São paróquias que, por estarem localizadas no litoral, são visitadas por inúmeros turistas durante os meses de Verão. Que diferenças haverá na pastoral e no acolhimento nas chamadas ‘paróquias de praia’? Os padres de Cascais, Ericeira, Peniche e São Martinho do Porto dão a resposta.

Em tempo de Verão, a porta principal da igreja de Cascais, que dá para o adro, está sempre aberta para quem quiser entrar, para um tempo de oração ou simplesmente para a visitar. Esta é uma das principais diferenças da pastoral em tempo de Verão, nesta paróquia da Linha, em relação à restante época do ano. “Nos tradicionais meses de férias, procuramos que a porta principal da igreja paroquial de Cascais esteja sempre aberta, para as pessoas poderem entrar mais vezes, porque normalmente o acesso à igreja é feito por uma porta lateral, do cartório”, salienta o pároco, padre Nuno Coelho, ao Jornal VOZ DA VERDADE. “No Verão, temos a igreja sempre aberta das 9 da manhã às oito da noite e são muitas as pessoas que cá vêm”, salienta este sacerdote, de 34 anos.

É praticamente incontável o número de pessoas que visita Cascais nos meses de calor. O padre Nuno Coelho, que está presente nesta vila há quatro anos, refere que “são mais de 20 mil os turistas que fazem estadia em Cascais”. Porque, “falando das pessoas que passam de autocarro, apenas durante umas horas, para visitar e conhecer, esse número sobe exponencialmente”. Britânicos e espanhóis, mas também italianos, estão em clara maioria entre os turistas que visitam Cascais.

Durante o ano, a paróquia de Nossa Senhora da Assunção e Ressurreição de Cristo de Cascais tem nove Missas dominicais. Tal como acontece em algumas paróquias, haverá necessidade de reduzir este número durante os meses de Verão? “Nós temos nove Missas dominicais e durante o Verão mantemo-las todas! Das várias celebrações, temos duas Eucaristias celebradas em inglês, pelos padres dominicanos do Murtal. Mas é curioso, porque os turistas estrangeiros preferem vir à Missa celebrada em português, porque dizem gostar de ver a realidade da comunidade”.

Ericeira saúda

Uma saudação, escrita em português, castelhano, francês, inglês, italiano e alemão é a forma como a paróquia de São Pedro da Ericeira recebe os turistas em tempo de Verão. “Ilustre visitante, apresso-me a saudá-lo, na minha condição de pároco. Encontra-se na Capela de Santo António, também conhecida por Capela de Nossa Senhora da Boa Viagem. Foi sede da corporação dos homens do mar e farol de entrada no porto, e é, sem dúvida, referência protectora dos que se aventuram nas fainas da pesca”, começa por referir o texto, intitulado ‘A face mais bela’, da autoria do cónego Armindo Garcia. “Na Ericeira, poderá encontrar no património religioso edificado, que procuramos manter com muito respeito e a sustentável objectividade, além da Matriz – a Igreja de São Pedro, a Capela de São Sebastião, da corporação dos rapazes solteiros, a Capela de Santa Marta, também conhecida por Capela da Senhora das Necessidades, que foi sede das raparigas solteiras, e a Capela da Misericórdia, anteriormente Capela do Espírito Santo”, acrescenta a saudação, enumerando os diversos templos existentes na paróquia. Presente nesta terra do concelho de Mafra há seis anos, o cónego Armindo faz um convite aos turistas, sustentado em palavras de Bento XVI proferidas em Portugal: “Convido-o a que passeie pelas ruas observando os registos de azulejo. São verdadeiras chaves para entrar nos segredos das casas. No seu conjunto, a Ericeira oferece-nos harmonia entre a terra e o mar. Apraz-me recordar os votos do Papa, no Centro Cultural de Belém: ‘Sede lugares de Beleza e navegantes do Bem, da Verdade e da Beleza’”.

Ao Jornal VOZ DA VERDADE, o pároco da Ericeira salienta que Verão é também sinónimo do aumento do número de Missas. “Em Agosto, temos mais uma Missa ao Domingo, às 19 horas. É uma celebração que não costumamos ter durante o ano, mas como temos muita gente de fora a igreja fica completamente cheia!”, garante o cónego Armindo Garcia.

Peniche ‘abre as portas’

Em Peniche, no Verão intensificam-se as celebrações do Sacramento do Baptismo. “São muito os emigrantes e familiares que aproveitam esta época de férias para baptizar os seus filhos”, aponta, ao Jornal VOZ DA VERDADE, o padre Moisés Hervés Jimenez, coadjutor das três paróquias de Peniche (Nossa Senhora da Ajuda, São Pedro e São Sebastião).

Nesta cidade da sub-região do Oeste, situada a cerca de 100 quilómetros de Lisboa, há uma preocupação pelo acolhimento aos turistas, segundo explica o padre Moisés: “Temos garantido alojamento a colónias de férias, a grupos de escuteiros estrangeiros e outros grupos que vêm desfrutar das nossas praias”. Ao mesmo, acrescenta este sacerdote de origem espanhola, as igrejas durante o Verão estão abertas todo o dia: “Existe uma parceria com a Câmara Municipal de Peniche com o objectivo de garantir os recursos humanos necessários para operacionalizar o Programa ‘A Rota das Igrejas’. Temos um pequeno opúsculo em que se encontra uma explicação das diversas igrejas. Além do português, este documento está traduzido em francês e inglês”.

