A Fundação Famílias comVida, em parceria com a Pastoral da Família do Patriarcado de Lisboa, realizou no dia 15 de março, no Seminário da Torre d’Aguilha, em São Domingos de Rana, Cascais, a sua 1.ª Jornada, com o tema ‘Acompanhamento Familiar, Lugar de Esperança’, tendo sido evidenciado “a importância do acompanhamento familiar”.
O evento reuniu cerca de uma centena de participantes, incluindo equipa e orientadores da Famílias comVida, sacerdotes, religiosas, catequistas, representantes de movimentos e organismos católicos e civis dedicados à pastoral e ao apoio social às famílias.
Ao longo das conferências e painéis “foi evidenciada a importância do acompanhamento familiar”, segundo um comunicado, tendo sido “destacadas duas conclusões fundamentais: “A aceitação do acompanhamento – para que uma pessoa ou família possa ser acompanhada, é essencial que reconheça essa necessidade e saiba onde procurar apoio; A importância da formação dos acompanhadores – a boa vontade, por si só, não é suficiente. Quem acompanha deve agir com empatia, formação e conhecimento, criando vínculos de confiança e ajudando as famílias a encontrarem elas próprias soluções para os desafios que enfrentam”.
Segundo o casal responsável pela Pastoral da Família do Patriarcado de Lisboa, Regiani e Tiago Líbano Monteiro, “todas as ações de promoção da família ganham hoje maior importância”. Neste sentido, a 1.ª Jornada Famílias comVida permitiu aliar “a boa vontade dos participantes à sabedoria de especialistas na área”, capacitando os agentes de pastoral com ferramentas eficazes para apoiar famílias.
A Família: esperança e desafio
A sessão inaugural da 1.ª Jornada Famílias comVida contou com a intervenção de Maria Teresa Ribeiro, psicóloga clínica e docente nas áreas de Psicologia da Família e Intervenção Familiar. “A especialista sublinhou que todas as famílias atravessam transições e reajustes, que podem ser encarados como oportunidades de crescimento e esperança”, ressalva a nota.
O evento foi coorganizado com o Instituto de Estudos Superiores da Família da Catalunha (Espanha), responsável pelo Curso de Pós-Graduação em Acompanhamento e Orientação Familiar. Nas duas conferências que apresentou, na manhã e na tarde da jornada, Maria Pilar Lacorte, mestre em Matrimónio e Família pela Universidade de Navarra, enfatizou que “a melhor ferramenta de acompanhamento familiar somos nós mesmos, ao voltarmos a ser família”, ajudando cada família a descobrir a sua vocação única.
Esta responsável sublinhou a importância do acompanhamento das pessoas e famílias, independentemente das suas condições de vida, religião ou formação. Para Lacorte, partindo da ideia de que “Deus é Amor, ao dar-nos vida”, situamo-nos num âmbito “que é o mais parecido ao que Deus é, um amor gratuito, livre e incondicional, sendo a vida da família onde de forma natural aprendemos a viver las virtudes teologais, onde aprendemos não só que Deus existe, como também que é um Deus que nos ama, que dá sentido às várias vicissitudes da nossa vida e onde aprendemos a amar e a ser amados na vida quotidiana”.
“A família não é apenas a esperança da humanidade, é também o lugar onde a esperança começa”, afirmou Maria Pilar Lacorte, que destacou ainda que “todas as famílias enfrentam desafios em algum momento da vida”, independentemente da sua origem ou condição. Segundo a especialista, “embora nem todas tenham a sorte do amor familiar, todas podem encontrar esse amor com o encontro de pessoas que são relações de referência que, de uma forma vivencial, dão a conhecer a experiência do amor incondicional”.
Para Lacorte, o amor familiar, apesar de parecer uma coisa pequena, é capaz de transformar o mundo. “As pequenas coisas mudam tudo, pois são elas que impulsionam uma mudança cultural”, enfatizou.
