Lisboa |
Diácono Afonso Sampaio Soares
“Jesus uniu todas as parcelas da minha vida”
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O diácono Afonso Maria Ataíde Sampaio Soares, de 31 anos, vai ser ordenado padre neste Domingo I do Advento, dia 30 de novembro, e fala com entusiasmo da nova missão, destacando sobretudo a graça de poder confessar e celebrar a Eucaristia. “Espero que Deus me envolva, me dê o seu coração e me faça ser Cristo para os outros. Quero que quem se cruza comigo sinta que Deus está perto”, afirma o futuro sacerdote do Patriarcado de Lisboa.

 

Da infância à descoberta de Cristo

Afonso Maria lembra-se da infância como um tempo de movimento e curiosidade. “Eu era elétrico”, ri-se. “Sempre a correr, sempre a inventar. Acho que os professores tinham o seu trabalho comigo”, assume.

Nasceu “numa família católica”, foi batizado na Paróquia de Aveiras Baixo, fez a catequese, a Primeira Comunhão, “tudo normal”, salientando que a fé estava lá, mas não de forma consciente. “Os meus pais e os meus avós deram-me tudo. Deram-me a fé, mas de forma natural, sem pressões. Íamos à Missa, fazíamos oração simples. Eu via e absorvia”, conta.

O “sonho de criança” era ser jogador de futebol, mas “jogador do Sporting”, observa, lembrando que acabou por “jogar râguebi federado, desde os 6 anos até aos 18”. As paróquias da Estrela e de Santa Joana, Princesa foram o seu primeiro “habitar eclesial”, acompanhado de perto pelos pais e pelos avós. “A Igreja era casa. Eu não entendia tudo, mas gostava de estar lá. Havia uma beleza que não sabia nomear”, aponta.

Apesar de ser “um aluno com muita energia e criatividade”, como confessa, o percurso escolar nem sempre foi fácil: “No Ensino Básico cheguei a ter oito negativas… mas depois houve um momento determinante, no 2.º Ciclo, quando um professor de Moral, Francisco Monteiro, me apresentou o Evangelho de forma clara e genuína. Apresentou-me Cristo de uma forma direta e honesta, e fez-se luz. Não foi uma emoção. Foi um encaixe”.

A partir daí, Afonso começou a ver o estudo com novos olhos. “Eu percebi: se Deus criou a realidade, o estudo é conhecer melhor o Deus criador. É uma forma de amar. E, de repente, aquela criança com oito negativas ganhou rumo”, declara.

“Quando Cristo apareceu, uniu todas as parcelas da minha vida. Percebi a razão pela qual se deveria estudar e conhecer a realidade do Criador. Para mim, viver é Cristo”, afirma este diácono de transição.

 

Entre o Direito e a inquietação interior

Após concluir o Ensino Secundário, Afonso Sampaio Soares entrou na Faculdade de Direito de Lisboa. “Gostei muito do curso. Direito dá-nos uma visão muito ampla da sociedade e ajuda a pensar. Fui um aluno razoável”, recorda.

Vivia como um jovem comum: amigos, estudos, projetos, dúvidas e até um namoro importante: “Eu imaginava-me como advogado, com uma família grande. Era uma imagem muito bonita para mim. Nunca pensei que Deus tivesse outros planos”.

Foi durante um retiro no Norte de Portugal que sentiu mais intensamente o chamamento. “Senti que Jesus me pedia qualquer coisa. Não sabia explicar, mas não era uma ideia. Era uma presença. Saí do retiro com uma pergunta que não me largava: ‘E se Deus me estiver a chamar?’”, recorda.

Foi então que procurou direção espiritual com o Cónego João Seabra, sacerdote do Patriarcado falecido em 2022. “Ele guiou-me com muita delicadeza, sem pressas, sem me empurrar. Disse-me: ‘Escuta. Escutar é mais importante do que decidir depressa’. E eu fui escutando. Ele acompanhou-me e ajudou-me a discernir os sinais de Deus, para ter certeza de que era Ele quem me chamava”, partilha.

Com o tempo, os sinais tornaram-se mais claros. “Houve um dia em que percebi que não conseguia namorar mais ninguém. Não era justo para a outra pessoa. A minha vida já estava virada para outro lado”, assume.

“A vocação, para mim, não caiu do Céu como um raio. Foi uma brisa que se foi tornando vento. Até que já não conseguia fingir que não a sentia”, acrescenta.

 

Uma escola de coração

Em 2017, Afonso Sampaio Soares entrou no Seminário de São José de Caparide para o Ano Propedêutico. “Entrei com medo, não vou mentir. Tinha medo de deixar a minha vida anterior. Mas descobri muito depressa que Deus não nos tira nada; Ele dá-nos tudo”, garante.

