Lisboa |
Rito de Eleição
Patriarca convida catecúmenos a uma “atitude de dádiva total ao Senhor”
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O Patriarca de Lisboa, D. Rui Valério, presidiu ao Rito de Eleição de 101 catecúmenos (maiores de 16 anos) que vão ser batizados na próxima Vigília Pascal, convidando-os a configurarem-se e a conformarem-se “com Cristo”. Celebração teve lugar na Sé Patriarcal, no Domingo I da Quaresma.

“Caras irmãs e caros irmãos, o episódio do Evangelho conhecido como das Tentações de Jesus, além de sugestivo, além de muito provocador, tem uma aderência plena à circunstância que estamos a viver: caras e caros eleitos, estais no momento de aproximação a esse maravilhoso mistério que é o de morrer e de ressuscitar com Jesus Cristo, ungidos pelo seu Espírito, pelo Batismo”. Foi desta forma que o Patriarca de Lisboa iniciou a sua homilia no Rito de Eleição dos catecúmenos.

Na tarde deste Domingo, dia 9 de março, D. Rui Valério lembrou depois que, “no Batismo do Jordão”, Jesus se tinha “revelado ao mundo como o ungido de Deus, como o filho de Deus”, e que, “depois, retira-se durante 40 dias no deserto”. “Este retiro de Jesus no deserto por 40 dias está muito relacionado com o seu projeto de vida enquanto Messias, como é que Jesus vai realizar a sua identidade de ser o Messias, de ser o filho de Deus, de ser o Salvador”, salientou.

“Com uma linguagem muito da atualidade, poderíamos dizer que Ele está a elaborar o modo de realizar a sua missão de Messias, de viver a sua vida de filho de Deus. É uma coisa que tem a ver convosco. Ides receber o Batismo, que significa isso? O que é que me dá? O que é que me traz? Então, nós verificamos que esta personagem que aparece, o demónio, o diabo, ele no fundo é o porta-voz de uma determinada mentalidade, de uma determinada maneira de ver a vida, de ver a existência e de ver as coisas”, acrescentou.

Neste sentido, alertou, “tudo aquilo que o diabo vai sugerir a Jesus focaliza-se na pessoa do ‘eu’, do ego e ponto final parágrafo”. “É como se fosse uma sugestão de Jesus viver em função dele próprio. E por isso faz-lhe aquelas três sugestões, que nós chamamos as três tentações, que são maneiras de entender o que significa ser Messias, o que significa ser Cristo, o que significa ser filho de Deus”, salientou.

 

Primeira tentação

Perante os candidatos, acompanhados dos respetivos padrinhos, madrinhas, familiares e amigos, o Patriarca frisou depois a “primeira tentação” do diabo, quando Jesus “sentiu fome”. “«Transforma. Se és filho de Deus, transforma estas pedras em pão e, assim, podes comer». É uma tentação diabólica, caras irmãs e caros irmãos, porque esta mesma sugestão Jesus há de ouvi-la uma outra vez, quando está na Cruz. Esta tentação consiste em propor a Jesus usar todo o seu poder de filho de Deus, toda a potencialidade que Ele possui enquanto Messias, mas de usar tudo isso em proveito próprio, em função de si mesmo. Foi uma tentação que acompanhou Jesus ao longo da sua vida. Quando Jesus respondeu «nem só de pão vive o homem», Jesus revela, desse modo, que não vive em função de si. Jesus veio para servir, para ser para os outros”, realçou. Por isso, “mais importante do que aquele pão que nós consumimos, é importante aquele pão que se partilha, que se dá, ao qual tu estás a chamado a ser, nós estamos a chamados a ser, esse pão partido e repartido”, reforçou D. Rui Valério.

 

Segunda tentação

Na celebração que contou com a participação do Coro da Catedral de Lisboa, o Patriarca sublinhou, depois, que “o diabo não desiste e faz-lhe uma segunda proposta tentadora”. “É uma tentação diabólica, em que o conduz a um alto monte, lhe mostra os reinos e, depois, sugere: «podes mandar aqui, podes dominar isto tudo, podes ser tu a ditar as regras, a impor do teu ponto de vista e tens esta multidão, tens estas nações a teus pés, prostrados». É uma tentação difícil de resistir. Caras irmãs e irmãos, esta sede de reconhecimento, esta sede do êxito, isto tem muita força, como diria o Carlos Paião. Mas isso tem um preço, e o preço é que o próprio Jesus se subjugue a um alguém que escraviza. O que Jesus nos revela é que a única adoração, é que a única fé, é que a única adesão existencial a Alguém que me liberta é aquela minha união com Deus. Tudo o resto nos escraviza”, lembrou, dirigindo-se novamente de forma particular a cada um dos catecúmenos: “Ser cristão e ser batizado, como sabeis, é viver a plenitude da liberdade dos filhos de Deus. Aquela liberdade que nos é transmitida pelo Espírito Santo. Nunca permitas, ou nunca permitamos nós, de sermos servos de outro Senhor que não servo daquele Senhor que nos liberta da servidão ou do servilismo, que é Deus. Viver obcecado com ídolos, permitir que a existência seja ditada por dependências, isso é sempre uma forma de escravidão. É por isso que a nossa fé cristã é uma fé libertadora”.

