A situação no Reino Unido, em que as pessoas que rezam em silêncio junto de clínicas de aborto são criminalizadas, “é muito preocupante” na opinião de Jorge Bacelar Gouveia e revela que “a Europa não está de boa saúde no que diz respeito à liberdade religiosa”. O constitucionalista fez esta afirmação na sessão de apresentação de dia 20 de Novembro, em Lisboa, do relatório da Fundação AIS “Perseguidos e Esquecidos?”, evento que contou com a presença de um sacerdote do Burquina Fasso. “Os terroristas estão decididos a acabar connosco”, alertou o Padre Jacques Swadogo.
“O laicismo não é ‘burro’ e tem muitas formas de promover a perseguição religiosa”, disse o constitucionalista e professor universitário Jorge Bacelar Gouveia durante a apresentação do Relatório da Fundação AIS sobre a perseguição aos cristãos no mundo. Embora grande parte da sua intervenção tenha sido dedicada à situação em África, continente que, segundo o Relatório “Perseguidos e Esquecidos?”, se transformou na região do globo onde a violência jihadista contra os cristãos é agora mais intensa, Bacelar Gouveia não deixou de falar da Europa, do risco crescente de uma sociedade que se está a deixar tomar “a passos largos” por um “laicismo dominante”. E deu dois exemplos, depois de concluir que “a Europa não está de boa saúde no que diz respeito à liberdade religiosa”. Na Finlândia, contou, uma deputada terá sido alvo de perseguição por ter feito referências à Bíblia, e no Reino Unido “as pessoas que querem rezar em silêncio junto a clínicas de aborto são criminalizadas”. A conclusão é imediata: “Querem criminalizar o pensamento!”. Perante esta situação, Bacelar Gouveia deixa um desafio: “Cabe a cada um de nós fazer a sua parte”. Silêncio incompreensível Convidado pela Fundação AIS para a apresentação do Relatório sobre a perseguição aos cristãos no mundo, o professor destacou a importância do documento, recomendou a sua leitura atenta assim como ao relatório igualmente produzido pela AIS sobre a perseguição religiosa no mundo. Ambos, disse, ajudam a compreender como vai o planeta no que diz respeito a este direito humano tão importante e simultaneamente tão negligenciado. E levantou várias questões. Referiu o silêncio, que diz “incompreensível”, da comunicação social sobre a maior parte dos factos apresentados nestes relatórios: “ninguém parece preocupado com a questão da liberdade religiosa”. E falou da urgência de haver um “tratado que obrigue os países a implementar medidas” que defendam os crentes, medidas que terão de ir mais longe do que a “mera declaração das Nações Unidas”, em que a questão é abordada no famoso artigo décimo oitavo. Bacelar Gouveia fez ainda uma abordagem à situação que se vive em África, denunciada no Relatório da Fundação AIS, como estando “a piorar” por causa da “militância islamita” que tem vindo a “emergir como o principal motivo de preocupação”. O documento explica que os cristãos não são as únicas vítimas dos conflitos armados nestas regiões, com especial predominância na África Subsariana, “mas tendem a ser desproporcionadamente visados pelos militantes”. Para o constitucionalista, isto explicar-se-á se olharmos para a história africana e o seu passado colonial. “Atacar a religião de um país que foi ocupado por uma potência europeia pode ser visto como uma tentativa de reparação histórica”, disse. “Igrejas queimadas, padres atacados…” A sessão contou ainda com o testemunho do Padre Jacques Sawadogo. Este sacerdote, oriundo do Burquina Fasso, descreveu como é difícil, por vezes mesmo impossível, a vida dos cristãos no seu país, dizendo de viva-voz aquilo que está descrito no relatório da Fundação AIS. A ameaça terrorista, que se tem acentuado desde há cerca de uma década, coloca hoje um desafio vital para a própria sobrevivência da comunidade cristã. “Desde há 10 anos que estamos a experimentar o terrorismo no nosso país. A Igreja é um dos alvos. Mais de sete dioceses do Burquina Fasso têm problemas com os terroristas, as igrejas são queimadas, os padres são atacados e raptados”, relatou o sacerdote. Tal como o professor Bacelar Gouveia, também o Padre Sawadogo apontou críticas para a comunicação social que, na sua esmagadora maioria, ignora esta realidade. “É muito raro ouvir falar disto. Os ‘media’ muito raramente falam sobre o que se passa no meu país. Por isso, muito obrigado por esta oportunidade para falar disto”, disse, acrescentando que “os terroristas estão decididos mesmo a acabar connosco, porque