ano de fundação: 2002
Funcionários: 18
Valências dirigidas à infância: servem refeições a várias crianças devido a protocolo com a junta de freguesia
Valências para os idosos: 2 (centro de dia e apoio domiciliário)
Utentes: 50 idosos, além das várias crianças
Centro Solidariedade e Cultura de Peniche
Ano de fundação: 1948
Funcionários: 100
Valências dirigidas à infância: 5 (2 creches, 2 jardins de infância e 1 centro de acolhimento temporário para crianças em risco)
Valências para os idosos: 1 (lar)
Utentes: 290 (218 crianças e 72 idosos)
Centro Social Paroquial de Santa Catarina, Caldas da Rainha
Ano de fundação: 1981
Funcionários: 64
Valências dirigidas à infância: 2 (creche e jardim de infância)
Valências para os idosos: 5 (centro de dia, lar, centro de convívio, apoio domiciliário e apoio domiciliário integrado)
Utentes: 212 (92 crianças e 120 idosos)
Centro Social Paroquial de Nossa Senhora da Piedade dos Vidais
Ano de fundação: 1990
Funcionários: 10
Valências dirigidas à infância: entrega de almoços a crianças
Valências para os idosos: 2 (centro de dia e apoio domiciliário)
Utentes: 27 idosos, além das várias crianças
Movimento Guias de São Lourenço de Óbidos
Ano de fundação: 2006
Funcionários: 30 (todos voluntários)
Apoio: prestam apoio alimentar a mais de 300 famílias, organizam atividades para crianças e têm semanalmente uma forma de apoio domiciliário, através de um grupo de visitadores
Missão: distribuiu alimentos, de três em três semanas, a famílias carenciadas de sete paróquias da zona de Óbidos; tem um armazém de distribuição gratuita de vestuário, calçado, mobiliário, eletrodomésticos, brinquedos e livros; tem uma farmácia solidária e faz distribuição de medicamentos gratuitos às famílias; tem um atelier onde recicla e transforma materiais recicláveis para venda; e tem também uma loja solidária
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