O Patriarca de Lisboa destacou o “sentido profundo eclesial” de um “construtor de pontes” com é D. Manuel Clemente. D. Rui Valério falava na sessão de homenagem da Universidade Católica Portuguesa ao seu antecessor, um homem que “continua a olhar para as coisas, para os factos, para as pessoas e para os acontecimentos com o olhar de Cristo”.
“Só alguém como o Senhor D. Manuel Clemente, que está mergulhado na atualidade da História, podia construir um ritmo pessoal de vida que coincide com os ritmos de vida da Igreja. E é por isso que no mesmo ano em que assinalamos o Ano Jubilar da esperança, que pertence ao caminho e ao percurso da Igreja universal, também o Senhor D. Manuel Clemente se associa com o seu Jubileu. Portanto, há dois jubileus aqui, coincidentes. Isto diz muito do carácter eclesial, no sentido profundo do que é a Igreja, que tem pautado o caminho, o percurso e a vida do Senhor D. Manuel, Bispo emérito”, começou por referir o Patriarca, na sessão que decorreu no final da tarde desta quinta-feira, dia 23 de janeiro. No Auditório Cardeal Medeiros, na Universidade Católica Portuguesa (UCP) em Lisboa, D. Rui Valério, que é também o Magno Chanceler da UCP, falou de “um dia, para nós, memorável” e sublinhou o “sentido profundo eclesial” de D. Manuel Clemente. “Em primeiro lugar, é uma vocação que ele tem cultivado no sentido de colocar sempre, em todas as circunstâncias, em todos os momentos da sua vida, colocar sempre, em primeiro lugar e no centro de toda a sua dedicação e esforço, não o seu ‘eu’ individual, mas esta porção de Povo que é a Igreja de Jesus e que ele, por vocação e decisão, entregou a sua vida, como Pastor, como servo, sempre, seja na qualidade de sacerdote, de Bispo, de Patriarca, ou de professor, ou de companheiro, ou de amigo, ou de confessor, ou de diretor espiritual. Este carácter da sua personalidade, e também da sua vocação, conjuga-se com um sentido profundo daquilo que é o bem-comum. É por isso que as suas intervenções e iniciativas transcendem largamente os muros, as fronteiras da Igreja enquanto uma instituição decifrável e concreta, e que tem um impacto ao nível da sociedade. O seu contributo para o caminho da Igreja coincide e repercute-se no seu contributo ao nível da sociedade. Diria, então, que me fascina particularmente este primeiro traço do seu carácter: um sentido profundo eclesial”, partilhou. Como segunda característica, D. Rui Valério considerou o Patriarca Emérito de Lisboa um “construtor de pontes”. “Em segundo lugar, revejo nele uma personalidade que – vamos dizer assim – é um Pontífice, no sentido que é um construtor de pontes. Nesta casa onde nos encontramos, ele lecionou tantas disciplinas e Ciência Teológica, muito conhecido pela sua devoção e pela sua competência na Ciência da História histórica, mas como eu tive a experiência pessoal de ser seu aluno de um curso, que marcou a todas e a todos aquelas e aqueles que tiveram essa bênção e essa graça de o frequentar, ‘Evangelização e Cultura’, onde era promovido um sentido de abertura da fé com a cultura, da Igreja com a sociedade, da dimensão espiritual com a dimensão amplamente polifónica daquilo que é a existência humana. Um Pontífice, portanto”, recordou. Por fim, um traço, “porventura mais discreto”, é “a sua capacidade de inteligência contemplativa”, segundo o Patriarca de Lisboa. “Para quem mergulha nos acontecimentos da História e nos factos que se vão sucedendo, ao longo do tempo e aos ritmos do percurso de desenvolvimento evolutivo da humanidade, poderia ser levado a limitar-se a uma análise factual dos acontecimentos ou então dos fenómenos que a História vai representando. Mas o Senhor D. Manuel vai mais fundo, ele penetra a intimidade do que se passa. Nos seus lábios, enfim, na sua atividade docente, transparece sempre aquela capacidade de nos fazer contactar e constatar e reencontrar com as motivações interiores profunda do que sucede, daquilo que perpassa pelas páginas dos livros da História. Afinal de contas, o Senhor D. Manuel abre-nos uma janela para percebermos que, verdadeiramente, nada e ninguém se compreende só por aquilo que aparenta ser ou que mostra. Que há todo um universo e um horizonte profundo que é necessário descobrir. Usando uma linguagem