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Arcebispo de Erbil agradeceu a ajuda dada aos cristãos iraquianos após a destruição causada pelos jihadistas
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Milhares de portugueses escutaram ontem em directo, durante a missa transmitida desde Lisboa pela RTP1, o Arcebispo de Erbil a agradecer a ajuda dada à comunidade cristã iraquiana ao longo dos últimos anos e a lembrar o papel determinante que a Fundação AIS desempenhou nesse processo.

A missa, na Igreja do Santo Condestável, foi um dos momentos altos da vista de D. Bashar Warda ao nosso país, em que teve ainda vários encontros e conferências em Aveiro e no Porto, onde foi o protagonista da primeira edição em Portugal da ‘Noite das Testemunhas’, evento promovido pela Ajuda à Igreja que Sofre e em que se homenageou a Igreja mártir no mundo.

Durante a transmissão em directo ontem, pela RTP1, da missa na Igreja do Santo Condestável, em Lisboa, os telespectadores em todo o país viram, com algum detalhe, diversos objectos litúrgicos profanados pelos jihadistas do Daesh, durante os tempos em que o grupo terrorista ocupou as terras bíblicas da Planície de Nínive, no Iraque. Estes objectos, como cálices destruídos à bala, ou cruzes partidas, por exemplo, estiveram colocados perto do altar e foram como que uma testemunha silenciosa do que aconteceu neste país do Médio Oriente quando o grupo “Estado Islâmico” impôs o seu reino de terror em toda a região. Esta exposição acompanhou a vinda a Portugal, a convite da Fundação AIS, do Arcebispo de Erbil.

D. Bashar Warda esteve no Porto, em Aveiro, em eventos sempre com casa cheia, mas foi em Lisboa, graças à transmissão em directo pela televisão pública, que as suas palavras tiveram um maior eco, chegando a milhares de telespectadores. D. Bashar veio ao nosso país para agradecer tudo o que tem sido feito pelos portugueses em favor dos cristãos iraquianos, especialmente os que foram sujeitos em 2014 a um dos maiores ataques cometidos nos tempos modernos contra uma comunidade religiosa. No final da celebração da missa, em pouco mais de dois minutos, o Arcebispo de Erbil explicou como é actualmente a vida na sua região, graças à solidariedade dos cristãos de todo o mundo. “Ankawa é o maior enclave cristão do Médio Oriente com mais de 8000 famílias. Temos agora um hospital, quatro escolas, cinco igrejas e a Universidade Católica de Erbil, com 600 estudantes e 12 programas académicos em inglês”, indicou D. Bashar Warda. “Nós damos catequese e temos muitos programas para jovens. Criámos mais de 800 postos de trabalho para o nosso povo, numa região com uma elevada taxa de desemprego”, disse, sublinhando: “e tudo por causa da vossa ajuda. Obrigado”.

 

Memórias dolorosas

O que aconteceu há 10 anos no Iraque, ou seja, a invasão e ocupação da Planície de Nínive pelos jihadistas, motivou então uma enorme campanha de solidariedade para com esta comunidade cristã. Uma campanha em que a Fundação AIS teve um papel preponderante a nível internacional, como recordou Catarina Martins de Bettencourt logo no início da celebração da missa. “Desde a primeira hora, a Fundação AIS apoiou esta comunidade de forma a permitir a sua permanência nestas terras bíblicas.” A directora do secretariado português da AIS lembrou que “é no Iraque que está o nosso berço enquanto cristãos”, e que este é um berço que tem sido ameaçado constantemente ao longo das últimas décadas. “Antes de 2003, a comunidade cristã no Iraque era de 1.5 milhões de pessoas. Hoje, não são mais do que 200 mil cristãos”, lembrou ainda Catarina Bettencourt, referindo que a exposição dos objectos litúrgicos danificados, ali patente na Igreja do Santo Condestável, devia ser vista como um símbolo “da violência contra a fé”.

