Há 125 anos atrás, estava-se nos preparativos. Não de malas nem bagagem, que isso era de somenos. Pouco seria necessário, a não ser um coração hospitaleiro e uma alma temperada pela fé.
De partida, quatro Irmãs ainda jovens, rumo à Índia.
Nada as assustava: nem o desconhecido nem a distância ou a longa viagem, nem as circunstâncias nem a missão. Uma certeza tinham: eram enviadas para anunciar Jesus Cristo com a vida e a palavra. Fizessem o que fizessem…iam em Seu nome Assim as orientara a sua Superiora, a Irmã Maria Clara do Menino Jesus.
E a 24 de Maio de 1886, recebeu-as Goa, com um mar revoltoso de monção. Todos os que conheciam o fenómeno, pensaram não sobreviver. Mas as Irmãs nem se aperceberam do perigo. Respirou fundo o Arcebispo que as chamara, quando as viu entrar porta dentro. E ajoelhou com elas, a agradecer a Deus estarem sãs e salvas… Só aí, elas se deram conta do risco que as cercou.
Recebida a bênção, foram conduzidas à nova missão: Chimbel, no Colégio da Santa Casa. Não foi fácil: os costumes, a índole e os preconceitos de superioridade daquelas educandas, de ascendência europeia, não as educaram ao trabalho, a horários ou métodos. Então, agora, teria de vigorar um processo educativo de destruir e reedificar… pela grande paciência, muita prudência e forte coragem.
Nesta tarefa, sufocadas por um clima insalubre, entre mudanças e doenças, viram falecer, vítima de febres, a religiosa mais jovem, a Irmã Bernardete de S. José - 21 anos! Das três restantes, a Irmã Clara, já afectada nos pulmões, ia-se desdobrando em coragem e sacrifício no ensino de música e do canto. O esforço desse trabalho levá-la-ia a retirar-se, algum tempo depois, para a Pátria, não fosse também sucumbir. Como diz a Crónica, “os sacrifícios de então não se poderão explicar, mas, no meio de tudo, era tal o espírito de caridade e união que nem por momentos perdiam a alegria e a coragem”.
Partindo umas, chegando outras, a missão foi prosperando no correr dos tempos: novas fundações iam surgindo. E a actuação destas Irmãs fez memória: As franciscanas, “ora nas escolas, instruindo e incutindo o amor do bem às crianças, ora também, à cabeceira dos doentes particulares, estimavam a ocasião que se lhes oferecia de exercer o importante mester de hospitaleiras”.
Tudo sacrificavam para acolher, servir, cuidar… dar-se. Por vezes, o insólito da caridade. É conhecido o episódio daquela religiosa que se dirige ao Hospital Militar. Olha e observa a sentinela. Parece-lhe com sintomas de grande enfermidade. Informa-se detalhadamente do seu estado. Insta com o jovem soldado: que recolha à enfermaria. Ela mesma o substituirá no seu posto. Toma-lhe a arma e… o resultado será da sua conta. Ali se postou, até que fosse rendida a sentinela. E a Crónica conclui: “Quando o capitão teve conhecimento do facto, louvou o raro expediente e a heróica caridade dessa religiosa”.
Poderíamos também falar do que, mais tarde, se vai passar no Lazareto do Forte dos Reis Magos. Para ali são atirados os empestados pela varíola. Ninguém nem os familiares nem médico ou enfermeiro se aproxima das vítimas. E os que o fazem, os serventes, a isso são obrigados. Também obrigadas, mas pelo amor, são as Irmãs da Mãe Clara. Dispostas a não medir sacrifícios, a arriscar a própria vida, oferecem-se voluntária e gratuitamente ao Governador, colocando-se em total disponibilidade para acudir àqueles doentes. Admiradas por muitos na sua coragem, conseguem desvanecer o horror do contágio e diminuir o êxodo dos atingidos.
Podemos também falar da Irmã Ernestina. Saía sempre cedo. Percorria ruas e vielas em busca de pobres e doentes lançados nas bermas dos caminhos. Aí morreriam sem amparo de ninguém. Porém, carregando-os aos ombros, levava-os para a missão. Corpos chagados, cheios de formigas, quase moribundos, deles tratava como se Cristo fossem…
E a Irmã Patrocínio, na Obra das Mães solteiras, e os seus diálogos com a polícia para resolver os problemas de bebés abandonados e encontrados nas valetas ou no lixo. Acabava por vencer a caridade…
É neste espírito de completa doação que vão actuando, até que a expulsão de 1910 as lança na Índia inglesa. Contam-se já muitas as vocações indianas, o que alargou bastante a expansão e a missão. Com o avançar dos anos, o leque das obras abre-se cada vez mais. Mesmo que a perda da autonomia de Goa, em 1961, vá impedir a entrada de Irmãs portuguesas, as de lá, as indianas, são já em bom número para poder subsistir. E vão aumentando em número. Rumam até às Filipinas e, recentemente, até Timor.
Que projecção alcançou, na Índia, a missão aberta pela Mãe Clara? As 324 Irmãs, distribuídas pelas 51 Fraternidades continuam as obras clássicas, mas, atentas aos desafios do tempo, são resposta às novas situações. Além de 18 Escolas e Colégios, dos 5 Hospitais e 3 Lares de 3ª idade, orientam e apoiam uma Escola Internato para crianças deficientes mentais. Trabalham com alcoólicos; aos estabelecimentos prisionais levam aconselhamento e apoio espiritual; nas Fraternidades de inserção, além da missão pastoral e de visitas domiciliárias, desenvolvem projectos de Promoção da mulher, projectos de micro-crédito e o projecto “Explicações pós aulas” acompanha as crianças nos seus estudos.
O testemunho de vida, de tantas e tantas Irmãs, concretiza bem o que Isaías, profetizava: “Fiz dele um testemunho para os povos” (55,4).
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