um pouco teológica e mística, diria que, mesmo como cultor da Ciência da História, ele continua a olhar para as coisas, para os factos, para as pessoas e para os acontecimentos com o olhar de Cristo. Que é, afinal de contas, esse mesmo olhar que lhe configurou seja a inteligência, seja o saber”, manifestou. A última palavra de D. Rui Valério foi de agradecimento ao antecessor. “Em nome pessoal, mas suponho que em nome de todos nós, a palavra que se impõe é para lhe dirigir, logo à partida, um ‘Obrigado’ e um obrigado em duplo sentido: em primeiro lugar, por aquilo que ele nos deu. Naquilo que fez, naquilo que disse, naquilo que transmitia, o Senhor D. Manuel sempre deu nada menos do que a dádiva de si próprio. Eu, pessoalmente, e todos nós estamos-lhe agradecidos por isso; a segunda razão porque lhe quero agradecer, é que ele, com a sua humildade, que nós todos reconhecemos, aceitou ser hoje, digamos assim, aquele destinatário do nosso agradecimento e do nosso louvor. Ele esteve connosco, está connosco e continuará connosco. A ele, um grande bem-haja!”, terminou o Patriarca de Lisboa. Pensador católico Presente nesta sessão, o Presidente da República começou por enaltecer a oportunidade da homenagem a D. Manuel Clemente. “Devo reconhecer que a Universidade Católica Portuguesa, ao organizar esta homenagem, cumpre aquilo que é mais do que um sentimento muito português, e também muito cristão, que é a gratidão. Agradecer a alguém que foi Magno Chanceler e, antes disso, foi professor, e foi sempre, sempre um obreiro desta casa. Agradecer décadas de serviço à Universidade Católica Portuguesa”, sublinhou. Marcelo Rebelo de Sousa destacou depois a importância de D. Manuel Clemente para que Lisboa pudesse receber a Jornada Mundial da Juventude em 2023. “O Senhor D. Manuel tinha construído essa obra, tinha ajudado a construir a obra e foi dos primeiros a perceber como ela iria ocorrer e como é que seria o que foi: um grande contributo para um momento único da história recente do nosso país”, considerou. O Chefe de Estado lembrou ainda os 10 anos de D. Manuel Clemente como Magno Chanceler da UCP, durante o qual “compreendeu que o tempo era outro, o tempo da Universidade, o tempo da sociedade, o tempo do panorama educativo no nosso país”. “Com a modéstia que reconhecemos, teve um contributo notável”, salientou. Para o Presidente da República, o Patriarca Emérito de Lisboa é “dos maiores pensadores católicos sobre Portugal contemporâneo”. “Podemos comparar ao professor Manuel Antunes. São os dois maiores pensadores acerca de Portugal, acerca da portugalidade, acerca da nossa identidade, acerca das nossas vicissitudes. E de premeio, também, historiador da Igreja em Portugal. Mas verdadeiramente, a sua história da Igreja em Portugal é uma história de Portugal, é uma compreensão de Portugal e toda a sua obra como Pastor Diocesano foi uma obra fundada na visão que tem do país, da história de Portugal, da evolução histórica do Portugal contemporâneo”, garantiu Marcelo Rebelo de Sousa. Reconhecimento Na sessão promovida pela UCP, a reitora da instituição, Isabel Capeloa Gil, disse que a homenagem foi um “ato público de agradecimento pela liderança próxima, a defesa inabalável e a confiança” que D. Manuel Clemente colocou na Universidade, e também “o reconhecimento do seu legado, ainda a fazer-se, na tessitura cultural do nosso país”. Homenageado Na sua intervenção, D. Manuel Clemente recordou a sua ligação à Universidade Católica Portuguesa. “Esta ligação assim, ativa, direta, tem 50 anos. De 1973, em que entrei aqui, como aluno da Faculdade de Teologia, e até 2023, em que cessei as funções como Chanceler da Universidade”, frisou. “Esta minha vida, digamos assim, académica foi sempre subordinada a outra vocação maior que foi crescendo, a minha vocação pastoral, que se sobrepôs a tudo mais. Mas como o interesse pela História – como o tal ‘trabalhador da memória’, como eu me classifico – era já muito presente e desde a infância, as coisas acabaram por ficar uma coisa só. E também não admira, porque a Igreja é uma realidade histórica, portanto a história da Igreja é a vida da Igreja e foi aí que eu me incluí e que continuo a incluir e a prosseguir”, explicou. O homenageado terminou