Além da responsável do secretariado nacional da AIS, também o arcebispo de Erbil falou desses tempos, classificando-os como “as trevas” e “o mal”, e lembrou também a fuga então de milhares de famílias “sob o calor intenso de Agosto”. Foi em 2014. De um dia para o outro, no início do mês de Agosto, 13.500 famílias que fugiram de Nínive apareceram no bairro cristão de Erbil, no Curdistão. E muitas outras partiram, provavelmente para sempre, para a diáspora. De um dia para o outro, foi necessário acudir a todas estas pessoas e D. Bashar Warda reafirmou a ajuda essencial que organizações internacionais prestaram então nessas longas semanas e meses e anos, destacando o papel desempenhado pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre. Tudo era então urgente, mas a preocupação principal passava por “cuidar, alimentar, vestir e alojar toda a gente”, destacou o prelado. “Continuamos a precisar da vossa ajuda, também para sermos a voz de Jesus Cristo no Médio Oriente”, afirmou D Bashar, agradecendo novamente à Ajuda à Igreja que Sofre e a todos os seus “generosos benfeitores”. A missa na Igreja do Santo Condestável, em Lisboa, foi presidida por D. Alexandre Palma. No final, também o bispo auxiliar do Patriarcado de Lisboa pediu o compromisso de todos na construção da paz e com ajuda e orações pelos cristãos que passam dificuldades, tendo agradecido também o trabalho realizado pela fundação pontifícia no apoio às comunidades cristãs perseguidas no mundo.

 

Noite das testemunhas

Depois da missa em Lisboa, o Arcebispo de Erbil deu ainda uma conferência, numa sala da Igreja do Santo Condestável, no bairro lisboeta de Campo de Ourique, sobre os desafios que se colocam à Igreja no Iraque, na linha do que já tinha feito nos dois dias anteriores no Porto e em Aveiro, de que se destaca o evento A Noite das Testemunhas, que a Fundação AIS organizou pela primeira vez em Portugal e que teve lugar no Porto, na Igreja dos Redentoristas. Foi um momento também muito especial. Lá fora, estava frio, mas logo à entrada havia um tapete acolhedor de luz construído por dezenas de velas. A Igreja tornou-se naquela noite na casa comum dos cristãos perseguidos no mundo. Recordaram-se histórias de mártires do nosso tempo, rezou-se, houve tempo para palavras, música, dança e silêncio. Mas, principalmente, deu-se voz a D. Bashar Warda.

Foi assim no Porto, na Noite das Testemunhas, foi assim, ainda na Invicta, no Fórum Ecuménico Jovem, no Centro Perpétuo, onde o Arcebispo dialogou com representantes juvenis de várias Igrejas Cristãs, foi assim também na paróquia da Gafanha da Encarnação, em Aveiro. Durante estes dias foi possível escutar o Pai Nosso recitado por D. Bashar em aramaico, a língua de Jesus, sinal de que nas terras bíblicas iraquianas a memória dos primeiros tempos continua ainda bem viva e presente. Foi assim no Porto, Aveiro e em Lisboa.

Foram quatro conferências e duas missas em três cidades. Várias centenas de pessoas participaram em todos os eventos. D. Manuel Linda, Bispo do Porto, D. António Moiteiro, de Aveiro, e D. Alexandre Palma, auxiliar em Lisboa, estiveram também com o Arcebispo de Erbil, sinal da proximidade do episcopado português para com a Igreja do Iraque e os cristãos perseguidos no mundo. A visita ficou marcada também pelo agradecimento de D. Bashar Warda, em todos os eventos em que participou, à amizade e generosidade para com os cristãos do seu país ao longo destes últimos anos marcados por tantos episódios de perseguição e ódio. No final da missa que concelebrou em Lisboa – e que teve transmissão em directo pela televisão pública –, D. Bashar Warda aproveitou a oportunidade para agradecer de viva-voz toda esta solidariedade a todos os portugueses. “Continuamos a precisar da vossa ajuda e também para sermos a voz de Jesus Cristo no Médio Oriente. Agradeço à Ajuda à Igreja que Sofre e a todos os vossos generosos benfeitores, tanto aqui presentes como em Portugal inteiro. Permaneçamos sempre unidos na oração. Deus vos abençoe a todos.”

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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