Jubileu 2025 |
Jubileu do Mundo do Trabalho
Patriarca destaca o valor do trabalho como fator de esperança
<<
1/
>>
Imagem

O Patriarca de Lisboa, D. Rui Valério, destacou o valor intrínseco do trabalho enquanto gerador de esperança, no encerramento do Jubileu do Mundo do Trabalho, que decorreu na manhã deste sábado, dia 11 de outubro, no Fórum Lisboa, e reuniu várias associações profissionais católicas e entidades da Igreja.

“O trabalho é, ele próprio, um fator de esperança. Não vou dizer que é um sacramento da esperança, mas é um fator de esperança. Onde há trabalho há esperança”, afirmou.

Na última intervenção do Jubileu do Mundo do Trabalho, D. Rui Valério alertou, contudo, para a necessidade de distinguir entre diferentes realidades laborais: “E todo o trabalho é este fator, é sinónimo de esperança? Todo o trabalho é? O trabalho escravo, por exemplo, é um fator de esperança?”. A partir desta reflexão, sublinhou o papel das associações profissionais católicas no mundo laboral como agentes que introduzem valores humanos e cristãos no contexto do trabalho.

“É aqui que eu introduzo o valor, a pujança das associações católicas no mundo do trabalho. (…) O trabalho precisa de ser sinónimo de esperança, mas para que o seja, é necessário a introdução feita por pessoas, pelos seres humanos, de alguma coisa: os valores”, referiu.

 

Dignidade e justiça no centro da ação

O Patriarca realçou que o primeiro valor essencial é “a dignidade da pessoa humana”, vivida de forma concreta e quotidiana: “Vocês não imaginam o que é que para um trabalhador conta que o patrão saiba o nome dele ou o conheça pelo nome. (…) As nossas associações têm a incumbência de fazer com que o trabalho seja lugar de esperança, fator de esperança pela promoção desta dignidade – concreta, não abstrata, não teórica, mas real”.

Em segundo lugar, destacou “a justiça” como fundamento das relações laborais: “A justiça é restituir ao outro aquilo que é do outro, que lhe pertence. A diferença entre justiça e esmola é que uma esmola é uma dádiva de algo que é meu, mas eu dou ao outro, mas a justiça não. O trabalhador, quando no final do mês recebe o seu salário, aquilo é dele – é a materialização, em termos quantitativos, do tempo que ele dedicou”.

Para D. Rui Valério, trabalhar é também “um serviço a uma comunidade” e uma forma de participação na realização da humanidade.

 

Horizonte de transcendência e compromisso cristão

Ao longo da sua intervenção, o Patriarca lembrou que o trabalho deve apontar sempre para um horizonte de transcendência. “A presença dos católicos, do crente no mundo do trabalho, é sempre em vista de um presente, mas de um presente que se abra para o futuro. E nessa medida, tudo o que eu realizo, tudo o que eu construo, tudo o que eu fabrico, seja eu o empresário, seja eu o trabalhador, seja eu o profissional por conta própria, mas sempre em vista de um horizonte novo. Porque reparem, o trabalho existe não em função do passado. Com o trabalho eu posso, de certa forma, modelar um certo sentido de futuro. Por isso é que trabalho e esperança são duas palavras que estão muito associadas”, destacou D. Rui Valério.

 

Participação de múltiplas associações católicas

O Jubileu do Mundo do Trabalho contou com a presença de diversas associações e organismos da Igreja, entre as quais: Associação Católica dos Meios Independentes, Associação Católica Rural, Associação Católica de Enfermeiros e Profissionais de Saúde, Associação de Farmacêuticos Católicos, Associação de Juristas Católicos, Associação dos Médicos Católicos Portugueses, Associação dos Psicólogos Católicos, Associação Cristã de Empresários e Gestores, a Caritas Diocesana de Lisboa, Comissão de Justiça e Paz, Companhia das Obras, Liga Operária Católica - Movimento de Trabalhadores Cristãos, Juventude Operária Católica, Metanoia - Movimento Católico de Profissionais.

No final, o Patriarca de Lisboa lançou um desafio concreto às associações e organismos presentes, inspirado nos apelos dos Papas Francisco e Leão XIV: “Vou terminar com um desafio que nos foi lançado pelo saudoso Papa Francisco, e que foi assimilado pelo Papa Leão: que sejamos todos peregrinos da esperança”.

 

“Artesãos de esperança” no mundo do trabalho

Na Eucaristia conclusiva do Jubileu do Mundo do Trabalho, D. Rui Valério destacou a dignidade humana, a inspiração cristã no ambiente laboral e a necessidade de unir fé e ação. Inspirando-se no historiador italiano Giacomo Martina, o Patriarca recordou que “a Europa foi evangelizada pelo trabalho”, sublinhando o testemunho dos monges que, com a sua presença nos campos e oficinas, anunciaram o Evangelho não apenas com palavras, mas através do exemplo e da vida quotidiana.

Durante a homilia, D. Rui Valério destacou as palavras de Jesus: “Felizes os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática”, afirmando que a fé se torna plena quando é traduzida em ações concretas. “No mundo do trabalho, isto é muito claro: cada tarefa, cada esforço, cada compromisso é sempre palavra transformada em gesto. O trabalho é uma palavra atuada”, afirmou.

O Patriarca apresentou a Virgem Maria como ícone da Palavra encarnada, exemplo de quem soube unir escuta e ação. “Maria foi a primeira artesã da Palavra, aquela que conjugou o ouvir e o fazer”, disse, lembrando que todo o trabalho humano pode ser lugar de salvação e manifestação do amor de Deus.

Referindo-se à Doutrina Social da Igreja, D. Rui Valério reiterou que “o trabalho é vocação e missão”, caminho de dignidade e colaboração com a obra criadora de Deus. Citando São João Paulo II, lembrou: “O trabalho é para o homem e não o homem para o trabalho”, apelando a condições justas, salário digno, tempo de descanso e proteção da família.

Com base na leitura do profeta Joel, o Patriarca reconheceu os desafios do mundo laboral – precariedade, exploração e insegurança –, mas anunciou uma mensagem de esperança: “O coração de Deus é casa aberta para todos os trabalhadores, sobretudo para os que carregam o peso da injustiça ou do desemprego. No coração de Deus há sempre futuro”.

D. Rui concluiu lançando um apelo concreto aos fiéis, indicando caminhos para viver a fé no trabalho: escutar a Palavra, promover o diálogo e o respeito, lutar por justiça e dignidade, reconhecer cada trabalhador como filho de Deus e transformar as empresas em lares e lugares de bem-aventurança.

“Que Maria, Senhora do Magnificat e Mulher trabalhadora de Nazaré, nos ensine a unir sempre Palavra e vida, fé e ação”, terminou.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
A OPINIÃO DE
Pedro Vaz Patto
No âmbito das celebrações do ano jubilar no Patriarcado de Lisboa, catorze organizações católicas (Ação...
ver [+]

Tony Neves
Há notícias que nos entram pelo coração adentro deixando-nos um misto de sentimentos. A nomeação do P.
ver [+]

Tony Neves
O Papa Leão XIV disse, há tempos, que ‘antes de ser uma questão religiosa, a compaixão é uma questão de humanidade.
ver [+]

Guilherme d'Oliveira Martins
A presença em Portugal do Cardeal Pietro Parolin constituiu um acontecimento que merece destaque, uma...
ver [+]

Visite a página online
do Patriarcado de Lisboa
EDIÇÕES ANTERIORES