Lisboa |
‘Conversas ao Serão’, na Paróquia de Alcabideche
“A principal fonte da esperança é a relação viva com Cristo”
<<
1/
>>
Imagem

O Patriarca de Lisboa foi o convidado das ‘Conversas ao Serão’, na Paróquia de Alcabideche, em Cascais, e refletiu sobre o Jubileu da Esperança. “Jesus Cristo é a fonte da esperança”, referiu D. Rui Valério, partilhando, no final, a “obra de esperança” que gostaria que cada cristão realizasse neste ano jubilar.

Na noite desta quinta-feira, dia 20 de fevereiro, começando por falar do “conceito de esperança”, o Patriarca destacou a diferença entre “a esperança e a expectativa”. “A nossa vida é constituída por expectativas, onde nós somos ‘saltitantes’: eu espero amanhã ter um bom dia, eu espero que o almoço esteja bem preparado, eu espero que o meu clube de futebol ganhe o campeonato ou pelo menos este jogo. Quando falamos de expectativas, nós estamos a falar destas minúsculas ‘esperanças’ e, aí, vamos saltitando de expectativa em expectativa. Quem vive de expectativas, vive de fracassos, porque o ser humano é um ser para o absoluto, não para o relativo. Aquilo que a expectativa me coloca em contacto são estas efemeridades, que se desvanecem, porque depois acontece que, no final da realização e concretização de cada expectativa, nós estamos tal qual estávamos antes. Continuamos a ser os mesmos, continuamos a acalentar os mesmos problemas, os mesmos sonhos”, observou.

No entanto, desenvolveu, “a esperança é diferente, é outra coisa”. “A palavra que a Bíblia mais vezes usa para identificar e definir esperança é «apoiar-se» ou «confiar-se». A esperança coloca perante de ti um ‘chão’, estável, sobre o qual tu apoias e depositas a tua vida, o teu ser. A ponto de que, tu próprio, te tornas incapaz, impossível, de te auto-compreender sem esse ‘chão’, no bom sentido. Porque eu estou a falar de Jesus Cristo. É isto a esperança! A esperança é uma força, é um dinamismo, é uma virtude de relação, relacional, portanto, mas com Alguém que é Deus, que é todo. E a esperança é, então, esse apoio, essa confiança”, salientou D. Rui Valério, reforçando que “outra diferença é que tu nunca te entregas a uma expectativa”. “E quando fazes, tu estás-te a diminuir”, frisou. “Mas quando tu te entregas totalmente a esse ‘Chão’ – e Jesus não vai ficar aborrecido por eu O tratar assim – então, tu, aí, engrandeces-te, realizas-te, dignificas-te”, acrescentou.

 

Fonte da esperança

Nesta conversa moderada por Zita Guerra, no Auditório de São Vicente, em Alcabideche, o Patriarca de Lisboa sublinhou depois “outro ponto importante” quando “falamos de esperança”. “Nós não só sentimos, não só temos, mas nós somos esperança. A nossa identidade foi elaborada e construída na grandeza e na beleza da esperança. Queres ver? Quando nós lemos e escutamos na escritura que Deus te fez à sua imagem e semelhança e depois te constituiu como responsável do universo e depois te disse «cresce e multiplica-te» e depois te chama para colaborar com Ele, bem isto só é possível porque Deus vive uma esperança para nós. Nós somos a primeira materialização da esperança de Deus. É impossível ser-se homem, ser-se mulher, ser-se pessoa sem se ser esperança”, explicou.

Nesta paróquia confiada aos Salesianos, D. Rui Valério destacou ainda que a esperança “é indissociável de vida eterna”. “Nós, cristãos, temos aqui uma boa provocação para dizermos, a nós próprios, que nós podemos fazer os maiores poemas sobre a esperança, mas se a esperança é apenas aquela coisa de passar de uma situação histórica, humana, para uma outra situação um bocadito melhor, mas sempre situação, quer dizer, isso é muito pobre. A esperança, como nós a entendemos, é passar, a partir e através, daquela situação histórica não para uma outra melhor, mas para uma outra muito diferente: para a eternidade”, realçou.

Questionado, então, sobre ‘Qual a principal fonte de esperança para um crente?’, o Patriarca respondeu: “Jesus Cristo, obviamente. Jesus Cristo é a fonte da esperança porque Ele é a esperança, por excelência. Aliás, a Sagrada Escritura dá-lhe esse nome, o Papa Francisco começa a [exortação apostólica pós-sinodal] ‘Christus vivit’ dizendo «Cristo vive: é Ele a nossa esperança». Ele é a nossa esperança! Portanto, que esta esperança seja mobilizada pela oração, que esta esperança seja mobilizada e acalentada e desenvolvida pela escuta, pela nutrição da Palavra de Deus; mas, sobretudo, a principal fonte da esperança é a relação viva com Cristo. A esperança vem de uma relação que nós temos”, salientou.

 

Fazer, não esperar

Neste serão de praticamente duas horas, D. Rui Valério deixou também um convite ao “empenho”. “A esperança precisa também um pouco do nosso esforço. É fruto da graça, não haja dúvida nenhuma, mas nós temos que querer ser pessoas de esperança, porque a esperança é algo que nos mobiliza à ação. Se não for assim, vão ficar-se a rir de nós, os pagãos”, alertou, exemplificando: “Há um filósofo italiano, o Umberto Galimberti, que diz: ‘A esperança é uma coisa para fracos, porque ficam ali sentados, à espera que as coisas aconteçam’. Não, não! A esperança é precisamente o contrário. A esperança é tu próprio não esperares que as coisas aconteçam, mas fazer que aconteçam as coisas. Isto é que é a esperança”.

