Pelo menos quatro cristãos foram mortos – um deles decapitado – na última semana na Diocese de Nacala, que faz fronteira com a província de Cabo Delgado, em Moçambique. A situação é dramática e D. Alberto Vera enviou mesmo um apelo através da Fundação AIS a pedir as orações de todos, dizendo que as “populações estão aterrorizadas e sem saída”. Há relatos de centenas de casas queimadas e de milhares de pessoas em fuga.
Durante a semana passada, desde o dia 10 de Novembro, que o distrito de Memba, na província de Nampula, em Moçambique, tem estado debaixo de ataque por parte dos grupos terroristas que desde 2017 assolam a região norte de Moçambique. Diversas localidades foram atacadas, havendo centenas de casas incendiadas, milhares de pessoas em fuga e pelo menos quatro cristãos mortos e duas capelas incendiadas. Há também relatos de pessoas raptadas, nomeadamente mulheres e crianças. A zona atacada pertence à Diocese de Nacala. “Foi uma semana de terror e de muito sofrimento”, descreveu D. Alberto Vera, em mensagem enviada ontem à noite para a Fundação AIS em Lisboa. Uma mensagem em que o Bispo de Nacala referiu a fuga de milhares de pessoas que procuravam abrigo nas cidades, tentando assim escapar à fúria dos homens armados que reivindicam pertencer ao grupo jihadista Estado Islâmico. Os ataques na região de Memba começaram na segunda-feira, 10, mas foram ganhando intensidade ao longo da semana. O Bispo fala em “pais e jovens que tiveram de sair correndo, alguns tiveram de sair na noite de sexta-feira [14 de Novembro] para chegar na manhã de sábado a lugares mais seguros”. As dificuldades de comunicação tornam difícil perceber o número exacto dos que abandonaram as suas casas, as suas aldeias. Mas D. Alberto assegura que foram milhares de pessoas. “São milhares de famílias que estão em sofrimento e que estão a fugir do terror dos terroristas. A confusão é muito grande”, afirma, acrescentando que “há várias aldeias em que queimaram a maioria das casas e há lugares em que houve mortos”.
“Terror em toda a parte”
O Bispo de Nacala refere ainda, na mensagem enviada para a Fundação AIS, que “numa das aldeias” os terroristas “mataram quatro cristãos, e que um deles foi decapitado, tiraram a cabeça”, relata, acrescentando que “há um vídeo está a correr por aí”, em que se vêem imagens macabras do crime. “Enfim, não posso dizer muito mais coisas, só que o terror está em toda a parte no distrito de Memba e parte também do norte e leste do distrito de Eráti”, afirma, explicando que a Igreja está “a apoiar as pessoas que conseguimos”. E descreve aquilo que é, neste momento, o mais urgente no apoio humanitário de emergência para todas estas populações deslocadas. “Falta sobretudo alimentos, kits básicos para atender as pessoas mais necessitadas, principalmente mulheres e crianças, que são as que vão à cabeça quando se dá a fuga de um lugar, e também os nossos padres”, disse. O cenário é dramático. O Bispo de Nacala refere, por exemplo, que “Memba é uma cidade deserta”.
128 mil deslocados, diz ONU
Segundo dados revelados pelas autoridades moçambicanas, a maioria dos ataques terroristas concentraram-se no posto administrativo de Mazula, nos dias 14 e 15, ou seja, sexta-feira e sábado da semana passada, e prosseguiram, já nesta segunda-feira, dia 17, para a sede do distrito de Memba, incluindo as localidades de Chipene e Baixo Pinta. A ONU estimou, entretanto, que cerca de 128 mil pessoas tenham fugido, em apenas uma semana, das povoações de Lúrio e Mazula, no distrito de Memba, província de Nampula, após ataques dos grupos extremistas. De acordo com um relatório do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), os primeiros relatos indicam que algumas casas – e uma escola – foram incendiadas, que propriedades foram saqueadas e civis mortos, feridos ou raptados. “Estão em curso deslocamentos populacionais, estima-se que 80% da população de Lúrio e Mazula (aproximadamente 128.000 pessoas) tenha fugido para áreas de mata próximas ou para outros distritos”, refere a ONU no referido relatório consultado pela Fundação AIS. “O medo de novos ataques e a persistente insegurança continuam a desencadear novos movimentos, à medida que se espalham rumores da presença de grupos armados não Estatais pelas áreas afectadas”, pode ler-se no documento em que se alerta, ainda, para “o surto de cólera” que está a tingir também o distrito de Memba.
Jihadistas “são fanáticos”
Face à violência demonstrada pelos terroristas e à destruição causada nesta nova onda de ataques, o Bispo de Nacala pede, através da Fundação AIS, as orações de todos. “Rezem muito por nós, pois isto é uma realidade incompreensível, intolerável”, e refere mesmo que os jihadistas do Estado Islâmico “são fanáticos” e que, por divulgarem vídeos de extrema violência, “dá a impressão de que são pessoas que estão malucas”. Para o prelado, “não tem sentido” haver pessoas “que se vangloriam de mortes, de destruição”. A mensagem de D. Alberto Vera à AIS termina com um apelo directo à oração de todos e à acção das autoridades para porem fim aos ataques terroristas. “Pedimos a Deus que nos ajude e nos conceda a paz. Também pedimos ao Governo moçambicano meios para combater [os terroristas] não só militarmente, mas também com diálogo e com meios internacionais. Muito obrigado e que o Senhor vos bendiga. Rezem muito por nós, pois realmente precisamos disso.”
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