O Patriarca de Lisboa considera que a paz é “um dos bens que não depende apenas do esforço humano”, descrevendo-a como “uma parcela de Céu a acontecer aqui na terra”. D. Rui Valério falava na mesa-redonda ‘Os filhos de Abraão: Paz, valores, estado e construção social’, realizada no Colégio Pedro Arrupe, em Lisboa.
O encontro decorrido na tarde desta segunda-feira, dia 6 de outubro, foi promovido pela disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) deste colégio e contou também com a participação do Xeque David Munir, Imã da Mesquita Central de Lisboa, e a moderação do jornalista António Marujo. Na assistência, estiveram sobretudo alunos, mas também pais e antigos alunos. Recordando a sua experiência como capelão militar e Bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança, D. Rui Valério evocou cenários de guerra na Bósnia, República Centro-Africana e Roménia, sublinhando que, nesses contextos, “as pessoas, até no olhar, transmitiam medo, preocupação, desconfiança”. O Patriarca relatou depois um encontro com o Arcebispo de Bangui, capital da República Centro-Africana, que lhe contou que “desde 2013 que a vida do país parou, não se produz, não se constrói, as crianças e adolescentes não vão à escola”. O grande projeto local era “aproximar as crianças e os adolescentes da escola”, com a construção e o equipamento de salas de aula. “Estou a falar de tudo isto para introduzir ao tema da paz. O tema da paz quer salvaguardar e promover, antes de mais, a vida e a dignidade do ser humano. É por isso que as religiões estão profundamente comprometidas com a causa da paz. Porque está, toda a religião está, o cristianismo e o catolicismo estão comprometidos com a causa do ser humano e, por isso, estão comprometidos com a causa da paz. Tanto mais que, para nós, a paz é um dos bens que nós estamos conscientes de que não é fruto só do esforço humano. Eu estou convencido que se a paz tivesse que ser só fruto do esforço humano, com todas as reuniões e alianças e congressos que se fizeram, desde as Nações Unidas, o que acontece em cada país, essa paz já cá estava e ela não está. Portanto, nós olhamos para a paz como se fosse uma parcela – e vocês compreendem a linguagem –, uma parcela de Céu a acontecer aqui na terra. É um pedacinho de Céu, lá onde existe a paz”, afirmou. Justiça: condição essencial para a paz Para D. Rui Valério, a paz “não é apenas um dom, mas também uma construção” que implica condições concretas. “Só quando há, e onde há, justiça, há paz”, sublinhou, recordando que a paz imposta após a Primeira Guerra Mundial teve “uma duração escassa” por não respeitar a dignidade e a justiça. Referindo-se à situação no Médio Oriente, o Patriarca partilhou uma imagem usada por um Bispo Auxiliar do Patriarca Latino de Jerusalém, D. Bruno Varriano, com quem se encontrou recentemente em Lisboa: “Nós procuramos ter uma mão sobre o ombro de cada uma das partes beligerantes. Assim, a paz é possível. Não é possível se, por exemplo, tu estiveres com o pé em cima de um deles. Aí não constróis paz”. Religião como horizonte de fraternidade Neste encontro com os jovens estudantes, D. Rui Valério destacou ainda que todas as religiões propõem um horizonte mais amplo para a sociedade. “A paz oferece ao ser humano a possibilidade de ver mais longe, mais além”, afirmou, lembrando como, em contextos de guerra, as pessoas tendem a tornar-se “profundamente individualistas e egoístas”. Citando um “famoso mestre oriental”, concluiu: “Começa a ser dia, começa a ser luz, quando um ser humano olhando para o outro é capaz de reconhecer nele um irmão. Até que isso não aconteça, nós permanecemos nas trevas”. “A conversão é fundamental” Questionado sobre o papel dos crentes na construção de um mundo sem armas, o Patriarca de Lisboa sublinhou a importância da transformação interior: “Tudo tem que partir dentro de cada um de nós. Nós temos que resolver a nossa interioridade, os bloqueios que nós próprios construímos. Até que nós nos estejamos resolvidos a esse nível, continuamos a levantar muros e não somos capazes de construir pontes”. “Eu sei que é uma palavra que não é nada da política, mas a conversão, aqui, é fundamental. E se nós, na humildade, não a acatarmos, é muito difícil estabelecer esta ligação e estas pontes com os outros”, rematou, no final da mesa-redonda ‘Os filhos de Abraão: Paz, valores, estado e construção social’, realizada no Colégio Pedro Arrupe, em Lisboa.![]() |
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