A especialidade de Ginecologia-Obstetrícia pode acompanhar várias mulheres da mesma família, em diferentes fases do seu percurso: com carácter informativo e profilático na adolescência, na preparação para a gravidez e acompanhamento e deteção precoce de diversas patologias na idade adulta, e na garantia da saúde e bem-estar, na pós-menopausa.

A primeira consulta de Ginecologia é, na verdade, um passo importante na saúde da mulher. Deve acontecer entre os 13 e os 15 anos e é uma oportunidade para falar sobre saúde reprodutiva e esclarecer as dúvidas das adolescentes. Apesar de a maioria das jovens já estar vacinada contra o HPV - Vírus do Papiloma Humano, é também este o momento para falar sobre a importância da vacinação.

Nesta idade, as jovens chegam à consulta referenciadas pelos pediatras ou médicos de Medicina Geral e Familiar, por irregularidades menstruais, hemorragias abundantes, ou dores associadas à menstruação, que interferem com a qualidade de vida. A Ginecologia tem de ser multidisciplinar. Na adolescência, por vezes, é necessário o apoio da Endocrinologia ou da Psicologia, nomeadamente no tratamento de distúrbios alimentares que têm associadas irregularidades menstruais. Na idade adulta, pode ser preciso o apoio de um cardiologista, quando uma mulher tem hipertensão ou antecedentes de outra doença cardiovascular.

A Fisioterapia também pode dar resposta às necessidades de saúde das mulheres, por exemplo, no pós-parto e também na presença de incontinências urinárias, situação em que pode ser recomendada a fisioterapia do períneo.

Outra das áreas que trabalha em ligação estreita com a consulta de Ginecologia é a Oncologia, porque, infelizmente, o cancro da mama é frequente na faixa dos 40 e 50 anos. Há muitas patologias para as quais precisamos da Oncologia, nomeadamente na menopausa, nas senhoras que tiveram cancro da mama e que nesta fase são muito atingidas pelos afrontamentos (sintomas vasomotores). A abordagem multidisciplinar é essencial, já que não podemos utilizar medicação com hormonas.

A realização de exames que permitam detetar atempadamente casos de cancro da mama, do colo do útero e do ovário e o acompanhamento regular em consulta anual são fundamentais na prevenção de doenças futuras. É um hábito que todas as mulheres devem adquirir.

Em Portugal, os miomas e os pólipos endometriais estão entre as patologias que mais levam as mulheres a procurar o ginecologista, a par das infeções do trato ginecológico e a endometriose. E, felizmente, muitas vêm preparar uma eventual gravidez. Nestes casos, a consulta de pré-conceção assume particular importância. Deve acontecer, pelo menos, dois meses antes da mulher começar a tentar engravidar. Assim, temos tempo para solicitar as análises de pré-conceção, nomeadamente, para avaliar o estado imunitário em relação à rubéola, toxoplasmose, varicela, hepatites e SIDA e instituir a suplementação com ácido fólico. A completar os exames que darão a “luz verde” para a gravidez estão a citologia, a ecografia mamária e a ecografia ginecológica.

O avançar da idade não implica o abrandar dos cuidados e é recomendável continuar com as consultas de rotina mesmo depois da menopausa. Nesta altura, é muito importante prevenir as patologias associadas às alterações hormonais e conseguimos, também, detetar outra doença muito insidiosa e que só dá sintomas tarde, que é a osteoporose.

Devemos ser sempre preventivos mas, à medida que vamos avançando na vida, há temas importantes, nomeadamente a prevenção da patologia cardiovascular, promovendo o exercício. Esta consulta deve ser vista não só com foco na saúde ginecológica, mas também na promoção da saúde em geral.

Eugénia Chaveiro
Ginecologista-Obstetra no Hospital CUF Descobertas e na Clínica CUF Alvalade