Uma comunidade que serve e que vive centrada na Eucaristia. É esta a mensagem do novo painel de cerâmica da igreja paroquial de Alfeizerão, que sofreu obras de restauro, conservação e embelezamento.

 

O padre Joaquim Vieira Gonçalves chegou a Alfeizerão em 2007 e deparou-se com uma igreja escura e triste. “Havia uma necessidade muito grande de transformação desta igreja”, garante o pároco de Alfeizerão, ao Jornal VOZ DA VERDADE. “As últimas obras profundas tinham sido há 40 anos, com o padre Borges, e até aos dias de hoje a igreja nunca mais sofreu obras de conservação!”, justifica, lembrando que quando chegou à paróquia “chovia inclusivamente dentro da igreja!”.

Hoje, após a inauguração das obras de restauro, conservação e embelezamento da igreja paroquial de São João Baptista de Alfeizerão, o sentimento do padre Joaquim é outro: “Temos agora uma igreja bela, um espaço com beleza, que nos leve ao belo!”.

 

Uma freguesia, duas realidades

Alfeizerão é uma freguesia do concelho de Alcobaça, situada a pouco mais de 100 quilómetros a norte de Lisboa. É uma freguesia rural, com muitas pessoas ligadas à agricultura. “Há uns anos atrás, a força do trabalho era a terra e a fruticultura. Agora há menos, mas ainda temos muitas famílias que trabalham neste ramo!”, salienta o pároco, apontando que sociologicamente e culturalmente existem duas realidades na freguesia: “A sede da freguesia de Alfeizerão, junto à saída da auto-estrada A8, que depois nos leva até São Martinho do Porto, e que tem características mais ligadas ao comércio, quase como ponto de passagem de quem vai para a praia; e, por outro lado, a zona à volta de Alfeizerão, com muitos lugares, esses sim ligadas à agricultura”. Por ser uma freguesia muito dispersa geograficamente, ao nível da organização a paróquia sentiu a necessidade de se dividir pelas chamadas ‘zona de pastoral’. “Temos a zona de pastoral Alfeizerão, a de Vale Maceira, a de Valado de Santa Quitéria, a de Casal Velho e a zona de pastoral Casal Pardo”. Cada uma destas zonas de pastoral tem uma igreja!

 

A paixão da catequese

A catequese é a grande aposta pastoral da paróquia de São João Baptista de Alfeizerão. “A catequese deve ser a paixão e a primeira prioridade nas paróquias. Eu sinto aqui, em Alfeizerão, a catequese como a primeira prioridade, porque a comunidade de amanhã depende do que nós estamos a formar hoje! Temos de formar hoje as nossas crianças, os nossos adolescentes e os nossos jovens. Eles são o futuro da Igreja, o futuro da nossa paróquia!”, salienta o pároco.

Para transmitir a fé às crianças e adolescentes, a paróquia conta com dois centros de catequese: um no Centro Pastoral Paroquial e outro no recém-inaugurado Centro Comunitário Pastoral José Nazário. No total, são cerca de 200 crianças que frequentam a catequese em Alfeizerão. “A criação destes dois pólos foi uma aposta feita este ano, uma vez que a catequese estava um pouco dispersa por vários pontos da paróquia”, refere o pároco. Para os dez volumes da catequese, a paróquia conta com cerca de 25 catequistas.

Inserir os jovens do Crisma no grupo de pastoral juvenil tem sido outro dos desafios da paróquia. “O desafio é inseri-los na pastoral juvenil, de forma a que estes jovens, quando forem crismados, não se afastem da Igreja e não se ‘desliguem’ da comunidade”.

Por ser também pároco de São Martinho do Porto, o padre Joaquim procura organizar actividades inter-paroquiais. Em especial, ao nível da preparação para os baptismos, com reuniões mensais, mas também com os catequistas e os jovens. “A ideia é deixar nos jovens o ‘bichinho’ por Cristo. É fazer com que eles tenham gosto em pertencer à comunidade cristã. Porque se não levarmos os jovens a fazerem uma experiência de encontro com Cristo, e se não for Cristo a agarrá-los, também não vamos ser nós…”.

 

Fazer comunidade

O padre Joaquim Gonçalves destaca que uma das suas prioridades nestes mais de quatro anos que leva em Alfeizerão tem sido mostrar a alegria que é pertencer a uma comunidade cristã. “Uma das frases inscritas no nosso calendário paroquial é uma frase de Santa Teresa de Ávila que diz precisamente: ‘Quem ama faz sempre comunidade, nunca fica sozinho’. Também o Papa Bento XVI tem-se referido várias vezes a isso, ou seja, que ninguém pode ser cristão sozinho!”.

Nesta perspectiva, o pároco de Alfeizerão nunca perde de vista a chamada nova evangelização. “O desafio está em passarmos de uma pastoral sacramental a uma pastoral de evangelização. A pastoral de evangelização é o encontro com Jesus, é o deixarmo-nos evangelizar por Ele, que é o nosso Pastor”. Segundo este sacerdote, “é de Cristo que nasce a comunidade, que nasce a família, a família dos amigos de Jesus”. O padre Joaquim deseja que a paróquia de Alfeizerão descubra o valor da comunidade cristã como lugar de encontro. “É muito importante participar na vida da comunidade. Porque quem vive fora da comunidade tem uma fé morta. Tem uma crença, mas não é uma fé cristã”.

