Confesso que a Quaresma nem sempre foi para mim um tempo litúrgico simpático. Pelo contrário: foi muitas vezes suportado como o tempo de tomar consciência do pecado, da fraqueza de não o conseguir ultrapassar, de fazer parte de uma humanidade bem longe das glórias que se atribui a si mesma.
Hoje, acredito que o problema não se encontra, obviamente, na Quaresma, mas no modo de a viver. Para um egoísta empedernido, a Quaresma é, de facto, difícil de viver. Para aquele que olha para si, é difícil compreender o convite a dar mais tempo à oração (a dar mais tempo ao Outro que é Deus), à caridade que nos ensina a amar o outro nosso irmão não com o nosso amor mas com o amor de Deus, e ao jejum que nos obriga a privarmo-nos de tantos pequenos prazeres e nos convida a perceber que não somos o nosso fim último.
Mais que qualquer outro tempo litúrgico, a Quaresma convida-nos a dar atenção ao outro que se encontra ao nosso lado: precisamente, aquele outro de que nada sabemos de seguro, de quem, eventualmente e sem qualquer razão, imaginamos que sofra ou que se alegre, que tenha uma boa vida descansada e egoísta ou que, vergado pelo peso de uma história de dor, nem sequer consiga esboçar um sorriso.
A Quaresma convida-nos a ir para além daquilo que imaginamos, das segundas ou terceiras intenções que atribuímos a gestos, atitudes e palavras dos outros – tantas vezes criadoras de mal-estar – para ir ao encontro do outro real. A Quaresma convida-nos a conhecer a realidade do outro, como ele efectivamente é; o que ele na realidade pensa; aquilo de que, verdadeiramente, necessita. Convida-nos, afinal, a sairmos de nós, da nossa concha, do nosso mundo cheio de muros, de classificações, de preconceitos, de sonhos e imaginações, para termos a ousadia de nos expormos, como somos e com as nossas dificuldades, mas igualmente com tudo aquilo que Deus faz (ou pode fazer) em nós e através de nós.
Pouco importa a “simpatia” da Quaresma. O facto é que ela nos ajuda, em cada ano que passa, a crescer na fé, na esperança e na caridade. Sem os “exercícios quaresmais”, como o nosso coração seria bem mais duro e empedernido!
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