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Família como lugar de acolhimento e acompanhamento na doença
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«Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que crê n`Ele não pereça, mas tenha a vida eterna»

Não se encontra maior expressão de amor do que aquela que Cristo fez por nós e, momento algum, poderá ser equiparado. Mas Deus na nossa vida abre espaço à possibilidade de bonitas manifestações de amor. E tantas vezes, é no sofrimento, nas horas de maior provação, que as obras do amor florescem e trazem luz a momentos sombrios.

A doença tem a particularidade de ser sombria, mesmo que se consiga encarar com resiliência e alguma leveza. Parece desvendar a fragilidade da pessoa, a impossibilidade de controlar tudo e inevitavelmente revela a vulnerabilidade humana. Aceitar essa vulnerabilidade, dar-lhe algum significado nem sempre é fácil.

É um caminho de esforço, facilitado pela presença dos que mais se ama, da família e pela certeza da presença do Pai nas nossas vidas. Mas, para quê, o sofrimento? Pergunta legítima certamente, à semelhança de porquê o sofrimento? Procurar dar sentido e até, em última instância, utilidade ao sofrimento faz parte do caminho.

A minha situação de doença, que implicou um internamento de cerca de 45 dias, impactou toda a família, a sua dinâmica, as suas rotinas, a sua segurança. Mas também trouxe luz sobre tantas coisas belas que sucederam.

Lembramos que na celebração do nosso matrimónio, há 16 anos atrás, e à semelhança de tantos casais, escolhemos a 1 Carta aos Coríntios no seu capítulo 13, para leitura. «Ainda que eu distribua todos os meus bens e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor de nada me vale.» (1COR 13, 2-3) Naquela fase, sem aprofundar e compreender verdadeiramente o seu significado. Este foi sendo descoberto e expressado no dia-a-dia do matrimónio, nas rotinas adquiridas, nas dificuldades do caminho, sobretudo na capacidade de ultrapassar os momentos difíceis. No caminho que temos partilhado juntos, sabemos que as fases de maior dificuldade são atravessadas com maior resiliência fruto do que é firmado nos momentos de luz e de força. Como se essas fases boas, de tranquilidade e alegria, de mais oração e presença de Deus, construam uma pequena fortaleza. E é essa fortaleza que, por seu turno, contribui no combate aos momentos menos bons, de maior aridez ou batalhas a travar. E qualquer situação de doença é uma batalha a travar por toda a família.

Não há forma de falar da família sem falar do amor.

É na família que o amor se expressa na sua plenitude, não apenas por palavras como se, enquanto sentimento, deva ser descrito, mas, sobretudo, pelas obras, pelas ações, pelo caminho que se constrói conjuntamente. É um caminho que, em Cristo, procura ser de crescimento dos cônjuges.

A doença é a tal batalha. Uma fase delicada, que traz sofrimento a quem dela padece, mas muito sofrimento a quem acompanha. Diria até, em alguns momentos, mais sofrimento para quem acompanha. Por não se ter qualquer controlo sobre os acontecimentos, por se ver o outro em sofrimento e não conseguir mudar a situação. Por querer fazer mais e sentir-se impotente. Normalmente, o sofrimento é uma manifestação de alguma dor física. E, na área da saúde, há escalas de avaliação da dor para que quem sofre possa catalogar a sua dor e assim ter alguma medida analgésica proporcional ao catalogado. Mas qual a escala usada e validade para a família que sofre, que acompanha? E que analgésico lhe pode ser administrado?

Sabemos que uma boa medida que contribui para combater a dor é o amor. O amor que une a família, assente no amor de Deus.

Como não sentir o acolhimento do amor?

E a alegria profunda de saber que ultrapassamos, em conjunto, esta batalha e conseguimos algo ainda mais belo. Como dizia Santo Agostinho, «quanto mais grave foi o perigo no combate, tanto maior é o gozo no triunfo». 

Para os nossos filhos também foi um grande desafio.

Tentamos proporcionar-lhes um percurso em que sintam constantemente a presença de Deus. Uma presença que se manifesta das mais variadas formas, no entanto, sabemos que enquanto pais, somos os seus primeiros catequistas e cumprir essa missão acarreta muita responsabilidade e desafios.

Se por um lado nos esforçamos em mostrar tranquilidade e até alguma serenidade naquela fase, por outro, era obviamente estranho a ausência da mãe e a (quase) impossibilidade de estar na sua presença. Também daí percebemos a ação de Deus nas nossas vidas enquanto a relação entre irmãos se aprofunda e fortalece.

Na família alargada encontramos a certeza do amor, num papel crucial e particularmente reconfortante essencial para a superação dos obstáculos, pois sabemo-los presentes, sempre prestes a ajudar. Essas nossas raízes marcam-nos, de forma indelével, com o seu amor.

E a família em Cristo? Aqueles que não tendo laços de sangue, viveram para connosco um verdadeiro sentido de amor ao próximo, o amor na sua essência, na sua ação diária, concreta, de esforço e entrega. Soube e senti este acompanhamento que ocorreu por meio de mensagens, telefonemas, breves visitas, mas mais significante por meio de orações. E tive a bênção de receber os sacramentos da Santa Unção, da Confissão e da Comunhão, que tão gentilmente os Senhores Padres tiveram a atenção em me fazer chegar.

Como não sentir o acolhimento do amor?

Essas bênçãos faziam o meu coração sorrir.

Mas na aspereza de alguns dias tornava-se difícil rezar. Restava-me agarrar o terço, que tive sempre junto a mim, e por vezes esboçar “Meus Senhor e Meu Deus” com a segurança de saber que outros me tinham nas suas orações.

E assim reconhecer esse lugar que é família, esse lugar que é amor.

texto pela família Pereira (Elsa e Hélder Pereira)
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