Lisboa |
36.ª Festa de Natal com as Pessoas em Situação de Sem-Abrigo
“Deus partilha aquela tua preocupação, aquele teu problema, aquela tua angústia”
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O Patriarca de Lisboa celebrou a Eucaristia na 36.ª Festa de Natal com as Pessoas em Situação de Sem-Abrigo, organizada pela Comunidade Vida e Paz, deixando a certeza, aos convidados, de que “Deus partilha aquela tua preocupação, aquele teu problema, aquela tua angústia”.

D. Rui Valério chegou à Cantina da Cidade Universitária, em Lisboa, na manhã deste Domingo, dia 22 de dezembro, e foi cumprimentando, um a um, os convidados, os colaboradores e os voluntários. A cada pessoa, o Patriarca tinha uma palavra, um gesto de proximidade. Pegou num bebé, tirou selfies e foi escutando casos de vida.

Antes ainda da celebração, cumprimentou a Ministra da Saúde, Ana Paula Martins, de visita à 36.ª Festa de Natal com as Pessoas em Situação de Sem-Abrigo e que estava acompanhada da diretora-geral da Comunidade Vida e Paz, Renata Alves.

 

Alegria

“Uma saudação a todos vós, queridas irmãs e irmãos. Estamos a celebrar, com alguns dias de antecipação, o Natal, o Natal que é o nascimento do Senhor Jesus que quer nascer no nosso coração”, lembrou D. Rui Valério, no início da Missa.

Na homilia, o Patriarca começou por partilhar a “alegria” que sentia com a festa. “Caríssimas e caríssimos, antes de mais deixai-me partilhar convosco o quanto é grande a minha alegria de estar neste lugar, estar a viver um acontecimento tão significativo e importante para a nossa vida como aquele que estamos a viver. Realmente, é grande este júbilo que todos nós, a começar por mim, sentimos no coração. É belo estarmos juntos”, manifestou, desafiando, depois, a que “ninguém se sinta órfão”. “Porque temos Alguém a quem podemos chamar de Pai e temos Alguém a quem podemos chamar de Mãe”, lembrou.

Participando pela segunda vez na Festa de Natal da instituição tutelada pelo Patriarcado, D. Rui Valério sublinhou depois: “A vida só tem sentido quando é uma vida cujo interesse e a finalidade não é só o ‘eu’, não é só o ‘mim’, não é só o ‘meu’, mas é o ‘tu’, é o ‘outro’. O ser humano é verdadeiramente ser humano quando sai de si e caminha ao encontro dos outros e vai à sua procura para estar com ele”.

 

“Deus sabe o que tu sofres”

Nesta Missa de Natal, o Patriarca de Lisboa assegurou que Deus conhece cada um. “Dentro de dias vamos celebrar o Natal. Digam-me lá: o Menino Jesus, que nasce no presépio, é ou não é o rosto daquele vir até nós de Deus, que veem ao nosso encontro para estar connosco, para nos procurar – e vocês sabem se Deus vem ao nosso encontro e vem permanentemente? Tu é que pensas que não, tu é que, por vezes, podes pensar que Ele anda esquecido de ti, que até nem sabe que tu existes. Não penses nisso! Deus conhece-te, diz a Bíblia, até ao mais pequerrucho dos cabelos que há na cabeça. Conhece tudo, sabe o que é que tu sofres, conhece o teu tormento, a tua dificuldade. Portanto, meu caro irmão e minha cara irmã, não penses que aquela tua preocupação, aquele teu problema, aquela tua angústia seja só tua. Não é, Deus partilha-a contigo e, por isso, Ele vem ao nosso encontro e suscita pessoas que vêm até nós”, garantiu.

Lembrando as guerras na Ucrânia e no Médio Oriente, D. Rui Valério convidou todos a serem “obreiros de paz” e a serem “capazes de instituir uma vida e um projeto de paz”. “Meus caros irmãos e minhas caras irmãs – assim vos trato porque, na luz do Evangelho, nós, aqui, somos todos irmãos e irmã, filhos do mesmo Pai, amados e apaixonadamente pela mesma Mãe, salvos pelo mesmo Senhor Jesus Cristo –, a tua dificuldade é a nossa dificuldade, os teus sonhos são os nossos sonhos, as tuas preocupações são as nossas preocupações. Esta ponte que existe entre todos nós, uma ponte que só existe, uma ligação que só existe, entre irmãos e irmã. E é isso que nós queremos que aconteça na nossa cidade”, terminou o Patriarca de Lisboa.

