Jornal Voz da Verdade

23.09.2025

Mundo |

Mais de 3 anos de guerra na Ucr�nia pelo olhar do Bispo de Donetsk

�Ningu�m v� o que se passa�

� um dos mais jovens bispos do mundo. Aos 45 anos, D. Maksym Ryabukha est� � frente de um vasto territ�rio que abrange as regi�es de Donetsk, Luhansk, Danipr e Zaporizhzhia. Praticamente, tudo nomes bem conhecidos, pois indicam lugares que t�m estado no centro da guerra na Ucr�nia. De facto, metade da diocese deste bispo est� ocupada por for�as russas e por isso inacess�vel para ele.� At� a catedral est� fechada. O Bispo denuncia, � Funda��o AIS, o terror dos bombardeamentos, dos ataques com os drones, e apela � solidariedade de todos.

A situa��o na Ucr�nia e muito particularmente nos territ�rios que comp�em a diocese do Bispo Maksym Rayabukha est� “cada vez pior”. Em visita � sede internacional da Funda��o AIS, o prelado tra�a um retrato duro da realidade no seu pa�s que est� em guerra desde que come�ou a invas�o das tropas russas em Fevereiro de 2022. As consequ�ncias da guerra t�m sido terr�veis para todos os ucranianos, mas t�m sido particularmente dram�ticas para muitos dos que vivem na sua diocese e que abrange as regi�es de Donetsk, Luhansk, Danipr e Zaporizhzhia. Cerca de metade do seu exarcado – o equivalente oriental a diocese – est� ocupado por for�as russas e por isso inacess�vel. At� a catedral est� fechada. Para D. Maksym – que se define a si pr�prio como ‘bispo sobre rodas’ – os dias s�o passados em viagem, para estar o mais pr�ximo poss�vel das pessoas, do seu rebanho. E todos os dias escuta relatos de viol�ncia, medo e terror. “A situa��o est� cada vez pior. Os drones tornam qualquer lugar inseguro, inclusive para civis. Ao longo da linha da frente, a cerca de 30 km do meu territ�rio, as pessoas abandonam as casas � noite, com medo de morrer esmagadas, e v�o dormir no campo, junto aos lagos. Um rapaz contou-me que dormia com toda a fam�lia quando ouviu uma bomba aproximar-se e percebeu que ela podia cair sobre a casa. Em segundos, saltaram da cama e sa�ram; pouco depois, todo o edif�cio era uma cratera. Uma experi�ncia destas pode arrasar uma pessoa. � algo muito destrutivo”, relata o prelado.

“O pior nem s�o as bombas…”

A guerra veio alterar a vida de todos. E isso � tamb�m particularmente vis�vel na sua diocese. “Antes da guerra t�nhamos mais de 80 par�quias; agora temos apenas 37 activas. As restantes fecharam, foram ocupadas ou destru�das”, explica. O facto de grande parte do territ�rio da diocese estar ocupado pelas for�as russas significa muito. A come�ar pela proibi��o de “qualquer filia��o com a Igreja Cat�lica, seja greco-cat�lica, ou de rito latino”. Na pr�tica, explica o bispo, isto significa que “� muito dif�cil prestar qualquer tipo de assist�ncia religiosa. J� n�o temos sacerdotes nesses territ�rios; todas as nossas igrejas foram destru�das ou est�o fechadas, e as pessoas n�o podem frequent�-las”. Mas os que vivem em zonas ocupadas t�m mostrado enorme capacidade de resili�ncia. “Recebo not�cias dos territ�rios ocupados sobre os la�os entre os fi�is. Apesar de viverem em perigo, sentem-se parte de uma mesma Igreja: apoiam-se mutuamente, encontram-se, partilham sonhos e esperan�as, rezam juntos, mesmo com o risco de vida e sem poder faz�-lo em p�blico. � isso que lhes d� for�a para continuar”, diz. Uma for�a que � fundamental num tempo em que, por causa da guerra, as pessoas sentem que as suas vidas est�o a desmoronar. E o bispo diz que “o pior de tudo nem s�o as bombas, mas sim a sensa��o de abandono, de se estar sozinho ou de n�o ter valor para ningu�m”.

�“Jovens extraordin�rios”

Neste momento, na diocese existem dois bispos – al�m de D. Maksym Ryabukha h� um prelado em�rito –, 53 sacerdotes e oito religiosos. Nas quatro regi�es que fazem parte da diocese h� par�quias que t�m centros de apoio �s fam�lias, casas religiosas e grupos paroquiais, al�m ainda de sete centros da C�ritas. Mas o mais importante, real�a o bispo, s�o os 19 seminaristas. No contexto da guerra, eles s�o sinal de esperan�a para o futuro. “Temos 19 seminaristas. � um n�mero elevado para n�s, pois n�o somos uma grande eparquia. Estes jovens s�o extraordin�rios. Cresceram em grupos juvenis paroquiais e t�m uma profunda experi�ncia de vida crist�. Fazem perguntas s�rias e profundas. Tanto rapazes como raparigas procuram sentido para a vida, s�o corajosos e amadureceram muito como pessoas. Antes, muitos sentiam-se perdidos e n�o sabiam o que fazer, porque a vida era complicada. Agora h� clareza”, afirma. O exemplo destes 19 rapazes que sonham com o sacerd�cio � significativo e � tamb�m um exemplo da import�ncia do apoio que a Funda��o AIS tem dado, atrav�s da generosidade dos seus benfeitores e amigos, � Igreja ucraniana.

Agradecimento sentido aos benfeitores da AIS

A ajuda � forma��o de seminaristas � apenas um exemplo, mas o bispo destaca muitas mais �reas que t�m beneficiado com a solidariedade da AIS. A quest�o do apoio a crian�as e jovens traumatizados � exemplar. “O trauma psicol�gico da guerra leva muitas crian�as a perder a capacidade de ler, escrever ou falar. Precisamos de especialistas para trabalhar a sa�de mental destes jovens e aprender a ajud�-los. Por isso, estamos a organizar forma��o psicol�gica para sacerdotes e agentes paroquiais. Tamb�m apoiamos m�es e esposas com filhos que perderam o marido na guerra. Muitos t�m dificuldade em regressar � normalidade, presos � ideia de que a pessoa podia estar viva, mas perdeu a vida por causa da estupidez de algu�m”, relata o prelado. “As pessoas que vivem junto � linha da frente n�o t�m acesso a alimentos nem a produtos de higiene. Todos os dias recebo pedidos:� � a� que entra o apoio social e humanit�rio. Outro grande desafio � o Inverno, quando as centrais de energia s�o bombardeadas e a electricidade falha. Sem luz, n�o h� aquecimento e torna-se imposs�vel encontrar um lugar quente e seguro. As par�quias fazem o que podem para oferecer espa�os onde as pessoas possam recuperar, com cozinhas e servi�os essenciais”, acrescenta. Por tudo isto, D. Maksym Ryabukha fez quest�o de deixar uma mensagem a todos os que colaboram com a funda��o pontif�cia, sublinhando a import�ncia de todos os gestos de solidariedade. “N�o imaginam o bem que fazem. N�o � apenas a ajuda material, � o afecto que o benefici�rio sente. Nenhum dos que recebe ajuda sabe de onde vem, mas sente que algu�m pensa nele, que � amado.”

texto por Paulo Aido, Funda��o Ajuda � Igreja que Sofre