O Patriarca de Lisboa participou, na noite deste sábado, dia 25 de janeiro, no XV Encontro Cristão, em Sintra, com o tema ‘«Crês nisto?» (Jo 11, 26) - Que diferença faz?’. Numa mesa redonda com outros dois líderes religiosos, D. Rui Valério falou de consolo, de ressurreição e de esperança.
No grande auditório do Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra, perante a primeira pergunta da moderadora – ‘Como é que num mundo tão individualista, podemos consolar e dar conforto, enquanto pessoas, enquanto comunidade?’ –, o Patriarca começou por sublinhar que “o facto de Jesus ter atravessado por esta etapa, que foi a morte, transformou-a radicalmente”. “A partir de Jesus, tudo aquilo que sucede ao ser humano, que é superior às suas forças – e a morte conjuga-se dentro desse horizonte –, são atos de amor. É por isso que a morte, para nós, cristãos, é vista como um supremo ato de entrega, de consignação, de doação: «Pai, em tuas mãos eu entrego o meu espírito». Quando nós vivemos, no coração e na vida, a morte neste horizonte, é quase natural, em continuidade, que nós alcançamos conforto para nós próprios e, ao mesmo tempo, é uma fonte para confortar também os outros”, salientou. Neste sentido, segundo D. Rui Valério, os cristãos “não são feitos para a morte, o nosso destino não são os cemitérios”. “Somos feitos para uma vida plena, que é aquela que se alcança com a ressurreição. Não é fácil, naturalmente, até porque a morte é, a todos os títulos, um enigma, desde logo porque ela é sempre referida em terceira pessoa – ninguém fala da morte partindo da sua própria experiência, que não seja neste sentido que eu há pouco evocava, ou seja, a morte como uma consignação, uma entrega, como alguém que dá tudo de si próprio pelos outros, por amor. Mas o horizonte que é a fonte, por excelência, do conforto e da consolação é a ressurreição. É aquela verdade da nossa fé de que a morte é uma passagem para uma comunhão superior com Deus”, manifestou. “O coração de tudo é esta vida plena, a vida da ressurreição. Quando estamos cientes e conscientes de que a nossa partida ou passagem não é para o vazio, não é para o nada, mas é exatamente para esta plenitude de vida, sim, nós alcançamos aqui um princípio hermenêutico de compreensão e de entendimento para o nosso dia a dia”, acrescentou. Dualidade esperança-sofrimento Numa casa cheia, com cerca de 900 pessoas, o Patriarca de Lisboa foi depois questionado sobre ‘A dualidade entre a esperança e o sofrimento. Para a nossa conversão, o que tem mais peso?’. “A esperança é este nosso apoio total, absoluto, confiante em Deus. E a partir deste apoio, confiante, radical em Deus, de toda a nossa vida, existência e nós próprios, a esperança é aquela capacidade e força de transformar tudo em promessa, em porta para o novo horizonte. Pensemos no mistério da cruz, onde houve realmente um cumprimento de profecias, mas, ao mesmo tempo, a cruz tornou-se princípio de uma nova vida, promessa de uma nova vida, da ressurreição, da vida plena”, respondeu, reforçando que “a esperança não está em oposição, não é o oposto a qualquer outra a experiência da nossa vida”. “A esperança é quando vivemos o fracasso e, no entanto, olhar para aquele fracasso e encontrar nele razões e motivos de ali ser o começo de uma nova estrada, de uma nova vida”, apontou D. Rui Valério. Na companhia de D. Jorge Pina Cabral, Bispo da Igreja Lusitana, e da Pastora Connie Duarte, secretária-geral da Aliança Evangélica Europeia, o Patriarca de Lisboa exemplificou: “A esperança é muita à imagem daquilo que nós estamos a fazer aqui, esta noite: na diversidade de cada um de nós, conseguimos encontrar aqui uma reconciliação e uma unidade. A esperança dá-nos esse alento para a vida, que tudo é configurado numa harmonia”. ‘Crês nisto?’ A última questão da moderadora desta mesa redonda destacou o tema do Encontro Cristão deste ano e convidou a um caminho: ‘Pedia uma estratégia para quando Deus perguntar ‘Crês nisto?’ estarmos atentos. No fundo, como ter mais Deus na nossa vida?’. D. Rui Valério iniciou a sua última resposta realçando que, “com o mistério da encarnação, Deus aliou o seu destino, a sua história, ao destino e à história do ser humano”. Depois, evidenciou o amor. “São João, numa das cartas, faz aquela equação: como nós podemos dizer que amamos a Deus que não vemos, se não amamos o próximo que vemos e está ali à nossa frente? A estratégia é sempre o caminho e a estrada do amor. Quanto mais o nosso coração se dilata, para irradiar no serviço, na entrega, na prestação aos outros, tanto mais ali acontece Deus”, assegurou. A terminar a sua intervenção no XV Encontro Cristão, o Patriarca de Lisboa deixou uma mensagem de otimismo. “Estou muito otimista com a nossa sociedade, porque, por experiência, posso garantir, aqui, que mesmo aquelas irmãs e irmãos que vivem nas bermas das estradas das nossas cidades, acreditem-me, não estão sozinhos. Um dos rostos que, hoje, a ressurreição tem, em Portugal, são os voluntários, homens e mulheres que, diariamente ou semanalmente ou mensalmente, se disponibilizam, saem da sua zona de conforto e vão partilhar com as pessoas na condição de sem-abrigo. Eis aí o rosto da esperança, eis aí, verdadeiramente, o rosto da ressurreição e, como tal, o rosto de Jesus Cristo”, concluiu D. Rui Valério. Encontro Cristão O Encontro Cristão, que encerra a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, decorreu pela 15.ª edição. “Há catorze anos, este movimento nasceu da união entre católicos e evangélicos, impulsionado por laços familiares que transcenderam as diferenças denominacionais. O Encontro Cristão tornou-se um testemunho vivo da autenticidade do cristianismo, onde a distância da divergência deu lugar à maravilhosa descoberta da complementaridade de expressões do Reino de Deus. Essa jornada culminou nos Encontros em Sintra, não apenas como espaços de oração, mas também como palcos de ações sociais conjuntas, fortalecidas pela relação fraterna concretizada e pelo encanto da novidade”, refere a organização, no seu site. Tal como nos anos anteriores, o Encontro Cristão em Sintra foi uma “jornada de fé, oração, música, animação e teatro”, onde foi celebrada “não apenas a diversidade das tradições cristãs, mas também a unidade que encontramos em Cristo”. Este encontro, que reuniu várias Igrejas cristãs, teve ainda, durante a tarde, um programa dirigido só aos jovens, no Centro Cultural Olga Cadaval (Auditório Acácio Barreiros), um encontro dos líderes das várias comunidades e igrejas cristãs, no Centro Social da Paróquia de São Miguel, em Sintra, e depois o encontro aberto ao público, de novo no Olga Cadaval (Auditório Jorge Sampaio), com a presença do Patriarca de Lisboa, D. Rui Valério, do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, entre outros convidados.![]() |
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