Desta forma, D. Rui Valério reforçou que “o cristianismo é uma proposta, não é uma imposição”. “No dia do teu Batismo, serás chamado a dar uma resposta. Tu respondes se queres ser batizado, se aceitas ser filho de Deus. E quando tu respondes, aquele teu ‘Sim’ é um sim de um homem e de uma mulher livre, livre para a liberdade de Deus”, observou.

 

Terceira tentação

Nesta celebração promovida pelo Setor da Catequese de Lisboa, o Patriarca frisou que “o demónio não desiste” e faz “a terceira sugestão, esta, porventura, muito atrativa, que é levá-lo ao pináculo do tempo”. “O termo da proposta é este: «Se és filho de Deus, podes-te lançar daqui para baixo que nenhum mal te acontece. Antes, serás poupado». Esta tentação tem tudo que ver connosco. E então aqui nos países do sul da Europa, nem queiram saber o quanto é uma realidade presente. Sabem o que é que isto significa? Significa que a Jesus está a ser sugerido que aquilo que é válido para os outros, aquilo que é uma lei feita para todos, Ele pode contorná-lo. Ou seja, quem se lança de um pináculo, aquilo que é natural é que quando caia em baixo aconteça uma tragédia – é a lei da natureza, diríamos nós. Mas a Jesus está a ser dito que, uma vez que Ele é filho de Deus, Ele pode contornar isto. Sabeis que isto, em muitos fóruns, em muitas sedes, em muitas geografias, esta tentação tem sido a principal causa para o atraso de povos, para o atraso de tantas comunidades. Que nem todos vivem debaixo dos mesmos critérios, das mesmas regras, da mesma lei, que há sempre quem contorne, há sempre quem se desvie. Aquilo que Jesus nos mostra é aquela grandeza da responsabilidade. O Batismo é a consignação, a ti, de uma responsabilidade. Não só de ti, mas da responsabilidade da tua comunidade, da responsabilidade de alguém, da responsabilidade do anúncio do Evangelho. É por isso, então, que com esta terceira tentação nós abrimo-nos a um compromisso de construtores de uma sociedade diferente”, manifestou.

 

Harmonia

No final da homilia, D. Rui Valério focou-se na segunda leitura e na primeira leitura, para “captar aquilo que são critérios de ação, e até operativos, que nós vamos amar, vamos abraçar e vamos interiorizar”.

“Com o coração se acredita, com os lábios se professa a fé, com as mãos se constroem, com os pés se vai ao encontro. E quando nós vivemos esta harmonia em Cristo, do nosso ser, então acontece aquele milagre com que terminava São Paulo quando dizia que já não há diferença entre judeu e grego, a discriminação acaba, terminam os muros entre os povos, entre as nações. Mas atenção: o mundo só será um paraíso de fraternidade, de harmonia, quando tu, cristã, tu, cristãos, vives esta harmonia dentro de ti próprio. Se nós em nós somos como desarmonizados, depois não vamos querer que o mundo seja harmonizado”, salientou.

 

“Dádiva total ao Senhor”

O último convite do Patriarca de Lisboa foi a “recentrar tudo em Deus, que é o Senhor do mundo, o Senhor da vida, o Senhor do criado”. “Por isso, somos solicitados a apresentar-lhe as primícias, os primeiros frutos da terra, para dizer que Ele é o Senhor da vida, é o Senhor da terra. Ele é o Senhor, não o demónio”, garantiu D. Rui Valério.

“Deus é o centro da tua vida, Ele é o Senhor do mundo, é o Senhor da História, é o Senhor do Universo. É Ele! Então o nosso Batismo, caras irmãs e irmãos, é para nos consignarmos, para nos enxertarmos em Cristo, numa atitude de dádiva total ao Senhor. Bendizemos o Senhor, a este chamamento que te lançou, te chamou por nome para O seguir e, hoje, convida-te a plasmares-te, inteiramente, à sua imagem. És chamado a configurar-te e a conformar-te com Cristo. Deus seja louvado e que a Igreja vos acompanhe na vossa caminhada de vida cristã”, desejou o Patriarca de Lisboa, dirigindo-se aos 101 catecúmenos.

O Rito de Eleição dos catecúmenos 2025 teve 101 inscritos, que estiveram presentes na Sé Patriarcal. Segundo o Sector da Catequese de Lisboa, os catecúmenos eram originários de 11 vigararias da diocese: Amadora (19 catecúmenos, de 4 paróquias), Cascais (5 catecúmenos, de 2 paróquias), Lisboa III (5 catecúmenos, de 2 paróquias), Lisboa IV (13 catecúmenos, de 3 paróquias), Lisboa V (2 catecúmenos, de 1 paróquia), Loures-Odivelas (15 catecúmenos, de 5 paróquias), Lourinhã (4 catecúmenos, de 1 paróquia), Oeiras (15 catecúmenos, de 5 paróquias), Sacavém (1 catecúmeno, de 1 paróquia), Sintra (20 catecúmenos, de 3 paróquias) e Torres Vedras (2 catecúmenos, de 1 paróquia).

fotos por Patriarcado de Lisboa
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