Jornal Voz da Verdade

08.07.2012

Domingo |

� Procura da Palavra

Abertos �s surpresas

DOMINGO XIV COMUM Ano B

�

"Que sabedoria � esta que Lhe foi dada

e os prodigiosos milagres feitos por suas m�os?."

Mc 6, 2

�

�s vezes o que est� mais pr�ximo � o que mais nos surpreende. Quantas pessoas n�o nasceram e cresceram junto de maravilhas como o Mosteiro dos Jer�nimos ou a Torre dos Cl�rigos, n�o esquecendo tantas outras obras e lugares bel�ssimos do nosso pa�s, e ficam admirados com os que v�m de longe para os visitar. Como se fosse necess�ria uma certa dist�ncia para melhor reconhecer os milagres! � o que sucede com as pessoas: habituamo-nos a estar ao lado, sem viver cada momento como �nico, e depois, acontece a dist�ncia de uma doen�a ou da morte que traz um vazio imenso. �

Deve ter sido t�o humano e natural o crescimento de Jesus em Bel�m! Ou talvez habituados ao costume de s� valorizar o que “vem de fora”, os conterr�neos de Jesus n�o tivessem olhos e ouvidos para o milagre daquele homem que era tamb�m Deus. O Deus connosco a amar muito esta vida. E ainda que se admirassem com a sua sabedoria e com as suas m�os milagrosas, olharam-no como uma aberra��o e cheios de desconfian�a. Podemos ser t�o duros assim diante de um Deus que se aproxima e da salva��o que muda a vida de tantos? Jos� Maria Mardones, um religioso escritor espanhol tem um livro com um t�tulo ‘duro’: “Matar os nossos deuses: Um Deus para um crente adulto” e diz na introdu��o: “Deus nem sempre � um elemento que eleva, potenciador, libertador da pessoa. Pelo contr�rio, � volta da sua imagem acumulam-se medos, terrores, cargas morais, repress�es ou encolhimentos vitais. N�o, Deus nem sempre � uma for�a que desate os n�s, liberte das cadeias, fa�a mais leve o peso da vida ou eleve as pessoas acima das miserias existenciais e quotidianas. �s vezes Deus � uma carga pesada, muito pesada.” .

N�o podemos mudar os olhos mas sim o olhar, nem trocar de ouvidos mas ouvir melhor. E ser� verdade que os preconceitos e r�tulos que colocamos nas pessoas tamb�m, talvez, os coloquemos em Deus? Que imagens de Deus enchem o pensamento e o cora��o mais do que a maravilha da proximidade de Deus em Jesus Cristo? O h�bito e o acomodamento atrofiam a capacidade de acolher a radicalidade de Deus vir at� n�s. Na sua profunda humanidade e na sua pr�xima divindade. Descrentes da gratuidade e da bondade, desconfiados de uma d�diva total, como podemos acolher Jesus que quer dar-se totalmente a cada pessoa? Como acreditar na possibilidade de milagres que nos transformam em filhos de Deus e em irm�os? Sem abertura � surpresa, �s surpresas amorosas do nosso Deus, n�o ficaremos como os de Nazar�, fechados e convencidos de que tudo tem de ser assim, calculado e medido, sem rasgos de um amor maior?

P. V�tor Gon�alves