Com mais de 20 anos de experiência na formação para o acompanhamento familiar, Lacorte, também jurista, reforçou que “a família tem um fundamento claro: somos seres pessoais e sexualmente diferenciados, e essa é a base material do que é ser família”. Acrescentou que “não somos família porque temos fé, mas porque somos humanos”.
Para que o acompanhamento familiar seja bem feito, defende que “a melhor ferramenta somos nós próprios, enquanto família, ao tornarmo-nos referência para outras famílias”. Dessa forma, cada família pode descobrir a sua vocação na diversidade das experiências e vivências.
Segundo esta responsável, “acompanhamento familiar não é aconselhar, controlar ou manipular”. Pelo contrário, trata-se de “criar espaço para que as famílias encontrem sentido na sua própria experiência, oferecendo suporte, ferramentas e recursos”.
A partir da sua vivência como esposa, mãe e avó, Maria Pilar Lacorte enfatizou que “não se deve dizer às famílias o que fazer, mas antes ajudá-las a descobrir a sua missão ou vocação como família”. Acompanhar é “estabelecer um vínculo, não apenas estar presente”.
O acompanhamento familiar pode desenvolver-se em vários contextos, como mediação, educação, pastoralmente e nas redes sociais. Neste último caso, Lacorte destacou o papel fundamental dos jovens, que, ao dominarem o universo digital, podem ajudar outros jovens.
Independentemente do contexto, M. Pilar Lacorte considera essencial que exista “confiança”, capaz de gerar vínculos autênticos e geradores de vida, e não apenas ligações funcionais voltadas para a resolução imediata de problemas.
A beleza da família como referência
Para Lacorte, a melhor forma de gerar confiança e ser referência é mostrar “a beleza da família tal como ela é”. Salientou que o grande desafio atual é contrariar a ideia de que “ser moderno é não casar”, uma ideologia cada vez mais imposta. “Fazer acompanhamento familiar não é algo eclesial, não é questão de conversão. É ajudar a fazer compreender que a felicidade familiar é possível”, e que “o coração humano está feito para o amor familiar”.
Questionada sobre como acompanhar pessoas que vivem sozinhas, Lacorte respondeu que “o primeiro passo é mostrar proximidade, estar presente”. Sublinhou que as famílias vivem realidades muito diversas, separações, divórcios, famílias monoparentais, e que, fundamentalmente, “é essencial encarar a realidade como ela é”.
“A família não é a Disneylândia, é a vida real”, frisou, acrescentando que seria ilusório prometer uma vida sem dificuldades. “O acompanhamento familiar não é magia, o foco deve estar no que cada casal ou família procura”, diz.
O acompanhamento não deve ser visto como uma estratégia, mas sim como “uma exigência do amor cristão”. No entanto, Lacorte alertou que “só se acompanha quem quer ser acompanhado”, por isso é necessário um modo de estar diferente perante as pessoas e as suas circunstâncias.
Para acompanhar, defende, é necessário ter “realismo otimista, um olhar agradecido, empatia, escuta ativa e coerência”. Sublinhou ainda a importância da “paciência e criatividade” como atitude de quem acompanha, pois o objetivo não é “eficácia a curto prazo”.
Maria Pilar Lacorte concluiu afirmando que “é fundamental olhar para o que funciona em cada família, valorizar os aspetos positivos e, a partir deles, encontrar soluções para as dificuldades”. Afinal, “o verdadeiro fundamento da família é aprender a amar, não é ser eficaz”.
“Testemunhos inspiradores”
O painel ‘Caminhando com as Famílias’, moderado pelo Padre Lourenço Lino, trouxe “testemunhos inspiradores” sobre acolhimento familiar. O Padre Fernando Sampaio sublinhou que no acolhimento e acompanhamento às pessoas a importância de “escuta ativa”. O sacerdote é presidente do GEscuta, criado em 2026 no âmbito do Patriarcado de Lisboa, como movimento-associação dedicada a acolher pessoas em crise e/ou em sofrimento, onde uma equipa de pessoas com formação específica, de forma voluntária, gratuita e confidencial, presta acompanhamento psico-emocional.
