Lisboa |
Sessão de abertura das Jornadas ‘Motivar para a Mudança’
“Gratidão pela história de serviço, de amor, de dedicação que a Comunidade de Vida e Paz escreveu a letras de ouro”
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O Patriarca de Lisboa, D. Rui Valério, presidiu à sessão de abertura das Jornadas ‘Motivar para a Mudança’, que assinalam os 35 anos da Comunidade Vida e Paz, deixando um agradecimento à instituição, que considerou “uma autêntica e verdadeira graça de Deus”.

“Nesta celebração dos 35 anos da Comunidade Vida e Paz, gostaria de acompanhar os meus sentimentos de gratidão e reconhecimento para com este projeto – pessoalmente, por mim considerado como uma autêntica e verdadeira graça de Deus –, com três palavras: gratidão, reconstruir e esperança”, começou por referir o Patriarca de Lisboa, na sessão de abertura das Jornadas ‘Motivar para a Mudança’, que decorreram no auditório da Torre do Tombo, em Lisboa, nesta quinta-feira, 17 de outubro, Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza.

D. Rui Valério desenvolveu, depois, brevemente, cada uma das três palavras. Sobre a gratidão, apontou: “Gratidão pela história de serviço, de amor, de dedicação que a Comunidade de Vida e Paz escreveu a letras de ouro, ao longo dos 35 anos de existência. Gratidão também porque promoveu muitas histórias de vida e de paz e ajudou a construí-las e a reconstruí-las. Gratidão também pelas reconstruções que essas vidas reconstruídas ajudaram depois a realizar a outros. Gratidão ainda por ajudar tantas pessoas, jovens e menos jovens, a reencontrar o sentido para as suas vidas através do voluntariado e sempre da ajuda incondicional aos outros. Gratidão aos colaboradores e voluntários, às mulheres e homens de boa vontade que estruturam a felicidade e a realização pessoal no serviço ao próximo e na dedicação a eles, formando com eles uma comunidade de vida e de paz”.

A segunda palavra foi “reconstruir”: “Assentando o seu carisma nos valores do Evangelho, e deixando-se inspirar na figura de Cristo, o Bom Samaritano, [a Comunidade Vida e Paz] carrega os vulneráveis rumo à cura da mudança, à vida e à paz, e tece um projeto de promoção e afirmação da dignidade de cada um na realização como pessoa. Situando-se no plano da redenção já realizada, a Comunidade Vida e Paz assume-se como projeto redimido, capaz de gerar redenção. E fá-lo com ações e gestos atuantes no dia a dia, junto de quem está vulnerável, na pobreza, privado de um abrigo e indefeso, mas também o faz com o coração assente nos valores supremos daquele humanismo cristão que ao longo da história deu à sociedade o reconhecimento e a capacidade de reconhecer o supremo valor da pessoa humana e da sua dignidade, bem como tem inspirado tantas declarações de direitos humanos e até inspirado projetos de civilização”.

Por último, “a palavra esperança”. “Porque esperança é a força que motiva e cumpre sempre uma parábola de mudança. E nos complexos tempos de solidão que vivemos, a Comunidade Vida e Paz não cessa de tudo fazer para vencer a solidão de quem está só, intensificando uma cultura de encontro e diálogo, materializando o espírito de serviço em gestos concretos de solidariedade e de promoção da qualidade de vida. Cada colaborador e voluntário sabe ser companhia abençoada para quem está isolado, para quem tem a rua como lar, para quem no fundo é vítima de torturas, aventuras e desaventuras. Com a sua capacidade de enfrentar e vencer adversidades, a Comunidade Vida e Paz também se constitui como força de resiliência para toda a sociedade, mas sobretudo para aqueles cuja vida está repleta de obstáculos, barreiras e agruras. A Comunidade trouxe para a ordem do dia a certeza de que nenhuma dificuldade, por grande e mais aguda que seja, tem obrigatoriamente de ser impedimento à realização de projetos e de sonhos. Pelo contrário, testemunhou e ensina que com confiança, dedicação, coesão e fé tudo se transforma em oportunidade para a construção e reconstrução de vidas e de histórias”.

Num auditório com 300 pessoas, D. Rui Valério terminou a sua intervenção com uma nova palavra de agradecimento à Comunidade Vida e Paz, uma instituição tutelada pelo Patriarcado de Lisboa. “As oscilações da história, e particularmente as dificuldades económicas e sociais, têm tirado muitas pessoas dos seus países e da sua terra natal, que veem para a Europa em busca de melhores condições de vida e de trabalho. São cidadãos necessitados de auxílio e a quem é necessário socorrer e apoiar. Agradecemos a todos os homens e mulheres de boa vontade, como os que formam a Comunidade Vida e Paz, a determinação em socorrer quem, longe das suas pátrias e tantas vezes das suas famílias, procura um lugar de realização e felicidade, em demanda de um novo lar, de dignidade e respeito pela vida e pela sua grandeza de ser humano. Obrigado, Comunidade Vida e Paz!”, concluiu o Patriarca de Lisboa.

 

Dar respostas concretas

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa esteve também presente na sessão de abertura das Jornadas ‘Motivar para a Mudança’, que pretendiam refletir sobre a intervenção junto das pessoas em situação de sem-abrigo.

