Foi nesta aldeia que o Irmão Roger fundou uma comunidade monástica que acolhe, ano após ano, dezenas de milhar de jovens (e menos jovens) das origens mais diversificadas, mas todos à procura de um sentido para a sua vida. O ‘fenómeno Taizé’ assenta num estilo de oração meditativa enraizada no canto e no silêncio.
A Comunidade
São cerca de 100 Irmãos, vindos de 30 países. Pertencem a diversas Igrejas Cristãs e vivem em contexto ecuménico. Há Fraternidades na Coreia do Sul, no Bangladesh, no Brasil, no Senegal e no Quénia. Vivem do seu trabalho, de forma simples, acolhendo jovens e menos jovens que pretendam fazer uma experiência de espiritualidade. Organizam as ‘Peregrinações de Confiança sobre a Terra’ e os Encontros Continentais de Taizé. Alguns Irmãos têm a missão de fazer visitas através do mundo para partilhar a experiência orante e ecuménica de Taizé.
Quem vem a Taizé?
O Irmão John tenta responder: jovens e menos jovens de todo o lado, com caminhadas eclesiais muito diversas, mas todos à procura de aprofundar a sua fé ou o sentido da sua vida. Uns chegam por ‘contágio’, outros por ‘curiosidade’. Querem, como sugeriu João Paulo II, beber da ‘fonte’, para saciar a sede de Deus e de reconciliação e, desta forma, continuar o seu caminho.
Ao toque dos sinos… a Oração
Em Taizé são os sinos quem comanda o ritmo do dia-a-dia. Ou melhor, é a oração. Às 8h15, às 12h30 e às 20h30, tudo pára em Taizé e todos os caminhos vão dar à grande Igreja da Reconciliação. Sentados no chão, os jovens vão, em silêncio, esperando a chegada dos Irmãos. Tudo o que se faz em Taizé encaixa-se neste ritmo e neste horário. Quem vai a Taizé sabe que, nestas horas, não há mais nada, porque na Igreja se vive o essencial. A Oração é a alma, o coração da vida desta Comunidade e de quantos com eles partilham uns dias de vida.
A oração segue a tradição monástica, com textos bíblicos, cânticos simples, preces e silêncio. O que mais impressiona e deixa marcas é sentir a serenidade e profundidade de alguns minutos em que estamos num Igreja cheia de jovens sentados, onde se escuta apenas a voz interior do silêncio.
Na Igreja tudo é simples: os jovens sentam-se no chão, a decoração é feita de ícones espalhados pelas paredes e, no fundo, estão aqueles panos laranja que lembram uma tenda, há tijolos no chão e há velas acesas. Tudo tão simples, tão denso e tão belo.
Simplicidade
É uma imagem de marca de Taizé. Os jovens chegam à colina vindos de sociedades e famílias onde a abundância e o desperdício são habituais, mas ali há uma aposta clara no essencial: o alojamento em camaratas ou tendas; a alimentação simples, servida ao ar livre e tendo como apoios um prato, uma malga e uma colher; uma Igreja onde não há bancos; reflexões e workshops ao ar livre ou em espaços cobertos. Há um esforço de concentração no que é fundamental: a relação com Deus, a fraternidade e espírito de partilha entre todos.
Ali todos se entendem. O ‘babel’ da confusão, cedo dá lugar ao ‘Pentecostes’ de todas as línguas. O grito pascal ‘Cristo ressuscitou verdadeiramente’, dito pelo prior em todas as línguas dos participantes (quase 30 em 2011), mostra a riqueza da diversidade e como é simples partilhar a vida mesmo quando a nossa língua e a nossa Igreja são diferentes das dos outros com quem partilhamos alguns dias de vida.
Voluntariado
Taizé não tem funcionários. Tem a Comunidade dos Irmãos, tem voluntários permanentes e conta com a colaboração de quantos ali estão. Assim se garante o acolhimento, a limpeza e manutenção de todos os espaços, a confecção e distribuição dos alimentos, a realização dos encontros temáticos e workshops, a acomodação e manutenção de um ambiente de silêncio na Igreja, a disciplina em todos os espaços e apelo ao cumprimento dos horários (levantar, deitar, participação nas orações, trabalhos de grupo de reflexão…). Também são os voluntários que asseguram o funcionamento do ‘Oyak’, um espaço de confraternização onde se pode comprar alguns bens alimentares e onde se pode cantar, dançar, beber um café ou até uma cerveja.
São os voluntários, como extensão da Comunidade, quem permite o funcionamento das actividades a preços tão baixos, fazendo uma experiência gratificante de serviço aos outros.
