Domingo |
À procura da Palavra
Escutar e falar

DOMINGO XXIII COMUM Ano B

 

«Suspirou e disse-lhe: ‘Effathá’,

que quer dizer “Abre-te”.

Mc 7, 34

 

Há a surdez dos ouvidos. Mas também há outras formas de ser surdo, tão ou mais graves ainda. Há quem não possa articular uma palavra. Mas há tantos outros silêncios graves, ou palavras que nunca deviam ter sido ditas! Parece que a impossibilidade de escutar está muito ligada à impossibilidade de falar. O certo é que nos encantam sempre as primeiras palavras dos bébés e as orelhas arrebitam quando soa a voz de alguém que se ama. Ser surdo ou mudo é uma limitação dolorosa, é como viver fechado, limitado na comunicação, mas não querer ouvir e não querer falar, quando uma e outra são tão fundamentais, é uma tristeza maior.

Um surdo, que não podia escutar a Palavra de Deus, e ainda por cima, mudo, não podendo afirmar a fé e recitar o “Shema Israel”, era uma desgraça completa. É trazido por desconhecidos. Jesus toma-o à parte, faz gestos e toca-lhe os ouvidos e a língua, por fim diz uma só palavra: “Abre-te!”. É uma ordem. Mais dirigida ao coração e à mente. Porque é aí que se encontram as grandes prisões. As comunidades cristãs “leram” neste processo o caminho catecumenal em ordem ao Baptismo: encontro profundo com Jesus, acolhimento do Espírito, abertura total da vida ao dom de Deus. A fé é uma experiência de abertura, de libertação de tudo o que impede o homem de ser pleno, e de viver segundo o projecto de Deus.

Às vezes imagino Jesus a repetir-nos este “Abre-te”. Porque é preciso abrimo-nos ao seu amor para abraçar tudo de um modo novo; é preciso que o nosso louvor se abra às consequências da sua palavra; que a verdade e a justiça encham os corações e as mentes; que se abram, e deitem abaixo, portas como as do preconceito, da religião vazia, da rotina sem alma. Poderemos então falar correctamente, e as nossas palavras tocarão o íntimo das pessoas.

Escutar e anunciar. Dois dinamismos do seguimento de Jesus. Nunca terminarão. Um e outro implicam a abertura fundamental a Deus e aos outros. Reclamam humildade e coragem, persistência e ousadia. Sem o primeiro as palavras ficam vazias, instala-se a rotina e endurece o coração. Sem o segundo, as sementes não dão fruto, o consolo torna-se egoísmo, o medo paralisa-nos. Escutar os sofrimentos e as alegrias. Levar uma palavra luminosa que cura e liberta. Quantas vezes a escuta é já uma verdadeira cura? E quantas vezes uma palavra apenas pode trazer mudança? Cuidado em não nos tornarmos surdos-mudos voluntários! 

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