O Patriarca de Lisboa considera que ter recebido o Pálio das mãos do Papa Francisco é “um momento de afirmação explícita de comunhão com o Santo Padre”, que “se estende a toda a nossa diocese” e a “toda a Província Eclesiástica”. Em entrevista à Canção Nova e ao Departamento de Comunicação do Patriarcado de Lisboa, D. Rui Valério faz o balanço do seu primeiro ano de pontificado, destaca os pontos principais do Programa Pastoral da diocese para os anos pastorais 2024-2026 e revela uma história com um Arcebispo Metropolita da República do Congo, antes da celebração desta manhã na Basílica de São Pedro, no Vaticano. “Nunca imaginei que Lisboa possuísse um prestígio tão enorme no mundo. Senti-me pequenino”, assumiu.
- Que significado tem, para o Patriarca, o símbolo do Pálio da metrópole? Desde logo, é um dia marcante na medida em que há dois valores que emergem pela entrega e pela imposição do Pálio, que são dois valores fundamentais na vida de um bispo e na vida de uma diocese e concretamente do Patriarcado de Lisboa. Quais são esses dois valores fundamentais e que são estruturantes: em primeiro lugar, é o momento de afirmação explícita da comunhão com o Santo Padre. É ele que nos concede o Pálio, mas ao mesmo tempo uma comunhão que se estende a toda a nossa diocese – portanto, o pastor juntamente com o povo – e, depois, com toda a Província Eclesiástica, porque o Pálio é em ordem à afirmação daquilo que é a identidade do Metropolita como alguém que, de certa forma, está em comunhão com as outras dioceses envolventes a Lisboa. Portanto, o primeiro grande valor que emerge e que se afirma, é o valor da comunhão que radica as suas raízes em Cristo e que depois nós vivemos e testemunhamos na horizontalidade. Em segundo lugar, é o valor da disponibilidade a servir, a estarmos próximos do povo e, ao mesmo tempo, como o bom pastor e a exemplo de Jesus que disse: «O bom pastor é aquele que dá a vida pelas suas ovelhas», portanto, o segundo grande valor que emerge é esta disponibilidade para servirmos em tudo e com todo o nosso ser, até à entrega da própria vida, até ao martírio. É um dia particularmente significativo, este, exatamente porque nos põe em consonância com o Evangelho, para traduzirmos o Evangelho para a história e para sermos capazes de responder às grandes necessidades do povo. - Ao fim de quase um ano como Patriarca de Lisboa, que balanço faz? Bem, mais do que ser obra do Patriarca ou até da própria comunidade, o balanço é sempre feito pela palavra viva do Evangelho, pelo Espírito Santo de Cristo Ressuscitado. Julgo que, nessa linha e nessa ótica, poderíamos quase dizer que não passamos verdadeiramente de servos inúteis, a exemplo daquilo que Nosso Senhor Jesus Cristo nos disse. O balanço gostaria que fosse qualquer coisa como: e Cristo esteve e está em Lisboa; e Cristo fez e faz em Lisboa; e Cristo está na vida dos lisboetas; e Cristo… ou seja, que o balanço seja completa e totalmente cristocêntrico. É de Cristo que nós partimos, é com Cristo que nós caminhamos e é à construção do Reino de Cristo que nós queremos alcançar. - Quais os principais desafios da Igreja de Lisboa? Os principais desafios da Igreja de Lisboa, neste momento, colocam-se em três patamares diferentes. Em primeiro lugar, é uma Igreja que está a ser chamada e desafiada a ser capaz de responder a necessidades emergentes e próximas. Estou a pensar nos desafios que nos são lançados pelos migrantes, estou pensar nos desafios que nos são lançados pelos pobres, pelos novos pobres, estou a pensar nos desafios que nos são lançados pelos jovens e a sua dificuldade em ter um trabalho justo e digno e, ao mesmo tempo, em ter uma habitação condigna. Portanto, este é o primeiro nível dos desafios que nos são lançados. Em segundo lugar, é o desafio de uma Igreja que quer construir-se a partir de Cristo e na luz e inspiração do Espírito Santo. Uma Igreja que quer ser, cada vez mais, uma Igreja em saída, mas em saída com Jesus, para dar Jesus. Uma Igreja que quer, exatamente, nesta demanda e procura de uma configuração a Cristo, uma Igreja que tem que ser uma Igreja da escuta, uma Igreja do serviço. Finalmente, um terceiro padrão e um terceiro patamar, é aquele que nos remete totalmente para o futuro, nomeadamente para uma projetação e construção a partir da missão, a partir da evangelização. Uma Igreja de futuro significa uma Igreja que começa a construir a esperança já no hoje e alimenta-se para construir o hoje dessa esperança que nós sabemos, que nos espera e que nos atende. Portanto, são desafios múltiplos. Diria que cada pessoa do Patriarcado de Lisboa é um desafio, mas o nosso principal desafio é nós mantermos acesa a chama do Evangelho, do amor, da fé e da esperança. - Há poucos dias foi lançado o Programa Pastoral para o Patriarcado de Lisboa para os próximos dois anos. Quais as principais apostas que o Patriarca de Lisboa desafia a sua diocese a fazer? Em primeiro lugar, missão e evangelização. Em segundo lugar, esperança, sermos esta chama viva que acende, que acalenta e que é capaz de levar a todos os lares e a todas as vidas a esperança. Em terceiro lugar, a sinodalidade, a sinodalidade que é um fazer juntos, mas um fazer juntos é começar por fazer com Cristo e para Cristo. E em quarto lugar, volto ao princípio, uma Igreja missionária, uma Igreja que verdadeiramente aborde e compreenda que cada homem e cada mulher é um desafio, é um chamamento, é uma vocação para nós e que precisa do nosso anúncio, que necessita da nossa presença, que necessita do nosso amor, do nosso serviço. Uma Igreja missionária! - Como Patriarca, como pastor, como foi receber o Pálio? Antes de mais, com um sentimento de gratidão e de grande humildade. Vou-vos confessar assim, em off, o que vou agora dizer em on. Eu nunca imaginei que Lisboa possuísse um prestígio tão enorme no mundo. Senti-me pequenino porque, a um certo ponto, encontrei-me com irmãos bispos ou arcebispos metropolitas dos Estados Unidos, do Brasil, da Alemanha, da Itália e, no entanto, todos com uma admiração genuína para com o Patriarcado de Lisboa. Verdadeiramente, somos uma Igreja – o Patriarcado de Lisboa –, somos uma Igreja Particular, é certo, mas com uma forte ressonância pelo mundo além. E aconteceu ali, até, um caso, naquele espaço de tempo em que precedeu à entrada para a Eucaristia, em que encontrei lá um irmão do Congo-Brazzaville que, quando soube que eu era português e que era de Lisboa, fez questão de me apresentar a uma série de outros Arcebispos Metropolitas para dizer que ele era do Congo-Brazzaville e que os fundadores, enfim, de tanta coisa lá foram os portugueses. Nós sentimo-nos, obviamente, pequeninos, humildes. Porque tomamos conta de que estamos a receber uma responsabilidade e uma missão que nos transcende totalmente. Portanto, se houve uma atitude que eu vivi de alto a baixo, do princípio a fim, foi uma atitude de grande humildade e de ter compreendido que continuo a ser pequenino demais para a grandeza desta missão e para a grandeza, também, desta responsabilidade que hoje me foi confiada.![]() |
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