09.12.2012
A uma janela de Roma
Papa destaca sobriedade e oração para viver o Advento
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Bento XVI deixou pistas para viver o Advento. Na semana em que falou ao Conselho Pontifício Justiça e Paz, o Papa publicou uma carta apostólica, assistiu ao circo e inaugurou uma conta na rede social Twitter.
1. Sobriedade e oração. Segundo o Papa, são estes os dois aspectos para se viver bem o Advento, o tempo litúrgico de preparação para o Natal. No I Domingo do Advento, 2 de Dezembro, Bento XVI explicou que este novo ano litúrgico é enriquecido pelo Ano da Fé e lembrou que a palavra ‘advento’ significa ‘vinda’ ou ‘presença’ e na linguagem cristã refere-se à vinda de Deus, à sua presença no mundo. O mistério da Encarnação, segundo o Papa, envolve a primeira e a segunda vinda de Cristo. “Estes dois momentos, que cronologicamente são distantes – e não se sabe o quanto –, tocam-se profundamente, porque com a sua morte e ressurreição Jesus já realizou aquela transformação do homem e do cosmos que é a meta final da criação”.
O Papa destacou ainda que Maria encarna perfeitamente o espírito do Advento, um tempo feito de escuta de Deus, de desejo de fazer a sua vontade, de alegre serviço ao próximo. “Deixemo-nos guiar por ela [Virgem Maria], para que o Deus que vem não nos encontre fechados ou distraídos, mas possa, em cada um de nós, estender um pouco o seu reino de amor, de justiça e de paz”.
2. Bento XVI dirigiu-se à Assembleia Plenária do Conselho Pontifício Justiça e Paz. Apesar do progresso na defesa dos direitos, o homem de hoje está cada vez mais isolado pela actual cultura do individualismo utilitarista e do economicismo tecnocrático. Cada pessoa é vista como um ser prevalentemente biológico, ou como capital humano, um mero recurso integrado numa engrenagem produtiva e financeira. E se, por um lado, se proclama a dignidade da pessoa, paradoxalmente, avançam novas ideologias que deformam o conceito de pessoa humana. E o Papa aponta o dedo à ideologia hedonista e egoísta dos direitos sexuais e reprodutivos e à ideologia do capitalismo financeiro sem regras que corrompe a política e destrói a economia real – ideologias, diz Bento XVI, que olham para o trabalhador dependente e para o seu trabalho como “um bem menor” e acabam por minar a estrutura da sociedade, especialmente a família.
Ora, para o Cristianismo o trabalho é um bem fundamental para o homem, para a sociedade, para a família, para o bem comum e para a paz… E, por isso, conclui o Papa, o objectivo prioritário será sempre o acesso de todos ao trabalho, mesmo nos períodos de recessão económica.
3. O Papa assinou um novo documento em que promove uma reorganização das instituições de acção social e humanitária da Igreja Católica, reforçando o papel de vigilância dos bispos diocesanos sobre as mesmas. “O serviço da caridade está intimamente ligado com a natureza diaconal da Igreja e do ministério episcopal [dos bispos]”, assinala Bento XVI, na Carta Apostólica sob a forma de Motu Proprio ‘sobre o serviço da caridade’, publicada esta semana pelo Vaticano, com tradução em português.
As instituições, determina o texto, devem escolher pessoas “que partilhem, ou pelo menos respeitem, a identidade católica destas obras”. “As iniciativas colectivas de caridade, a que se refere o presente Motu Proprio, são obrigadas a seguir na sua actividade os princípios católicos e não podem aceitar compromissos que de alguma forma condicionem a observância destes princípios”, pode ler-se.
Bento XVI sublinha a posição de “autoridade e coordenação” que compete a cada bispo diocesano, “no respeito da legítima autonomia de cada entidade”.
4. O Papa encontrou-se no sábado, dia 1 de Dezembro, no Vaticano, com cerca de 10 mil artistas de rua e do circo, num encontro mundial que assinalou o Ano da Fé, elogiando os valores tradicionais do espectáculo itinerante. “O vosso ofício requer renúncia e sacrifício, responsabilidade e perseverança, coragem e generosidade, virtudes que a sociedade moderna nem sempre aprecia, mas que contribuíram para formar gerações inteiras na vossa grande família”, declarou Bento XVI.
Sublinhando ter consciência dos “numerosos problemas” ligados à condição de itinerante, o Papa pediu que as autoridades reconheçam a “função social e cultural” destes espectáculos e que a sociedade deixe lado os “preconceitos” sobre estes artistas.
O discurso foi antecedido por actuações e testemunhos de artistas de circo, feirantes, de rua, bandas musicais e ilusionistas. “A Igreja, que é peregrina como vós, neste mundo, convida-vos a participar na sua missão divina através do vosso trabalho quotidiano”, observou Bento XVI.
5. O Vaticano lançou a conta do Papa no Twitter (http://www.twitter.com/pontifex). Em poucas horas, mais de meio milhão de pessoas já se inscreveram para ‘seguir’ Bento XVI nesta rede social.
O primeiro ‘tweet’ papal será publicado a 12 de Dezembro, em oito línguas: inglês, espanhol, italiano, português, alemão, polaco, árabe e francês.
Aura Miguel, à conversa com Diogo Paiva Brandão