Jornal Voz da Verdade

25.03.2012

Domingo |

� Procura da Palavra

A semente e a cruz

DOMINGO V DA QUARESMA - Ano B

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“Se o gr�o de trigo, lan�ado � terra,

n�o morrer, fica s�;

mas se morrer, dar� muito fruto.”

Jo 12, 24

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Talvez os “gregos” dos nossos dias, envolvidos por tanta “escurid�o” econ�mica e social, tamb�m quisessem “ver Jesus”, como os seus antepassados do evangelho! Isto �, ver uma esperan�a mais forte que o desalento e o desencanto que envolve o seu pa�s, e contagia grande parte da Europa. Tamb�m havia um desejo de ver melhor a vida e o sentido de tudo, naqueles que procuram junto de Filipe “ver Jesus”. Ver e, at� quem sabe, acreditar nas suas palavras, na vida renovada que prop�e e convida a abra�ar. Mas ver Jesus implica tomar posi��o, confrontar-se com a radicalidade da sua proposta, aceitar a for�a daquilo que germina sem se ver.

Para al�m das ra�zes familiares na agricultura de subsist�ncia das Beiras, sou um nabo no que diz respeito ao semear e cuidar de uma horta. Mas delicio-me com o encanto de quem semeia e aguarda pacientemente que as sementes morram para darem vida. Talvez porque tamb�m sou contagiado com a impaci�ncia dos nossos dias que s� pensa ansiosamente nos frutos. Esperar? Parece uma perda de tempo. O que vale � o imediato, a rapidez, a alta velocidade do 4G, o estar em todo o lado e em todo o tempo (acabando por n�o se estar em lado nenhum!). Me�am a capacidade de espera das crian�as e da malta mais nova, e como reagem ao que t�m de perder para vir a ganhar algo melhor. Interessantes os resultados, n�o s�o? Semear � sempre arriscar a perder. N�o mando nas sementes que, teimosamente, n�o “queiram” germinar ou nas intemp�ries que podem dar cabo da colheita. Mas � tamb�m aprender a esperar. Semear e esperar. Mas para qu� se tudo � oferecido com tanta facilidade?

A maioria dos nossos gestos s�o sementes. N�o produzem no imediato. Levam consigo a dor de uma perda, o desprendimento de uma posse, a pequena alegria da gratuidade. Ningu�m nasce sem traz�-las consigo. E viver � descobrir que elas aumentam em n�s na medida em que as damos com alegria. Que vale mais a pena olhar para o que podemos dar, do que esperar o que gostar�amos de receber. S� � pobre quem se agarra ao que julga ser unicamente para si. Talvez isso explique a espantosa alegria de quem tem poucas coisas. Ou o despojamento dos poetas que semeiam palavras luminosas e nos abrem os olhos para ver e agradecer tanta beleza oferecida!

� na cruz que Jesus se d� a ver. Atraindo todos a si. Gr�o de trigo que se lan�a � terra inf�rtil dos nossos cora��es. Para torn�-la fecunda e quebrar todas as durezas que impediam o germinar da gra�a e do amor. Abrindo o caminho �s sementes que O queiram seguir. Cada um dos seus amigos convidado a mergulhar na escurid�o de dar a vida por amor. Em mil e um pequenos nadas sem import�ncia, que nenhum dinheiro pode comprar, e s� a alegria de “viver de m�os acesas” (como dizia Eug�nio de Andrade) pode tornar poss�vel. Que morte nos falta para dar fruto?

P. V�tor Gon�alves