A experiência continuou no Seminário Maior de Cristo Rei dos Olivais, a partir do ano seguinte. Foram anos marcados por estudo, oração e crescimento humano, onde confessa ter vivido “tempos intensos, de desafios e de aprofundamento da fé”. “O seminário é uma escola de coração. A teologia é fundamental, mas a convivência, os irmãos, as dificuldades… são tão formativos quanto as aulas. Por outro lado, aprendi a deixar-me guiar por Deus e não a guiar-me sozinho”, considera.

O lema que escolheu para a Ordenação diaconal – ‘No alto do monte, o Senhor providenciará’ – nasceu dessa caminhada: “Percebi que não controlo tudo. Deus providencia, Deus conduz, Deus abre caminhos. Uma pessoa só precisa de se deixar levar”.

 

Música, missão e criatividade ao serviço do Evangelho

Durante a formação, Afonso redescobriu a música. Compondo e tocando guitarra, acabou por gravar oito canções que hoje integram o álbum ‘Oitavo Dia’, disponível no Spotify. “A música é uma forma de falar de Cristo aos jovens, de forma contemporânea e acessível. Diz aquilo que às vezes as palavras não conseguem dizer. Quero que os jovens sintam que Cristo é próximo, belo e atual”, manifesta.

Sobre o novo álbum, que foi publicado na semana antes da sua Ordenação presbiteral, explica: “Quis criar música cristã rítmica, que atraia os jovens e que fale de Cristo, que é beleza suprema. Cristo é atrativo por si mesmo, não precisamos inventar a pólvora”.

Participou também em projetos comunitários, bandas improvisadas com colegas de seminário e em iniciativas diocesanas. “A música ajuda a evangelizar de forma natural. Não precisamos de complicar. Cristo é suficiente”, reforça.

 

Experiência pastoral na Lourinhã

Após a ordenação diaconal, no passado mês de junho, o diácono Afonso Sampaio Soares tem colaborado na Paróquia da Lourinhã. “Ali descobri o que é, verdadeiramente, estar ao serviço. Não é só celebrar; é ouvir, acompanhar, estar com as pessoas no dia a dia. Tem sido uma riqueza poder conhecer toda a diocese, trabalhar em comunidade com outros padres e acompanhar jovens”, conta.

Nestes cinco meses, visitou os idosos, as escolas, pregou, escutou e acompanhou jovens e famílias. “Tive contacto com realidades muito diferentes. E percebi que o povo de Deus é muito mais vasto, mais humilde e mais belo do que imaginava”, diz. “As pessoas não pedem padres perfeitos. Pedem padres que amem. Que escutem. Que estejam presentes”, frisa.

 

A família e Nossa Senhora: pilares silenciosos

A vocação de Afonso Maria foi também moldada pela família e pela fé mariana. “A minha consagração a Nossa Senhora, em 2014, segundo o método de São Luís Maria de Monfort, foi decisiva. Nossa Senhora foi uma das grandes culpadas pelo meu ‘sim’. Ela conduziu-me devagarinho, pela mão. Quando olho para trás, vejo que estava sempre lá, a preparar tudo”, garante.

Os pais, o irmão Francisco, de 27 anos, e os avós acolheram a decisão com emoção e alegria. “Os meus pais dão um testemunho silencioso de fé. Nunca me pressionaram. Acolheram tudo com amor”, refere. A vocação, acredita, “vem da oração de uma família”. “Os meus pais e os meus avós foram fundamentais. Eles acreditaram sempre que Deus estava nas pequenas coisas. Aliás, os meus avós rezavam para ter um filho padre e agora veem o neto responder a esse chamamento. Deus tem sentido de humor”, considera.

 

“Deus está perto”

O jovem diácono Afonso Sampaio Soares, que vai ser ordenado padre neste Domingo I do Advento, fala com entusiasmo da iminente ordenação, particularmente da oportunidade de confessar e de celebrar a Eucaristia. “Espero que Deus me envolva, me dê o seu coração e me faça ser Cristo para os outros. Espero ser um padre segundo o coração de Cristo. Não quero complicar. Quero amar. Quero que quem se cruza comigo possa, pelo menos uma vez, sentir que Deus está perto. A vida são dois dias, mas decidimos uma eternidade. Quero anunciar a beleza do Evangelho e chamar os homens à eternidade”, deseja o futuro padre do Patriarcado de Lisboa.

 

Ordenações

O Patriarca de Lisboa, D. Rui Valério, vai ordenar um novo padre para a diocese e ainda 13 diáconos: oito com vista ao sacerdócio e cinco permanentes. A celebração de Ordenações vai ter lugar neste Domingo, dia 30 de novembro, às 16h00, na Igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa, e tem transmissão vídeo, em direto, no site e redes sociais (YouTube e Facebook) do Patriarcado.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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