«Elevados com Cristo,
viver na esperança, na alegria e na missão.»
Queridos irmãos e irmãs,
Querido povo de Deus reunido nesta celebração jubilar,
A graça e a paz do Senhor Jesus ressuscitado estejam convosco!
1. Desta maravilhosa paisagem de festa, por sermos a Igreja de Lisboa a celebrar em júbilo a esperança e a comunhão, erguemos os olhos do coração para, juntos, contemplar a Ascensão de Jesus ao Céu. Não é um adeus, não é uma despedida! Não é um afastamento. É, antes, um mistério de presença nova e mais próxima. Jesus não sobe ao Céu porque está cansado da terra, mas para estar connosco de um modo ainda mais íntimo e penetrante. Eleva-Se para nos elevar, vai para o Céu para abrir caminho a todos nós. É como o sol que sobe no horizonte: não se afasta para desaparecer, mas para iluminar mais ampla e profundamente a terra. Cristo ressuscitado sobe ao Céu para ser o Senhor de tudo e em tudo estar presente, em tudo fazer história. Vitória! Vitória de amor, vitória da fé, vitória da esperança. Vitória de Cristo que nos mostra o céu da eternidade, o céu da morada de Deus, mas também vitória nossa: como discípulos do Ressuscitado não oferecemos só projetos ideais de sociedade, ou coerentes caminhos éticos e morais, fazemos algo mais – nós somos artesãos de muitos céus aqui na terra: da fraternidade, da paz, da justiça, do amor.
Este Dia Jubilar Diocesano, é um «momento forte» «para nutrir e robustecer a esperança» (Papa Francisco, Bula Spes non confundit, n.º 5), porque celebra aquela maravilhosa boa nova confessada de «esperar a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir»: sim, esta vida, plena, eterna, é o horizonte da existência, como o céu é o horizonte da elevação de Jesus. Deixemo-nos envolver pelo mistério da Ascensão do Senhor, que traça três etapas para a nossa Igreja diocesana.
2. Primeira: Jesus sobe ao Céu, deixa de estar presente apenas num único lugar geográfico ou num determinado tempo histórico e passa a estar em todos os lugares e em todos os tempos. É sempre atual e, por isso, Ele está connosco sempre e em todo o ladTambém nós, somos chamados não só a ir para o Céu, como Jesus, mas a sermos, nós próprios, um céu, para amar e acolher Cristo que vem até nós, e dá-lo aos irmãos. Santa Teresinha, quando procurava a sua vocação na Igreja, descobriu que a sua era ser um coração de amor. Deixa que Cristo tome posse de ti, como se apoderou do céu na sua ascensão, para seres proximidade e força do que é definitivo.
A vida cristã é uma peregrinação para o alto, uma elevação interior, um caminhar da fé para a fé (cf. Rm 1, 17). Por isso, os cristãos não podem andar sem rumo, cansados, tristes e com medo do futuro… Jesus, na Ascensão, oferece um novo horizonte à existência humana e, sobretudo, oferece um novo estilo de viver, um estilo de amor, o estilo do próprio Jesus. Abracemo-lo e vivamos a vida nova.
3. Segunda etapa: Jesus leva consigo a nossa humanidade. Ele não entra sozinho na glória do Pai. Leva-nos com Ele. Eleva a nossa carne, a nossa história, a nossa vida. Já não somos apenas seres do tempo, somos chamados à eternidade. Já pertencemos ao Céu! A nossa vida não está à deriva: está nas mãos de Cristo glorioso. A Ascensão revela-nos que temos um destino: a comunhão eterna com Deus. É por isso que vivemos já com dignidade e esperança.
Hoje é preciso anunciar que vale a pena viver, que a vida tem sentido, que o amor é mais forte que o ódio, e que Cristo é mais forte que a morte. Não podemos guardar isto só para nós: é nosso dever anunciar e anunciamos quando nos tornamos construtores de uma sociedade mais justa, fraterna e de paz.
4. Terceira: Jesus deixa-nos uma promessa: a vinda do Espírito Santo. Esta promessa propriamente é a Esperança. A esperança não dá só a força ou resiliência para superar obstáculos ou dificuldades, não é uma espécie de aspirina, ela enxerta-nos na plenitude da vida, recria-nos, faz de nós homens novos em grado de encontrar vida, onde muitos só veem morte; capaz de descobrir caminhos, onde outros só encontram obstáculos; de ver luz, quando todos estão mergulhados em trevas. Sim, ao subir aos céus, Cristo não nos deixa tudo já feito – não é como as mães que, antes de viajar, deixam tudo pronto, basta ir ao frigorífico. Não. Ele confia-nos uma missão e dá-nos as ferramentas: a principal chama-se Esperança. Uma esperança forte, que constrói estradas onde só há muros; que acende luzes, quando tudo parece escuro; que nos torna invencíveis enquanto as dificuldades esmagam tudo.
Com esta esperança, Jesus envia-nos em missão: «Sereis minhas testemunhas… até aos confins da terra!» (At 1, 8). A Ascensão não é o fim, mas início. Não é fuga, é envio. Somos hoje enviados a ser uma Igreja que vive com alegria, com luz, com verdade. Uma Igreja que não foge do mundo, mas o transforma com o coração em Deus. Uma Igreja que é farol «não tanto pela magnificência das suas estruturas e pela grandiosidade dos seus edifícios […], mas pela santidade dos seus membros, do povo que Deus adquiriu» (Papa Leão XIV, Homilia, 9 de maio de 2025).
E por isso, irmãos, deixai que vos diga com toda a força:
– Não vivas como quem perdeu o rumo!
– Não desistas de sonhar!
– Não deixes roubar a alegria do Evangelho!
5. No limiar do Pentecostes, voltamo-nos para Maria, Mãe da Esperança e da Missão. Ela, que guardou todas as promessas no coração, nos ajude a levar ao mundo a luz de Cristo:
Virgem Maria,
Estrela da Nova Evangelização,
olhai com amor pelo nosso Patriarcado de Lisboa.
Ajudai-nos a partir em missão,
com coragem, com alegria, com fidelidade!
Que a luz do vosso Filho, Jesus,
ilumine as trevas do mundo,
e chegue, por cada um de nós,
a todos os corações feridos, confusos, desanimados.
Ensinai-nos a vossa ternura,
o vosso olhar materno e atento,
a vossa disponibilidade total.
Fazei de nós servidores da luz,
da fé viva, da esperança firme, da caridade operosa,
para que nasça uma nova civilização:
de amor, de justiça e de paz. Amen.
Jardim do Estoril, 31 de maio de 2025
† RUI, Patriarca de Lisboa
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