 

Jovens, escuteiros e família

Além do grupo dos crismandos, a paróquia de Alfeizerão tem também um grupo de jovens, chamado ‘Sentinelas da manhã’, que foi buscar o nome a uma frase de João Paulo II aos jovens: ‘Vós sois os sentinelas da manhã’. É um grupo que reúne semanalmente e que é constituído por cerca de 30 elementos. “Os ‘Sentinelas da manhã’ realizam encontros de formação cristã e organizam também encontros inter-paroquiais. No fundo, procuramos que eles descubram a Igreja para além da paróquia!”. Este grupo de jovens desenvolve ainda uma actividade musical e costuma participar no Festival Vicarial da Música Cristã.

Os escuteiros têm também um papel evangelizador na paróquia de Alfeizerão. “São, sem dúvida, uma força viva da paróquia!”. Quando, em 2007, o padre Joaquim chegou à paróquia, já existia o agrupamento de escuteiros. Contudo, não havia espaço físico para as quatro secções se reunirem. Nos anexos do Centro Pastoral Paroquial foi então criada a sede dos escuteiros da paróquia. “A minha preocupação foi gerir o espaço em função da evangelização. Que cada grupo saiba que tem um espaço para se reunir, para se encontrar e para cuidar”, salienta.

Ao nível da pastoral familiar, a paróquia de Alfeizerão conta com um grupo de Equipas de Nossa Senhora que é “muito activo”. Há ainda o MEV – Movimento Esperança e Vida, que é um movimento de espiritualidade que procura ajudar e apoiar mulheres viúvas.

A paróquia tem ainda um grupo de catequese para adultos, orientado pelo padre Joaquim Gonçalves, que reúne todas as quartas-feiras à noite. “Há sempre pessoas que querem aprofundar a fé e há outros que andaram na catequese e que depois abandonaram e agora querem ser crismados”. Tal como noutras actividades, também a catequese de adultos é organizada de forma inter-paroquial, com a paróquia de São Martinho do Porto.

 

Idosos e crianças

Sendo uma paróquia rural, Alfeizerão tem também uma população envelhecida. “Segundo os últimos censos, a população de Alfeizerão ronda os 3900 habitantes. Obviamente, é sobretudo uma população que está a envelhecer, o que desafia imensamente a paróquia”, garante o pároco. A verdade é que a chamada crise trouxe para Alfeizerão muitas famílias novas. Outros regressaram a ‘casa’ após alguns anos nas cidades.

Ao nível das carências, o padre de Alfeizerão diz que “há algumas famílias que têm necessidades materiais” mas que “graças a Deus, não é um grupo grande”. Na área da pastoral social, esta paróquia conta com três realidades que procuram atenuar as carências da população: o ‘Grupo Sócio-Caritativo’, o serviço de roupeiro e as chamadas ajudas pontuais.

O novo Centro Comunitário Pastoral José Nazário, além da catequese, acolhe também o centro de convívio para idosos. “Este centro abriu no mês passado e já temos vinte idosos a frequentá-lo! O que significa que, em tão pouco tempo, era uma necessidade! É sobretudo um espaço de conforto para romper a solidão de estarem em casa sozinhos”.

No serviço da caridade, a paróquia de Alfeizerão conta ainda com o centro social paroquial, que é especialmente dirigido à infância. Inaugurado em 2009, o Centro Social Paroquial de Alfeizerão tem as valências de creche, pré-escolar e ATL, que são ‘ocupadas’ por 150 crianças.

 

A ‘nova’ igreja paroquial

Alfeizerão viu a sua igreja paroquial sofrer obras de restauro, conservação e embelezamento. Por detrás do altar foi colocado um quadro de cerâmica que procura desafiar a paróquia. “No novo painel estão duas cenas bíblicas, que podem ser um programa de pastoral para a nossa comunidade paroquial: o lava-pés – Jesus que lava os pés a Pedro – e a Eucaristia, com a representação da Última Ceia. Portanto, o nosso desejo é ser uma comunidade que está para servir, uma comunidade chamada a tornar-se humilde, serva no mundo, e por outro lado uma comunidade que tem de viver centrada na Eucaristia”.

O pároco de Alfeizerão, padre Joaquim Vieira Gonçalves, espera agora que esta ‘nova’ igreja seja evangelizadora. “Ser discípulos de Jesus compromete-nos! Faz de nós construtores da comunidade. Por conseguinte, vejo a igreja nova como expressão deste zelo, deste chamamento e deste intensificar de pertencermos à comunidade cristã”.

 

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Cardeal-Patriarca aprecia “igreja muito bela”

O Cardeal-Patriarca de Lisboa mostrou-se muito agradado com as obras de restauro, conservação e embelezamento da igreja paroquial de Alfeizerão. “Vós hoje tendes um motivo para exprimir a vossa alegria, que é reunirem-se nesta igreja restaurada e muito bela. Dou-vos os parabéns, a vocês e ao vosso pároco, porque está realmente muito bela”, salientou D. José Policarpo, durante a Missa de inauguração da ‘nova’ igreja, no passado dia 11 de Dezembro.

Neste 3º Domingo do Advento, o Domingo da Alegria, o Patriarca de Lisboa pediu à comunidade paroquial para fazer da igreja restaurada um lugar de encontro com Cristo. “A igreja é o lugar onde a comunidade se reúne para se encontrar a sério com o Senhor, que está aí, no meio de vós! Aqui pode ser o lugar onde vindes beber a verdadeira alegria da vida cristã e partir para as vossas casas, para o vosso trabalho, com o coração fortalecido. Porque a alegria fortalece o coração! A alegria cristã vence o sofrimento e a dor!”, garantiu o Cardeal-Patriarca, em Alfeizerão.