Neste sentido, o Patriarca lembrou depois que o Papa Francisco, na bula de proclamação do Jubileu, diz que “a esperança é alimentada pela caridade-amor”. “Em duplo sentido: no sentido fontal, ou seja, é o amor, a relação, a comunhão que me dá esperança; mas, depois, é também verdade que a esperança é um compromisso na história, obriga-me a tomar partido, obriga-me a ir à luta”, explicou.

Sobre o Jubileu 2025 e a simbologia da abertura da Porta Santa, o Patriarca de Lisboa referiu que essa ação “quer ser uma abertura não para um espaço físico, mas esta Porta Santa é abertura para a própria eternidade, que é aquilo que verdadeiramente significam as nossas igrejas”. “A esperança é quando nos factos da vida, nos acontecimentos da história, tu encontras uma nesga que te projeta para além, o significado, então, desta Porta é nesta dimensão: é um significado pascal”, observou.

 

Sinais de esperança

Ainda sobre o ano do Jubileu como ano de esperança, D. Rui Valério desafiou: “Aquilo que, para mim, é o fundamental, além de tudo o mais, é que cada um tivesse, neste ano, um reencontro consigo: mais crescido na santidade, na humanidade, mais comprometido, mais desenvolvido pela positividade do mundo”.

Desta forma, convidado a traçar “sinais de esperança” nos dias de hoje, em Portugal, o Patriarca começou por destacar a Missão País. “Há um forte sinal de esperança que eu estou a vislumbrar aqui, no país, e que vem dos jovens, dos nossos jovens. Em Lisboa, temos pessoas que participaram na Missão País. É um sinal fortíssimo de esperança, porque quando nós pensávamos, ou os sociólogos pensavam, que as novas gerações estavam completamente vencidas pelo materialismo, não é bem assim e não é tanto assim. Há uma percentagem, há uma remessa de jovens, que verdadeiramente estão mobilizados, entusiasmados e motivados para cultivarem a dimensão espiritual, interior, das suas vidas”, garantiu.

Outro sinal de esperança, segundo D. Rui Valério, são os voluntários junto da população em situação de sem-abrigo. “Emociono-me com o sacrifício que fazem famílias, que fazem pessoas individuais – e não falo já das instituições –, para garantirem que tantas pessoas tenham uma refeição quente. Às vezes, lá se sabe que um dos sem-abrigo faz anos e tem a atenção do bolo. Tudo isso, para mim, são sinais de esperança”, manifestou, lembrando ainda a recente bênção e inauguração das novas instalações da instituição ‘O Companheiro’, fundada pelo Padre Dâmaso: “Na semana passada, estive em Benfica a benzer as instalações de uma instituição, que é ‘O Companheiro’ – que existe para acolher reclusos que saem da prisão e é o primeiro passo para a sua integração na sociedade –, e fiquei impressionado não só com a qualidade do trabalho, do empenho que esta associação desenvolve, mas até pela própria obra em si. Já agora, faço aqui o anúncio em primeira mão que alguma parte da nossa renúncia quaresmal deste ano irá para esse universo”, revelou.

 

Obras de esperança

A terminar esta edição das ‘Conversas ao Serão’, a moderadora Zita Guerra referiu que bula de proclamação do Jubileu fala das obras de esperança. ‘Qual é que seria uma obra de esperança que o D. Rui gostava que fosse lançada?’, perguntou. A resposta do Patriarca de Lisboa teve a tónica do convite a cada cristão do Patriarcado. “O melhor recurso que Deus colocou à face da Terra fomos nós. Aliás, somos tão bons como recurso que Ele, quando enviou o Filho para nos salvar, até se fez um de nós. Portanto, imaginem o encanto que Deus tem para com a humanidade. Nós somos a coisa mais preciosa. Sendo assim: aproxima-te mais de um pobre – é o melhor que o pobre pode ter naquele dia, independentemente do que lhe possas dar; aproxima-te mais de um doente, aproxima-te mais de um preso, de um recluso; aproxima-te mais de um migrante. O melhor recurso que Deus tem para o teu irmão doente, prisioneiro, para o solitário, o principal dom que Deus tem para oferecer-nos uns aos outros é cada um. Então, faz bom uso e usa muito a ti próprio, para te aproximares de quem precisa, sejam eles quem for, mas vai”, terminou.

No final, o pároco in solidum, Padre Luís Almeida, agradeceu “muito” a “presença” de D. Rui Valério e “por nos guiar neste caminho de peregrinação”, e ofereceu um livro com a autobiografia do fundador dos Salesianos. “O Papa João Paulo II definiu São João Bosco como o homem que vivia como se visse o invisível. Acho que esta é uma das definições mais bonitas de esperança que fomos capazes de ver e de cultivar”, salientou o sacerdote.

A OPINIÃO DE
Pedro Vaz Patto
Se algumas dúvidas ainda subsistissem sobre o propósito do Papa Leão XIV de dar continuidade ao caminho...
ver [+]

Guilherme d'Oliveira Martins
Com grande oportunidade, o Papa Leão XIV acaba de divulgar uma importante Exortação Apostólica sobre...
ver [+]

Tony Neves
‘Amou-te!’ (‘Dilexi te’), sobre o amor para com os pobres – quase todos...
ver [+]

Guilherme d'Oliveira Martins
A Santa Sé acaba de divulgar o tema da mensagem do Papa Leão XIV para o Dia Mundial da Paz de 2026....
ver [+]

Visite a página online
do Patriarcado de Lisboa
EDIÇÕES ANTERIORES