 

Gratidão e comparticipação

Antes da bênção final, o presidente da Comunidade de Vida e Paz sublinhou que “a gratidão e a esperança são valores” da instituição tutelada pelo Patriarcado de Lisboa. “A gratidão é agradecer, em primeiro lugar, a quem nos acolhe nesta nossa casa – senhora reitora, muito obrigado por permitir que, durante três dias, seja Natal. E quando digo que é Natal, é que acontecem muitos renascimentos nestes três dias. As pessoas que chegam e que recuperam a sua imagem através de um banho, de um corte de cabelo, de uma roupa lavada, e depois passam pelo espaço da Saúde, pelo espaço da Cidadania e saem daqui cidadãos completos, com os seus direitos restituídos. De facto, isto é Natal”, salientou o diácono Horácio Félix.

Este responsável fez depois um agradecimento “aos nossos convidados”. “A festa é para vós, mas aquilo que nós queremos mesmo é fazer a mesma festa sem convidados, sem convites, sem gente na rua. Será uma utopia, mas nós precisamos destas utopias para caminharmos. Esperamos chegar a esse tempo de estarmos aqui reunidos, mas sem pessoas em situação de sem-abrigo”, desejou, não esquecendo a colaboração de “todos os voluntários, especialmente à equipa coordenadora”, e dos “nossos benfeitores”, e a presença do Patriarca D. Rui Valério, que “faz questão de estar sempre connosco e de confiar também em nós”.

O presidente da direção da Comunidade Vida e Paz aproveitou a presença da Ministra da Saúde, Ana Paula Martins, para fazer um pedido de atualização das comparticipações estatais. “É muito significativo, para nós, a sua presença. Se calhar, não imagina quanto, porque de uma forma muito leal e muito transparente, quero aproveitar a oportunidade de dizer, olhos nos olhos, o que se está a passar com as comunidades terapêuticas que dependem do seu Ministério: o tratamento das pessoas com adições é feito através de protocolos com diversas instituições, que depois colocam a funcionar as suas comunidades terapêuticas. Desde 2008 a 2024, esse valor foi atualizado uma vez. Quer dizer que, em termos reais, perdemos 30% do financiamento. E as consequências disso é que já fecharam no País mais de 200 camas, ou seja, as pessoas que querem ser tratadas têm cada vez menos hipóteses e as que estão neste momento em funcionamento estão todas em perigo de fechar. E fechar é fácil, fechar é muito fácil: pagam-se as indeminizações, fecha-se a porta, mas não é isso que nós queremos. Nós queremos, de uma forma muito transparente e muito leal, encontrar caminhos com o Ministério da Saúde. Pelo menos os caminhos possíveis, já não digo os desejáveis. Ao longo destes anos, temos apostado na diplomacia. Chegamos a uma fase em que a diplomacia já não resolve. Precisamos de respostas, com muita urgência. Porque nós assumimo-nos como a voz daqueles que não têm voz. Não estou falar tanto da defesa das instituições, estou falar do direito que as pessoas têm de ser tratadas. Isso é algo que nós não iremos calar. Por isso é tão significativo e tão importante a sua presença nesta nossa festa. Esperamos ter boas notícias em breve, que nos permitam, pelo menos, ir sobrevivendo, que é o que temos feito nos últimos anos, cada vez com mais dificuldades”, referiu o diácono Horácio Félix.

 

Bênçãos

No final da celebração, o Patriarca de Lisboa abençoou “um maravilhoso casal”. “O Paulo e a Filipa hoje são noivos, porque assinalam o 14.º aniversário do seu matrimónio. Parabéns!”, salientou D. Rui Valério, que depois abençoou “uma jovem mãe, que está à espera de um novo bebé”. “Vamos abençoar a vida nascente e também cada uma e cada um de vós. Que Jesus, que o Senhor, esteja realmente na vossa vida”, desejou o Patriarca de Lisboa, referindo-se a todos os presentes na 36.ª Festa de Natal com as Pessoas em Situação de Sem-Abrigo, organizada pela Comunidade Vida e Paz.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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