“O Papa João Paulo II dizia que uma sociedade será julgada pela forma como trata os seus membros mais vulneráveis. Esta é a regra. Uma regra que deve guiar a ação dos políticos, mas não só. É uma regra para todos nós. Essa é a regra que a Comunidade Vida e Paz segue há 35 anos e tem-na seguido com determinação e com entrega, mesmo perante tantas vicissitudes. Sei bem as dificuldades que sentem todos os dias, as dificuldades não só de quem precisa do vosso apoio, mas também as dificuldades de manter toda uma estrutura técnica que assegure esse apoio”, reconheceu Carlos Moedas, assegurando que estará “sempre presente” e tentará “fazer tudo” o que puder.

O autarca referiu-se depois ao plano recentemente aprovado no Município para a problemática das pessoas em situação de sem-abrigo. “Em Lisboa, nós conhecemos bem o problema e por isso tivemos a coragem de aprovar, na nossa Câmara Municipal, um plano que eu acho que será único para a cidade, um plano a sete anos, com 70 milhões de euros, para ajudar a combater este problema de forma muito concreta”, salientou. Este plano, acrescentou, vai ajudar “primeiro na intervenção direta e imediata”.

Carlos Moedas sublinhou ainda a importância da “estratégia”. “E essa estratégia é a prevenção, prevenção para conseguir não deixar que as pessoas cheguem a esse ponto”, reforçou, apontando ainda necessidade da “inserção social e laboral destas pessoas”, porque “a casa é o primeiro passo, mas depois é preciso ter sentido de vida, é preciso o trabalho”.

“Estamos a trabalhar para dar respostas concretas. São essas respostas concretas que a Comunidade Vida e Paz tem todos os dias. É a Comunidade Vida e Paz que nos ajuda também e que nos inspira. Aquilo que inspira todos os dias os trabalhadores da Câmara é também esta comunidade, esta comunidade de ajuda, esta comunidade de estarmos juntos, trabalharmos juntos, acima de todos os interesses políticos, porque aquilo que nos une aqui, hoje, é aquilo que tem sido a Comunidade Vida e Paz nestes 35 anos”, terminou o presidente da Câmara Municipal de Lisboa.

 

Abordagem centrada na pessoa

O coordenador da Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em Situação de Sem-Abrigo, Henrique Joaquim, que foi diretor-geral da Comunidade Vida e Paz durante oito anos, esteve também nestas Jornadas e começou por salientar que “35 anos não são 35 dias, nem 35 meses”. Este responsável destacou depois as palavras “pioneirismo” e “capacidade de reinvenção permanente” e lembrou os “desafios persistentes” e a “necessidade de ter uma abordagem centrada na pessoa”. “Quantas organizações iam para a rua cuidar destas pessoas há 35 anos?”, questionou, lembrando “a capacidade que a Comunidade Vida e Paz tem de influenciar as demais organizações e a política pública”. “Parabéns pela sua capacidade de ser pioneira e de se reinventar”, referiu o coordenador da Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em Situação de Sem-Abrigo.

 

Dependências e Saúde Mental

O presidente do ICAD - Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências esteve também nesta sessão de abertura e considerou a Comunidade Vida e Paz um “parceiro fundamental” para “estratégias eficazes”. “É um player que não pode ser ignorado neste tipo de temática”, garantiu João Goulão.

Este médico lembrou que o ICAD foi entretanto “reconstituído”. “Confiamos que este novo desenho, de um organismo único, poderá aumentar a nossa eficácia”, desejou, apontando: “A prioridade é reduzir a lista espera para tratamento”. João Goulão sublinhou ainda a necessidade de “agilizar respostas” e manifestou que “no centro de todo o trabalho e planificações das estratégias não se pode ignorar que estão os cidadãos que pretendemos servir”. “Temos que encontrar caminhos inovadores e responder com aumento da eficácia”, observou o presidente do ICAD - Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências.

A Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental do Ministério da Saúde esteve também presente através de Paula Domingos, que começou por “felicitar a Comunidade Vida e Paz pela temática” das Jornadas, ‘Motivar para a Mudança’. “Importa motivar para a mudança, mas manter o que está bem. Resolver o que tem de ser mudado e dar respostas de proximidade adequadas e tratamentos de qualidade”, frisou. Lembrando a “partilha de responsabilidades”, Paula Domingos sublinhou a necessidade de “ter atenção às especificidades das pessoas sem-abrigo”.

 

Capacitação da pessoa para a sua autonomização

A sessão de abertura das Jornadas ‘Motivar para a Mudança’ teve início com o presidente da direção da Comunidade Vida e Paz a lembrar que “a questão da habitação é naturalmente importante”, mas “o foco” da instituição tutelada pelo Patriarcado de Lisboa é “a capacitação da pessoa para a sua autonomização”. Segundo o diácono Horácio Félix, os “desafios” são “complexos”, as “histórias vida são complexas”, mas “não embarcamos em visões simplistas”, alertou. Neste sentido, “não basta tirar da rua, tornando o fenómeno menos visível”. “O fundamental é as pessoas serem tratadas e capacitadas. É a nossa visão, é a nossa experiência, é aquilo que defendemos, é a nossa forma de enfrentar os desafios decorrentes da dinâmica social que está sempre em alteração”, garantiu o presidente da direção da Comunidade Vida e Paz, nas Jornadas que assinalaram os 35 anos da instituição de apoio às pessoas na situação de sem-abrigo.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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