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Homilia na Missa de ação de graças pela eleição do Papa Leão XIV
Que Leão XIV esteja “disposto a gastar-se até ao fim para que Cristo seja conhecido e amado por todos”
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1. Reunimo-nos hoje nesta Eucaristia em ação de graças, com os corações cheios de esperança, pela eleição do novo Sucessor de Pedro, o Papa Leão XIV. A Igreja, guiada pelo Espírito Santo, reconheceu nele aquele que foi chamado a apascentar os cordeiros e as ovelhas de Cristo, a conduzir o povo de Deus no caminho da fé, da esperança e da caridade.

Nesta hora luminosa da vida da Igreja, a Liturgia da Palavra oferece-nos a chave para compreender a missão que o Espírito Santo confiou, por meio da Sé Apostólica, ao novo Romano Pontífice.

 

2. No Evangelho escutámos o belíssimo diálogo entre Jesus ressuscitado e Simão Pedro. «Simão, filho de João, tu amas-Me?» — pergunta Jesus não uma, mas três vezes. E a cada resposta, confia-lhe uma missão: «Apascenta os meus cordeiros», «apascenta as minhas ovelhas». A autoridade que Cristo confia a Pedro nasce do amor, entendido como capacidade de dar a própria vida. Não é domínio, mas serviço. Não é prestígio, mas responsabilidade. Não é privilégio, mas cruz.

Hoje, a mesma pergunta ressoa no coração do Papa Leão XIV: «Amas-Me?» E, como Pedro, o Santo Padre responde com humildade e confiança: «Senhor, Tu sabes tudo, bem sabes que Te amo». É deste amor — provado, purificado e perseverante — que brota a força para guiar o povo de Deus pelas veredas da história.

Pedro não é escolhido por ser perfeito. É escolhido por amar. Não por não ter caído, mas por ter chorado e voltado ao Senhor. O Papa Leão XIV recordou-nos, na sua primeira homilia, que esta missão se baseia num «tesouro» que a Igreja guarda e transmite: a confissão de fé que Pedro pronunciou em Cesareia de Filipe – «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo» (Mt 16,16). Esta é a rocha sobre a qual se edifica a Igreja, esta é a luz que nos guia no meio das trevas, esta é a esperança que não engana.

 

3. E como é oportuno que esta eleição tenha ocorrido em pleno Jubileu de 2025, em que nos descobrimos «Peregrinos de Esperança»! A Providência oferece-nos um sinal eloquente: um novo Papa para um novo tempo de graça, um novo Pedro para conduzir o povo santo de Deus como peregrino da esperança no meio das tribulações do mundo.

Hoje, somos chamados a redescobrir a beleza da esperança cristã: não como fuga da realidade, mas como coragem para transformar o mundo com a luz do Evangelho. Como recordou o Papa Leão XIV, vivemos tempos em que a fé é ridicularizada ou ignorada, e em que muitos procuram segurança no poder, na tecnologia, no dinheiro ou no prazer. Mas é precisamente a este mundo que a Igreja é enviada como «farol que ilumina as noites», como casa da misericórdia e escola de santidade.

Também nós, como os Apóstolos de que nos fala a primeira leitura, somos testemunhas. Testemunhas de que Jesus passou fazendo o bem, testemunhas da sua cruz e da sua ressurreição, testemunhas da sua presença viva entre nós. Hoje, damos graças porque o Senhor, mais uma vez, olhou para a sua Igreja e disse: «Tu és Pedro» – tu serás pedra firme no meio das ondas do mundo.

 

4. O Papa Leão XIV não nos falou apenas de doutrina. Falou-nos de um olhar. O olhar do mundo, muitas vezes indiferente ou hostil ao Evangelho, e o olhar da fé, que reconhece em Jesus não apenas um profeta ou um sábio, mas o Filho do Deus vivo. E disse-nos que esta é a hora de testemunhar com coragem a alegria da fé, sobretudo onde ela parece estar ausente ou desvalorizada. Mas como pode a Igreja realizar este testemunho? «Não tanto pela magnificência das suas estruturas ou pela grandiosidade dos seus edifícios, mas pela santidade dos seus membros», como de forma luminosa afirmou Leão.

A primeira leitura dos Atos dos Apóstolos recorda-nos que a missão da Igreja tem origem na experiência viva do Ressuscitado: «Comemos e bebemos com Ele depois de ter ressuscitado dos mortos». Também nós, alimentados pela Eucaristia, somos enviados a testemunhar que Jesus é o único Salvador, juiz dos vivos e dos mortos, esperança de toda a humanidade. Só em Cristo vivo e ressuscitado encontramos o fundamento da civilização do amor. Só Cristo oferece aquela paz que entra no coração, como o Papa afirmava na sua primeira saudação, na varanda da Basílica de São Pedro.

 

5. Na beleza do salmo, proclamámos: «Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor». Que estas misericórdias se renovem no ministério do novo Papa, que elas fecundem o tempo do Jubileu e que todos os filhos da Igreja encontrem novo ardor para caminhar como peregrinos de esperança. Também nós, Igreja de Lisboa, queremos ser voz neste canto novo, em uníssono com o Papa Leão. Queremos ser Igreja sinodal e missionária, sem medo de testemunhar Cristo. A missão é urgente, precisamente naqueles lugares que em «não é fácil testemunhar nem anunciar o Evangelho».

Rezemos, pois, pelo Santo Padre Leão XIV. Que o Senhor o sustente com a força do Espírito, o ilumine com a sabedoria do Alto e o console com o amor de todo o povo de Deus. Que ele seja, como desejava Santo Inácio de Antioquia, um Bispo que preside na caridade, disposto a gastar-se até ao fim para que Cristo seja conhecido e amado por todos.

Confiamo-lo à Virgem Maria, Mãe da Igreja: Rainha dos Apóstolos, é aquela presença materna que consola os discípulos do seu Filho. Contamos com a sua intercessão pela missão do novo Papa, que pedimos que proteja com o seu manto, o fortaleça com a sua intercessão e o conduza sempre ao Coração do seu Filho. Amen.

 

Sé Patriarcal, 9 de maio de 2025

† RUI, Patriarca de Lisboa

 

 

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