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Patriarca de Lisboa na homenagem da UCP ao Cardeal D. António Ribeiro
“A sua presença discreta e firme tornou-se farol de esperança para a Igreja”
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Reunimo-nos hoje para prestar homenagem à pessoa, ao legado e ao testemunho de Sua Eminência, o Senhor Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. António Ribeiro. Recordar a sua vida é revisitar um tempo exigente da nossa história recente, no qual a sua presença discreta e firme se tornou farol de esperança para a Igreja e para a sociedade portuguesa. Ainda no passado sábado, no encontro que marcou o Jubileu das Autoridades, que se designou ‘Compromisso com a Cidade’, as diversas instâncias da sociedade portuguesas presentes, desde a política às forças armadas e de segurança, passando por diplomatas, juristas e outras personalidades, testemunharam o relevo da Igreja Católica em Portugal e, mais concretamente, do Patriarcado de Lisboa no diálogo com as diversas autoridades. É justo que neste momento de homenagem a D. António Ribeiro se assinale que ele foi o grande artífice desse compromisso da Igreja com a construção da democracia em Portugal numa sociedade plural.

Neste momento, e nesta homenagem, permiti-me assinalar três aspetos que me parecem sempre importantes sublinhar do legado do Cardeal Ribeiro. Em primeiro lugar, todos reconhecem que D. António Ribeiro foi um homem de poucas palavras, mas de grandes gestos. Não era dado a discursos inflamados, nem a palavras fáceis. A sua sobriedade no falar refletia uma profunda sabedoria forjada na escuta, no discernimento e na oração. No entanto, quando se impunha a sua voz, ela surgia com autoridade moral e clareza de convicções. Mais do que pelas frases que proferia, marcou-nos pela força dos seus gestos, pela proximidade serena e pelo cuidado atento às pessoas e às comunidades que lhe estavam confiadas.

Em segundo lugar, não podemos esquecer o papel decisivo que teve na vida social portuguesa, na delicada passagem para a democracia. Em tempos de mudança e de incerteza, D. António Ribeiro soube afirmar com firmeza o princípio da liberdade: a liberdade da consciência e da dignidade de cada pessoa e a liberdade da Igreja em poder estar presente na esfera pública, sem medo nem condicionamentos. A sua intervenção discreta, mas firme, ajudou a garantir que a Igreja não se retirasse do espaço comum, antes continuasse a iluminar com o Evangelho a construção da nova sociedade democrática. Foi essa coragem serena que deu confiança a muitos e ofereceu à nação uma referência de equilíbrio e de esperança. Não será demais recordar, quando ainda se falam dos 50 anos do 25 de Abril, do papel decisivo de D. António, logo na Carta Pastoral do Episcopado português de 16 de julho de 1974, sobre o contributo dos cristãos para a vida social e política, cuja autoria, ainda que assinada por todo o Episcopado, há quem afirme que era, em grande parte, do próprio D. António Ribeiro. Um texto que contém intuições ainda muito relevantes e que merece ser revisitado. Mas a influência do Patriarca de Lisboa na transição democrática foi particularmente decisiva na segunda metade de 1975, quando foi um dos aliados para que se alcançasse em Portugal aquilo que era a aspiração do povo, que tinha falado nas urnas de voto. De sublinhar que em tudo isto, no seu compromisso com a situação política de Portugal, António Ribeiro fez com que a sua mensagem se conservasse sempre e principalmente evangélica e nunca política.

Por fim, no seio da própria Igreja, D. António Ribeiro dedicou-se com empenho à reforma da vida pastoral do Patriarcado de Lisboa. Procurou dinamizar as paróquias, reforçar a formação dos sacerdotes, dar novo vigor à pastoral universitária e à ação social da Igreja. Sob a sua orientação, o Patriarcado abriu-se a novos caminhos de corresponsabilidade dos leigos, de diálogo com a cultura e de renovação do anúncio cristão, sempre em fidelidade ao Concílio Vaticano II. Foi Pastor atento, que desejou uma Igreja viva, presente, capaz de responder aos sinais dos tempos. De sublinhar a grande atenção ao clero, do qual soube ser verdadeiramente pai, e o trabalho incansável com os jovens, bastando recordar, entre muitos eventos, a Missa para os jovens com o Papa João Paulo II, no Parque Eduardo VII, em maio 1982, que surgiu como que um primeiro ensaio do que viria a ser a experiência da Jornada Mundial da Juventude, que em 2023 aconteceu também naquele mesmo lugar.

Senhoras e senhores, ao recordarmos D. António Ribeiro não prestamos apenas homenagem a um homem do passado. Reconhecemos um Pastor que soube unir firmeza e delicadeza, prudência e coragem, tradição e renovação. A sua memória continua a inspirar-nos no caminho da fé e no serviço ao bem comum. Podemos recordar o alerta que deixava numa homilia de 1996: “Estejamos atentos, o Senhor não gosta de discípulos perturbados, receosos, inseguros, que sucumbem à tentação do desânimo ou da fuga”.

Por tudo isto, agradeço à Universidade Católica Portuguesa a iniciativa de recordar o Cardeal Ribeiro. Espero que seja oportunidade de regressar com espírito atento e generoso ao seu magistério. Obrigado.

 

Lisboa, 15 de setembro de 2025

† RUI, Patriarca de Lisboa

   
 

Cardeal D. António Ribeiro – uma homenagem

A Universidade Católica Portuguesa (UCP) homenageou o Cardeal D. António Ribeiro, antigo Patriarca e Magno Chanceler desta universidade de 1971 a 1998, numa sessão na manhã desta segunda-feira, dia 15 de setembro.

Na Sala de Exposições do Edifício da Biblioteca, na UCP, em Lisboa, após a intervenção da reitora da universidade, Isabel Capeloa Gil, teve lugar uma mesa redonda com quatro convidados que privaram de perto com o Cardeal Ribeiro: Cónego Álvaro Bizarro, Cónego Francisco Tito, Padre Peter Stilwell Maria Luísa Falcão.

A sessão foi moderada pelo Padre José Manuel Pereira de Almeida e encerrou com a intervenção do Patriarca de Lisboa, D. Rui Valério.

fotos por Diogo Paiva Brandão
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