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A uma janela de Roma
“Evangelizar significa testemunhar uma vida nova, transformada por Deus”
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Começou o Ano da Fé. No Vaticano, o Papa convidou à descoberta de um caminho de salvação e apontou as luzes e sombras no balanço de 50 anos do Concílio. Na semana em que foram noticiadas as possíveis beatificações de anteriores Papas, Bento XVI falou da Europa.

 

1. Na celebração eucarística que marcou o início do Ano da Fé, o Papa disse estar consciente do deserto espiritual, do “vazio que se espalhou” na sociedade, mas sublinhou que é a partir dessa experiência de deserto que podemos redescobrir a alegria de acreditar e que existe um caminho de salvação. “No deserto, é possível redescobrir o valor do que é essencial para a vida e no deserto existe, sobretudo, a necessidade de pessoas de fé que, com as suas próprias vidas, indiquem o caminho para a terra prometida, mantendo assim viva a esperança”, garantiu Bento XVI. Começou, assim, o Ano da Fé, que tem como grande objectivo renovar a acção da Igreja, num convite do Papa aos cristãos para redescobrirem o caminho da renovação. A fé vivida através da abertura à graça de Deus liberta do pessimismo, defendeu o Papa: “A Fé vivida abre o coração à graça de Deus que liberta o pessimismo. Hoje, mais do que nunca, evangelizar significa testemunhar uma vida nova, transformada por Deus, indicando assim o caminho”.

A homilia do Papa começou com a explicação de que o Ano da Fé está ligado a todo o caminho percorrido nos últimos 50 anos, desde o Concílio Vaticano II. Bento XVI sublinhou que o que importa é aprofundar o mistério cristão, de maneira a responder às exigências do nosso tempo. “O Ano da Fé que hoje inauguramos está ligado, coerentemente, a todo o caminho da Igreja ao longo dos últimos 50 anos, desde o Concílio, passando pelo magistério do Servo de Deus Paulo VI, que proclamou um Ano da Fé em 1967, até chegar ao Jubileu de 2000, com o qual o bem-aventurado João Paulo II propôs, novamente, a toda a humanidade Jesus Cristo como único salvador, ontem, hoje e sempre”, evocou o Papa.

Bento XVI, que participou no Concílio, recordou o desejo profundo então existente de comunicar a beleza da Fé aos homens do seu tempo. Esse mesmo desejo mantém-se, não obstante os desvios entretanto existentes. “Se hoje a Igreja propõe um novo Ano da Fé e a nova evangelização, não é para prestar honras a uma efeméride, mas porque isso é necessário, ainda mais do que há 50 anos. A resposta que se deve dar a esta necessidade é a mesma desejada pelos papas e padres conciliares e que está contida nos seus documentos”.

Alguns dias após a abertura do Ano da Fé, o Papa convidou a redescobrir a fé. “O nosso mundo de hoje está profundamente marcado pelo secularismo, relativismo e individualismo que levam muitas pessoas a viver a vida de modo superficial, sem ideais claros. Por isso, é essencial redescobrir como a fé é uma força transformadora para a vida: saber que Deus é amor, que se fez próximo aos homens com a Encarnação e se entregou na Cruz para nos salvar e nos abrir novamente a porta do Céu. De facto, a fé não é uma realidade desconectada da vida concreta. Neste sentido, para perceber o vínculo profundo que existe entre as verdades que professamos e a nossa vida diária, é preciso que o Credo, o Símbolo da Fé, seja mais conhecido, compreendido e rezado. Nele encontramos as fórmulas essenciais da fé: as verdades que nos foram fielmente transmitidas e que constituem a luz para a nossa existência”, disse Bento XVI, na audiência da passada quarta-feira.

 

2. O Papa sublinhou a experiência de meio século pós-Concílio Vaticano II. “Vimos que no campo do Senhor há sempre erva daninha. Vimos que na rede de Pedro há também peixes maus”, começou por dizer Bento XVI, numa vigília nocturna, no dia de abertura do Ano da Fé, argumentando: “Vimos que a fragilidade humana também está presente na Igreja, que a barca da Igreja está a navegar com ventos contrários, com tempestades que ameaçam a barca, e, às vezes, até pensamos que o Senhor dorme e se esqueceu de nós”. No entanto, sublinhou o Papa, “esta é apenas uma parte da experiência que fizemos nestes 50 anos, porque também fizemos uma nova experiência da presença do Senhor através da sua bondade”. Nesta intervenção na Praça de São Pedro, Bento XVI deixou palavras de esperança e confiança e pediu ainda aos pais, como fez o Papa João XXIII há 50 anos, que no regresso a suas casas dessem um beijo aos seus filhos como se fossem o próprio Papa.

Já num artigo publicado no jornal oficial do Vaticano, L´Osservatore Romano, o Papa tinha recordado o 11 de Outubro de 1962, dia da abertura dos trabalhos do Concílio Vaticano II, como “um dia esplêndido”. Bento XVI não escondeu a sensação de novidade que foi ver a Basílica de São Pedro acolher dois mil padres para abrir o Concílio.

 

3. O Papa João Paulo I e o Papa Paulo VI poderão vir a ser beatificados brevemente. No dia 17 de Outubro, data do 100º aniversário de João Paulo I, foi entregue na Congregação para as Causas dos Santos o documento que dá início ao processo da sua beatificação – processo que recolhe 167 testemunhos sobre a santidade do ‘Papa do sorriso’ cujo pontificado durou apenas 33 dias e onde se conclui que a sua morte ocorreu por doença e não por envenenamento. Quanto ao Papa Paulo VI, cujo pontificado durou 15 anos, o seu processo está mais avançado e espera-se que no próximo Consistório de 11 de Dezembro, convocado por Bento XVI, os cardeais aprovem a sua “heroicidade de virtudes” e reconheçam a cura inexplicável de um bebé ainda na barriga da mãe.

 

4. Bento XVI disse numa entrevista inédita que o actual momento histórico pode representar uma “nova primavera” para o Cristianismo, se o homem não cancelar o seu desejo de infinito. Sinal disto mesmo é a “inquietação” sentida pelas novas gerações, que segundo o Papa já se aperceberam do “vazio” das ofertas de várias ideologias e do consumismo. O Papa disse que a Europa tem “um grande peso, económico, cultural e intelectual”, o que implica também uma “grande responsabilidade”, mas que o seu futuro depende do respeito pelas suas raízes culturais e religiosas. Estas declarações de Bento XVI surgem num documentário ‘Bells of Europe’ (Sinos da Europa), realizado pela Televisão do Vaticano e apresentado esta segunda-feira, dia 15, aos participantes no Sínodo dos Bispos.

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