Atualmente com três gabinetes, em São Mamede/Lisboa, em Nova Oeiras e na Capela do Colombo, e com duas dezenas de voluntários, o GEscuta tem o propósito de abrir em breve dois novos gabinetes de escuta em Rio de Mouros/Sintra e em Alcobaça, anunciou o Padre Fernando Sampaio.
As pessoas chegam ao GEscuta, partilhou, pelos contactos disponibilizados online, referenciadas por outras pessoas que já conhecem o atendimento, ou por intermédio das paróquias ou do Patriarcado de Lisboa. Atendem pessoas do todo o país, ainda que mais da área do Patriarcado de Lisboa. “O método base que usamos é o da relação de ajuda. A maioria dos voluntários são psicólogos, mas o gabinete de escuta não é um gabinete de psicologia, e também não é um confessionário. Ajudamos as pessoas a ultrapassar as suas dificuldades emocionais, os problemas que as apoquentam”, partilhou.
“O luto é um dos problemas que afeta muito, muito, as pessoas e não pensem que que é apenas o luto da morte de um familiar, de uma criança, do pai, da mãe, às vezes é o luto da morte do gato ou do cão”, partilha ao mesmo tempo que sublinha que no atendimento não é feita discriminação em relação a nada, nem a ninguém. Por vezes há situações em que as pessoas têm de ser encaminhadas para atendimentos especializados, por exemplo de psiquiatria, já que o GEscuta está direcionado para a área da saúde mental.
“A escuta é uma arte de bondade, é necessário dar possibilidades às pessoas”, a escuta ativa funda-se assim, referiu o Padre Fernando Sampaio, nas atitudes “de empatia, do não julgamento, da autenticidade na relação e na comunicação”, isto porque “não basta olhar é preciso saber escutar, a escuta é cheia de misericórdia e bondade”.
Inês e Francisco Vilhena da Cunha, casados há 21 anos com oito filhos entre os 17 e 3 anos, deram o seu testemunho como casal. Fazem parte da equipa do Curso de Preparação para o Casamento da Paróquia de Telheiras, apoiam grupos de casais e a Inês fez parte do primeiro grupo Famílias com Vida formado pelo Patriarcado de Lisboa para prestar acompanhamento familiar.
De entre os vários programas que dinamizam e com os casais que acompanham também promovem encontros em sua casa, onde recebem os casais e as famílias. Neste caso é valorizada a integração em ambiente familiar, o que também facilita já que Inês e Francisco são pais de uma família numerosa. “Alguns casais começaram a participar antes de se casar”, referem, partilhando que nos encontros que promovem tem procurado seguir as catequeses e ensinamentos do Papa Francisco.
“Não somos nós que os acompanhamos, todos nos acompanhamos uns aos outros”, partilham. Ao comentar que sentem que “há muito medo” da vida familiar, sobretudo por parte dos novos casais, propõem: “É preciso normalizar aquilo que é uma família”.
Marta de Sousa Macedo foi outro dos testemunhos na 1ª Jornada Famílias comVida. É casada com António de Sousa Macedo, que também participou na jornada, tem duas filhas e cinco netos. Viveu em Lisboa quase toda a sua vida, mais recentemente foi viver para Arruda dos Vinhos, onde é orientadora Famílias comVida. Com o marido integra ainda a equipa do Curso de Preparação para o Matrimónio da Paróquia da Arruda dos Vinhos. É licenciada em Antropologia, foi professora do Ensino Básico, atualmente ensina online português a estrangeiros. Desde muito cedo ligada à Igreja Católica, a Marta colabora em diversos projetos de voluntariado, dimensão que considera essencial na sua vida. “Nunca pedi uma oportunidade, a missão/serviço foi sempre uma exigência para mim neste percurso de atenção aos outros”, disse.
“Não andamos atrás de ninguém, é muito importante que as pessoas que procuram ajuda sejam protagonistas da sua vida. (…) Ser orientadora da Famílias comVida é estar na prática a trazer os valores do Evangelho para a vida”, referiu.