Partilha com alegria
A partilha faz-se nos pequenos grupos de reflexão, nas filas para as refeições, nos momentos livres, no Oyak. Faz-se a partir dos textos escolhidos da Bíblia e das Cartas do Prior da Comunidade (este ano o Irmão Alois escreveu a Carta do Chile). Sempre com um sorriso nos lábios. Mesmo quando se mandar fazer silêncio na Igreja, se vai mandar deitar os que fazem confusão à noite ou levantar os que parecem não alinhar na Oração ou Reflexão, sempre se adverte de forma simpática e sorridente. A última Carta de Taizé tem por título: ‘Uma opção pela Alegria’, focada na alegria de viver que deve caracterizar os cristãos.
Semana Santa e Páscoa
É especial na Colina de Taizé. Eram 3 mil a que se juntaram mais 2 mil para a Páscoa. A oração marca o ritmo, mas são importantes os tempos de reflexão com um Irmão e, depois, em pequenos grupos.
Na Quinta-Feira Santa houve a Eucaristia do Lava-Pés. A Sexta-Feira foi marcada pelo respeito pela morte de Cristo. Às 15h tocaram os sinos e tudo parou num silêncio que invadiu a colina. Neste dia o Oyak fechou e a Adoração da Cruz durou até às 6h30 da manhã de sábado, sempre com fila de jovens à espera da oportunidade de tocar na cruz e rezar.
A grande festa da Luz e da Ressurreição foi a Eucaristia do Domingo de Páscoa que terminou com o grito ‘Cristo Ressuscitou Verdadeiramente’, proclamado em todas as línguas dos participantes na Celebração.
Irmão Alois, Prior
Foi o sucessor do Irmão Roger como Prior desta Comunidade. Alemão de origem católica, dá continuidade às grandes intuições do Fundador. Na sua Mensagem de Páscoa, lida na Terça-Feira Santa, na véspera de partir para Moscovo, onde viveu a Páscoa em contexto Ortodoxo, o Irmão Alois falou da importância simbólica desta ‘Peregrinação a Moscovo’ com 240 jovens de 26 países. Partilhou o seu encontro com Bento XVI que lhe disse que era muito importante o que se faz em Taizé e considerou o Irmão Roger um “homem santo”. Convidou todos os jovens a participar no Encontro de fim de ano que se vai realizar em Berna.
E depois de Taizé?
Depois, foi a alegria associada às lágrimas do adeus, ou melhor, do ‘até breve’, pois Taizé continua, nas Igrejas locais, nas vidas de cada um. Na hora do regresso, os jovens são convidados a continuar a aprofundar esta dupla amizade a Deus e a todas as pessoas. Taizé pretende promover a criação de uma rede de amizade que ajude a construir a unidade dos cristãos e seja um sinal de paz para um mundo tão injusto e tão dividido.
Os Irmãos de Taizé estarão nas Jornadas Mundiais da Juventude, em Madrid, de 15 a 20 de Agosto, na Basílica Hispano-Americana de la Merced, próximo do Paseo de la Castellana (Metro: Nuevos Ministerios).
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Irmão Roger, Homem Santo…
O Irmão Roger, em Agosto de 1940, no início da 2ª Grande Guerra Mundial, deixa a suíça e entra em França, com o objectivo de lançar um projecto de comunhão, como sinal para uma mundo marcado pelo individualismo e a divisão. Queria construir uma comunidade que fosse uma ‘parábola de comunhão’, através da oração e do amor fraterno. Queria contribuir para a reconciliação de uma Igreja dividida, apostando no ecumenismo.
Comprou uma casa em Taizé, foi acolhendo quem fugia da guerra, incluindo judeus. Denunciado e com a vida em perigo, teve de fugir para a Suíça, mas regressou. Acompanhado dos que seriam os seus primeiros Irmãos, instalou-se na ‘colina da Paz’ onde os jovens começaram a chegar para campos de trabalho, oração, reflexão e partilha. A Igreja da Reconciliação tornou-se pequena e, na Páscoa de 1972, os muros foram derrubados para aumentar o espaço que hoje permite a presença de cerca de 5 mil pessoas, como estiveram nesta Páscoa de 2011.
Nos anos 70, o Irmão Roger lançou o ‘Concílio dos Jovens’ e, mais tarde, ‘a Peregrinação de Confiança sobre a Terra’ que tem levado, na passagem de ano, o espírito de Taizé a diversas cidades da Europa. Mais recentemente, a Comunidade lançou os Encontros Continentais, já realizados na Ásia, na África e na América.
Morreu a 16 de Agosto de 2005, na Igreja da Reconciliação. Foi assassinado durante a oração. O Irmão John conta que tudo começou com um momento de pânico e confusão. Depois, enquanto o retiravam da Igreja, um Irmão começou a cantar: ‘Laudete Omnes Gentes’ e houve paz, para mostrar que um canto de louvor é mais poderoso que um grito de pânico e medo. Nas exéquias, a 23 de Agosto, havia 15 mil pessoas em Taizé e foram muitas as mensagens que receberam, mostrando o impacto mundial da vida deste homem e da comunidade que ele fundou.
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