garantindo que “o nosso país não seria o que é” sem “a Universidade Católica Portuguesa”. “Estou muito agradecido, sou da casa há 50 anos, com o serviço ativo, e agora continuo a ser porque, quando nós somos tocados por tantos exemplos e por tantos testemunhas, não podemos desertar. É um projeto grande demais e vamos por diante com a Universidade Católica Portuguesa”, convidou D. Manuel Clemente. Formação Após a projeção de um curto filme de homenagem a D. Manuel Clemente, o vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa, Padre José Manuel Pereira de Almeida, recordou os tempos da sua formação em que se cruzou “com o nosso Patriarca Emérito”, que “tinha acabado de ser ordenado”. “Para escolher uma palavra que seja cara ao nosso homenageado, que a usa explícita ou implicitamente, eu indicaria: institucional. O nosso D. Manuel Clemente é institucional e tem como critério relevante o que é institucional, em tudo ou, pelo menos, em quase tudo”, salientou. “Obrigado, caríssimo Patriarca, pelo que de si recebemos, por tudo aquilo que é”, terminou. Juristas Já o diretor da Faculdade de Direito da UCP, José Lobo Moutinho, destacou o “grande académico”. “Ao longo destes 25 anos, o Senhor D. Manuel foi um pastor que, na orientação espiritual, nos foi alargando os horizontes culturais da fé, da Igreja, da sociedade e do homem”, recordou, considerando o homenageado “uma pessoa humilde, bondosa, serena, cheia de sentido humor, conversadora e inigualável contador de histórias”. José Lobo Moutinho lembrou ainda a colaboração de D. Manuel Clemente na criação da Associação de Juristas Católicos. “Em 2014, quando numa certa reunião, no seu gabinete em São Vicente, assumiu o encargo de ajudar na Associação de Juristas Católicos, não posso esquecer o empenho que o Senhor D. Manuel pôs na associação e o interesse, o incentivo e o apoio com que sempre nos favoreceu. Muito menos posso esquecer o sucesso que foi o Congresso das Associações Profissionais Católicas, realizado em 5 de novembro de 2016, nesta sala, sob o seu decisivo impulso e muita paciência connosco e com o apoio insubstituível da ACEGE. Um evento absolutamente extraordinário, que se devia repetir”, desafiou. “Sempre tivemos no Senhor D. Manuel um pastor confiante e incentivador da intervenção dos leigos no diálogo social e político”, acrescentou, lembrando ainda a “atenção, cuidado, alegria e gosto com a Igreja mais nova, a Igreja das equipas dos jovens, dos campos e das missões”. Porto Teresa Anderson, arquiteta paisagista, participou nesta homenagem testemunhando a passagem de D. Manuel Clemente pela Diocese do Porto, entre 2007 e 2013. “No Porto do Bispo D. Manuel, ficaram-nos lembranças, gestos pastorais, práticas e esperança. Permita-me que identifique a sua passagem pelo Porto como uma das etapas altas da sua vida. Reterá dessa sua vida vivida um sentimento de serviço cumprido. Também lhe estamos gratos por isso”, manifestou. Juventude O último testemunho foi de João Clemente, diretor do Serviço da Juventude do Patriarcado de Lisboa. “Pensei em enaltecer o sacerdote, o Bispo, o intelectual, o professor, mas nesse momento vem-me necessariamente à memória o dia em que conheci o D. Manuel e no quanto a sua humanidade me marcou”, esclareceu. Foi poucos meses depois da sua Ordenação Episcopal, no ano 2000. João Clemente era “ainda uma criança, numa das aldeias mais pequenas do concelho da Lourinhã”. “Marcou-me a forma como aquele homem falava e interagia de modo compreensível com gente simples, como trazia humanidade e esperança, palavras de afeto e curiosidade pelas histórias de vida de cada um. Desde esse dia ficou-me na memória a figura do D. Manuel”, recordou. Este responsável lembrou anda a JMJ Lisboa 2023. “É indiscutível a ousadia em pedir ao Santo Padre que as Jornadas Mundiais da Juventude se realizassem em Lisboa, mesmo quando parecia ser um projeto impossível”, considerou. Retrato e filme Durante a homenagem da Universidade Católica Portuguesa ao seu antigo Magno Chanceler, a UCP ofereceu a D. Manuel Clemente um retrato a óleo. A sessão ficou ainda marcada pela projeção de um curto filme biográfico de D. Manuel Clemente, Patriarca Emérito de Lisboa.![]() |
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