O padre Moisés Hervés Jimenez está presente como coadjutor nas paróquias de Peniche há três anos. Referindo que nos meses de Verão se sente “a diminuição na participação das celebrações de alguns dinamizadores dos diversos ministérios, porque se encontram de férias”, este sacerdote destaca, por outro lado, “a crescente participação de turistas que estão em Peniche por gozo de férias e que vão enchendo as celebrações”. Entre os turistas de Peniche, encontram-se igualmente alguns sacerdotes, como refere o padre Moisés. “No Verão, temos também a presença e a visita de alguns sacerdotes que, ao passarem férias em Peniche, se juntam diariamente à comunidade para celebrar a Eucaristia”.

Os amigos de São Martinho do Porto

Em São Martinho do Porto, destaca-se a familiaridade dos turistas. “Dadas as características das pessoas que habitualmente vêm para São Martinho do Porto – regra geral são pessoas que já desde longa data frequentam esta praia –, o ambiente que se vive é muito familiar. Portanto, as pessoas não são estranhas, mas amigas”, garante ao Jornal VOZ DA VERDADE o pároco, padre Joaquim Gonçalves. “Assim, as pessoas ao chegarem à paróquia oferecem-se para os vários serviços, desde acólitos, leitores e ministros da comunhão”, acrescenta.

Nesta vila, considerada a mais famosa e importante estância balnear do Concelho de Alcobaça, foi mesmo criada uma associação, lembra o pároco. “Os amigos do Verão – assim podemos chamar à grande família que desde longa data frequenta a praia de São Martinho –, constituíram-se em ‘Associação Verão de São Martinho’, que todos os anos programa um conjunto de actividades culturais, desportivas e também religiosas”.

Na paróquia de São Martinho do Porto há também a necessidade de aumentar o número de Eucaristias dominicais. Na segunda quinzena de Julho e até ao fim da primeira quinzena de Setembro, São Martinho do Porto vê acrescer a Missa das 19 horas. Durante a semana, a habitual Missa diária é alterada das 19h30 para as 10h30 da manhã.

Cascais, Ericeira, Peniche e São Martinho do Porto são apenas alguns exemplos de como as paróquias da Diocese de Lisboa se procuram adaptar para acolher os turistas. O importante, segundo referem, é ter sempre as portas abertas a quem se queira aproximar de Deus em tempo de férias.

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Festas em tempo de Verão

São Martinho do Porto

A paróquia de São Martinho colabora nas actividades de Verão, pondo os seus espaços ao serviço das pessoas. “As noites de música clássica são realizadas na igreja paroquial e as noites culturais no centro pastoral paroquial”, sublinha o pároco. Ao mesmo tempo, refere o padre Joaquim Gonçalves, “a Confraria de São Vicente de Paulo promove uma noite de jogos de sala (jogos de canasta) com o objectivo de angariar fundos para as actividades sócio-caritativas”.

Peniche

A Festa em Honra de Nossa Senhora da Boa Viagem de Peniche realiza-se sempre no primeiro Domingo de Agosto, decorrendo este ano de 4 a 7. “Este é o evento que anualmente mais turistas traz até Peniche, nomeadamente para a Procissão do Mar”, observa o padre Moisés. Esta Festa da Padroeira dos Pescadores data de 1885, segundo documento oficial do Patriarcado de Lisboa. “A festa surgiu como expressão de gratidão dos pescadores e suas famílias, em honra de Nossa Senhora da Boa Viagem, pelas abundantes pescarias e viagens bem sucedidas. Era também um momento de súplica e de memória por aqueles que faleceram no mar. Para outros, a festa é um momento de intercessão à Virgem da Boa Viagem, para que esta lhes desse melhores dias de trabalho, e a nível climatérico que o tempo lhes permitisse irem ao mar e pudessem regressar com o sustento para as suas famílias”.

No último sábado do mês de Agosto, dia 25, às 19 horas, é celebrada a Missa Campal, como forma de encerramento das actividades de Verão.

Ericeira

Na Ericeira, a Procissão do Mar, que acontece anualmente na véspera do terceiro Domingo de Agosto, marca o Verão desta terra. Um momento religioso que leva mais de 100 mil pessoas a esta vila turística situada a 35 quilómetros a noroeste do centro de Lisboa. Este ano, as Festas do Mar começam a 15 de Agosto e prolongam-se até dia 19. “No dia 18 de Agosto, à noite, há a Procissão do Mar, com muitos barcos, e no dia 19 temos a Festa da Senhora da Boa Viagem”, destaca o pároco, cónego Armindo Garcia.

Cascais

O Verão em Cascais fica anualmente marcado pela Procissão do Mar, com Nossa Senhora do Navegantes. Uma procissão que este ano vai decorrer no dia 19 de Agosto, às 16 horas. “A comunidade desce pela Baía de Cascais e vai até à praia; daí, a procissão, acompanhada pelos barcos dos pescadores, segue até à Guia e regressa ao centro cascalense”, observa o padre Nuno Coelho. Este momento religioso está integrado nas Festas do Mar, que vão acontecer de 17 a 26 de Agosto, que são as festas de Verão de Cascais. “Até Setembro, estamos sempre em festa”, garante o pároco de Cascais.