Considera que a formação que fez para ser orientadora foi importante, “ficamos mais preparados, para fazer melhor”. Neste seu serviço, partilha, “dou espaço à pessoas, sou mais uma presença do que dizer coisas, aconselhar, o que para mim foi difícil, porque sempre fui conselheira, mas acompanhar é saber ouvir, por isso temos de ser humildes”.
A 1.ª Jornada Famílias comVida encerrou com a celebração eucarística presidida pelo Patriarca de Lisboa, D. Rui Valério, que, segundo a nota, “refletiu sobre a importância da escuta ativa e do papel divino da família na perpetuação da criação”.
Famílias comVida
A 1ª Jornada Famílias comVida foi o momento mais visível da transição da presidência da direção da Fundação Famílias comVida, com os dois diretores a tomarem parte ativa na jornada.
O Cónego Rui Pedro Carvalho foi até há pouco o diretor da Fundação Família comVida e está na dianteira do projeto desde o seu início, em 2016. “Faço um balanço muito positivo deste caminho feito passo a passo. O projeto Família comVida surge da iniciativa de D. Manuel Clemente e também do desejo da Pastoral da Família do Patriarcado de capacitar famílias para acompanharem outras famílias. Foi um caminho de muito discernimento, a começar devagarinho, a formar os orientadores familiares, a fazer parcerias com a Universidade Católica, com o Instituto e Ciências Políticas, e de começar a chegar às paróquias”, recordou o sacerdote que, na altura da criação do projeto depois elevado a Fundação, era o diretor da Pastoral da Família do Patriarcado de Lisboa.
Da sua experiência nesta missão, o Cónego Rui Pedro Carvalho refere algumas dificuldades, que continuam a existir: “Sabemos que não é fácil começar, muitas famílias fecham-se nos seus problemas e dificuldades e esta ponte entre as famílias e as paróquias nem sempre é um trabalho fácil, mas pouco a pouco fomos dando passos”. A lógica de serviço, sublinha o sacerdote, é sempre a de “famílias a acompanhar famílias”, seja “no apoio às famílias em dificuldade, seja a potenciar famílias crescer a amor”.
A Fundação Famílias comVida tem agora como presidente o Padre Miguel Rodrigues, pároco da Parede, que também participou em todo programa da 1.ª Jornada da Família comVida e no final se dirigiu aos participantes: “Que as Famílias comVida continuem este caminho, que nos capacite enquanto agentes da Pastoral a fazer o nosso trabalho nos sítios onde trabalhamos, agora ainda mais capacitados. A Famílias comVida procuram ser também isto, ir ajudando a que cada um possa, através dos recursos que nos são oferecidos, procurar levar por diante esta missão tão importante da Igreja”.
Próximas atividades
No seguimento desta 1ª jornada, a Fundação Famílias comVida e a Pastoral da Família do Patriarcado de Lisboa vão continuar a oferecer formação especialmente dirigida a pessoas leigas, membros do clero e consagrados que trabalham com as famílias ou muito próximo delas, no âmbito da vida e dos serviços paroquiais, incluindo as de movimentos que estejam ao serviço nas paróquias. Os dois primeiros workshops terão lugar no mês de maio.
O primeiro, no dia 17 de maio, entre as 10h00 e as 13h00, na sede da Famílias comVida [Rua Manuela Porto 12D, Carnide, Lisboa], sobre o tema ‘Lazer Sério e Envelhecimento Positivo: estratégias para uma vida plena’, vai formar para o acompanhamento às pessoas e famílias na etapa do envelhecimento. Terá como formadora Alexandra Veiga d’Araújo, investigadora na área da Longevidade.
O segundo workshop, sobre ‘Acompanhar Famílias em segunda união ou separadas’, está agendado para a manhã do dia 24 de maio, na Paróquia da Parede, entre as 9h30 e as 12h30, com formação a cargo do Cónego Rui Pedro de Carvalho e do casal Luís e Maria João Faria.
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