para eles nós somos infiéis”. A ajuda da AIS aos deslocados O padre do Burquina Fasso aproveitou o seu testemunho para, por mais de uma vez, agradecer à Fundação AIS não só a oportunidade de relatar o que se passa no seu país como para explicar tudo o que tem vindo a ser feito de apoio às comunidades mais atingidas pela violência de grupos extremistas islâmicos. “A Igreja em Portugal e a Igreja na Europa estão já a fazer muito por nós, e quero agradecer à Fundação AIS porque quando as pessoas fogem das aldeias [por causa dos ataques terroristas] vão para as cidades e uma das instituições a que batem à porta é a Igreja Católica”, disse, acrescentando que apesar de os cristãos serem uma minoria no seu país, a Igreja Católica goza de enorme respeitabilidade. Mas é pobre e precisa de ajuda para poder ajudar as vítimas dos terroristas. “Na minha diocese, a Fundação AIS financiou este ano um projecto de apoio a 10 mil deslocados, pessoas que fugiram das suas aldeias. Esse apoio serviu para dar-lhes alojamento, comida, para a escola das crianças… Muitas paróquias fecharam portas e no meu país muitos sacerdotes vivem dos estipêndios de missa, e eu sei que a Fundação AIS tem ajudado também estes sacerdotes pedindo-lhes para celebrarem Missas”, descreveu. “Ir à Igreja é arriscar a vida…” No final da sua intervenção, o Padre Jacques Sawadogo pediu orações pelos cristãos do Burquina Fasso e lembrou que, por muitos problemas que possamos ter na Europa, nada é comparável com aquilo que se vive em tantos países de África… “Vocês podem sair de casa e ir livremente até à Igreja para rezar. E regressam a casa. Em muitos lugares do Burquina Fasso sair de casa e ir à Igreja significa arriscar a vida, pois uma pessoa pode ser assassinada durante o caminho ou depois, já dentro da Igreja. Muitas vezes, queixamo-nos daquilo que não temos e esquecemo-nos do que temos. Por isso, sejam felizes com o que têm e rezem por nós”, disse. Mesmo no final da sessão, tomou ainda da palavra Filipe Anacoreta Correia, vice-presidente da edilidade lisboeta, que justificou o apoio da autarquia a esta iniciativa da Fundação AIS pela defesa dos “valores” que são o património da cidade. “A perseguição religiosa ofende um modo de vida que é também o nosso por isso temos de estar ao lado da denúncia dessas perseguições que são verdadeiramente inaceitáveis e que a todos nós nos poem em causa”, disse, afirmando-se “impressionado” com o filme exibido logo após o depoimento do Padre Jacques Sawadogo sobre as conclusões do relatório “Perseguidos e Esquecidos?” Novas apresentações do Relatório A sessão contou ainda com a presença de Catarina Bettencourt, directora do secretariado nacional da Fundação AIS, que fez uma breve apresentação do trabalho e da missão da Ajuda à Igreja que Sofre no mundo. No final do evento, o monumento a D. José I, na icónica Praça do Comércio, foi iluminado de vermelho, para lembrar a perseguição aos cristãos no mundo. Na mesma altura, no outro lado do Tejo, também o monumento do Cristo-Rei ficou iluminado da cor do sangue dos mártires. Foi assim em Lisboa e tem sido assim um pouco por todo o país ao longo destes dias. Durante esta ‘Red Week’ – Semana Vermelha –, vários edifícios têm estado a ser iluminados de vermelho, sinalizando-se desta forma para toda a comunidade a questão da perseguição religiosa que afecta milhões de cristãos em todo o mundo. A adesão a esta iniciativa da Fundação AIS tem vindo a crescer com grupos de fiéis a promoveram também actividades e momentos de oração em paróquias, colégios e santuários em várias dioceses. Está a ser assim em Bragança-Miranda, Aveiro, Santarém, Lamego, Porto, Lisboa, Setúbal, Guarda, Braga e Évora. Hoje, quinta-feira, 21 de Novembro, será a vez de a Diocese de Santarém acolher também a apresentação do Relatório “Perseguidos e Esquecidos?”. Catarina Bettencourt, directora da Fundação AIS em Portugal irá apresentar o documento na Sé Catedral, pelas 18h, numa sessão que contará também com a presença do Bispo, D. José Traquina, e do padre Jacques Sawadogo. O sacerdote do Burquina Fasso vai também estar presente em Aveiro, amanhã, sexta-feira, pelas 18h, na Paróquia de Vera-Cruz, sessão que terá também a presença da responsável do secretariado nacional da AIS e do Padre João Miguel Alves. Finalmente, o Relatório vai ser ainda apresentado na Arquidiocese de Évora, no sábado, 23 de Novembro, na Igreja de Santa Clara, pelas 16h.![]() |
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