Domingo |
À Procura da Palavra
Job anda por aqui

DOMINGO V COMUM – Ano B

 

Os meus dias passam mais velozes

que uma lançadeira de tear

e desvanecem-se sem esperança.”

Job 7, 6


Vejo Job todos os dias. E nem é preciso que ande andrajoso e sujo, esfomeado ou pedinte. Vejo-o no rosto angustiado de tantos e no aperto de coração que é a sobrevivência destes dias difíceis. No sofrimento que não se vê por fora, Job continua a ser alguém de todos os tempos, a lembrar que não temos respostas para esta fragilidade do existir, mas que não podemos deixar de levantar as questões. O “porquê” pode não receber resposta mas é preciso ser dito, e é preciso ser escutado (porque o silêncio que se segue talvez seja como o da terra onde alguma semente germine). E, quantas vezes, essa pergunta não ajuda a descobrir que alguns sofrimentos somos nós que os causamos, e está na nossa vontade e nas nossas mãos mudar o que está mal? Fechar os olhos, passar ao lado, remeter tudo para Deus ou para um “salvador” que nos ilibe da responsabilidade é que não!

Por estes dias o sofrimento de Job, nos prédios das cidades, chama-se solidão. Morrem, sem darmos conta, duas senhoras num andar. Até chega a ficar alguém esquecido no hospital porque, quem procurava, nem sabia o seu nome correctamente. Mas também se morre de solidão na mesma casa, isolados os membros de uma família: um a ver televisão na sala, outro na internet no quarto, outro, ainda, agarrado ao telemóvel. Não é uma solidão que se note mas vai rompendo os laços, e se não cuidamos desta rede de proximidade, dificilmente serão as redes electrónicas que nos segurarão, se caírmos do arame instável da vida. Pode ser difícil vencer a distância mas é pouco a pouco que se renova a confiança.   

 Jesus não gasta tempo a explicar o sofrimento. Nem debita discursos moralistas para defender Deus ou para se apresentar como modelo. Não prega o conformismo nem a resignação. Faz o que está ao seu alcance. Depois da cura na sinagoga, vai à casa de Simão Pedro e André. E ao curar a sogra de Pedro mostra como se faz: “aproximou-se, tomou-a pela mão e levantou-a”. Aproximar é chegar-se ao pé, ver o sofrimento do outro com a delicadeza de quem ama e a coragem de quem deita abaixo as próprias defesas; tomar pela mão é entrar nesse sofrimento, com a humildade de quem não se julga puro e intocável e a verdade de quem entra em chão sagrado; e levantar é acolher Deus a agir em nós, oferecendo a vida que julgávamos não ter, a dignidade que parecia perdida definitivamente.

Sofremos por não poder acabar com todo o sofrimento. Mas creio que Jesus não pede para fazermos mais do que aquilo que está ao nosso alcance. E uns com os outros podemos mais. Quem recebeu, aprendendo a dar, como a sogra de Pedro que se pôs a servir. Porque o maior sofrimento é isolarmo-nos! 

P. Vítor Gonçalves
A OPINIÃO DE
Guilherme d'Oliveira Martins
A Santa Sé acaba de divulgar o tema da mensagem do Papa Leão XIV para o Dia Mundial da Paz de 2026....
ver [+]

Tony Neves
Domingo é o Dia Mundial das Missões. Há 99 anos, decorria o ano 1926, o Papa Pio XI instituiu o Dia Mundial...
ver [+]

Pedro Vaz Patto
No âmbito das celebrações do ano jubilar no Patriarcado de Lisboa, catorze organizações católicas (Ação...
ver [+]

Tony Neves
Há notícias que nos entram pelo coração adentro deixando-nos um misto de sentimentos. A nomeação do P.
ver [+]

Visite a página online
do Patriarcado de Lisboa
EDIÇÕES ANTERIORES