Jornal Voz da Verdade

26.03.2024

Mundo |

Ajudar a Igreja na Ucr�nia, um compromisso para esta Quaresma

�A guerra roubou-nos a felicidade�

A vida do Pe. Andriy mudou com a guerra na Ucr�nia. Tal como a de todas as pessoas. Mas este simp�tico sacerdote, ainda jovem, ajuda agora pessoas traumatizadas, pessoas feridas espiritualmente, pessoas que n�o conseguem lidar com o ambiente de stress, de viol�ncia, perante a imin�ncia de um ataque, de um bombardeamento, perante o medo do sofrimento e da morte. Como � o caso de Nina…

Nina passa os dias � janela do seu apartamento em Kyiv. Ou a olhar l� para fora. Da sua janela, Nina Zahorodnia s� consegue ver pr�dios enormes, iguais �quele onde vive, torres de bet�o onde moram tamb�m pessoas assustadas, pessoas que facilmente sucumbem �s l�grimas. Desde que come�ou a guerra, desde que come�ou a invas�o da Ucr�nia pelas tropas russas, em Fevereiro de 2022, que � assim. Nina s� pensa no pior, nos bombardeamentos, na destrui��o, nas pessoas feridas, nos mortos. � dif�cil libertar-se dessa armadilha. Ela veio de Kherson, onde ainda est� quase toda a sua fam�lia. Quando est� � janela de sua casa, Nina olha em volta mas o seu pensamento est� normalmente em Kherson, est� ao lado dos seus, est� preocupada com eles. “Kherson � um lugar muito assustador”, explica esta mulher j� de meia-idade, � Funda��o AIS. “Todos os dias h� m�sseis a sobrevoar a regi�o”, diz. Nina n�o consegue deixar de pensar na sua fam�lia que estando longe pode estar, a qualquer momento, a ser atingida por um m�ssil, por um dos muitos bombardeamentos russos �quela regi�o. S� de pensar nisso, ela fica doente. E chora. Quando conversou com a Funda��o AIS, as palavras tremeram-lhe quando se referiu aos seus pais. “Na minha casa ficaram muitos membros da minha fam�lia. A minha m�e e o meu pai. Sinto-me muito triste sem eles…”

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O medo da guerra

O Pe. Andriy Bodnaruk conhece bem Nina Zahorodnia. Ela �, no entanto, apenas uma das muitas pessoas que procura socorrer nestes dias de inferno de guerra em que a Ucr�nia est� mergulhada. Sempre que pode, o Pe. Andriy vai ao bairro de Nina, entra no seu pr�dio, chama o elevador e bate-lhe � porta. �s vezes n�o � preciso dizer nada. A presen�a basta. Reconforta. “As pessoas traumatizadas vivem em tens�o”, explica. � o caso de Nina e ser�, quase por certo, o que se passa com todas as pessoas que vivem em Kyiv, que vivem em Kherson, que vivem em todas as cidades ucranianas. Mesmo os que n�o o aparentam, est�o assustados por causa da guerra. At� podem passar muitos dias, semanas inteiras sem se escutar um �nico tiro, sem se ouvir o rebentamento de uma bomba, o silvo de um m�ssil a cair do c�u, mas isso pouco importa. Quando menos se espera, a guerra pode regressar com todo o seu pavor e ningu�m consegue ficar indiferente a isso. � um medo que pode paralisar. Que destr�i. “Esta guerra roubou-nos a felicidade, a alegria simples das pessoas. � por isso que a Igreja est� � procura de modelos diferentes para ensinar aos padres como comunicar, como falar, como curar estas feridas”, explica o sacerdote � Funda��o AIS.

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Um padre incans�vel

A guerra n�o parece, no entanto, assustar o Pe. Andriy. Todos os dias, desde Fevereiro de 2022, quando come�ou a invas�o, que ele tem assumido o seu papel de sacerdote durante todas as horas do dia, todos os dias da semana. � um padre incans�vel procurando ser �til, procurando estar presente junto dos que mais precisam de ajuda, dos que mais precisam de um ombro amigo, de uma palavra de conforto. O seu rosto � cada vez mais conhecido em Kyiv, a capital ucraniana. Ao longo destes dois anos de guerra, Pe. Andriy Bodnaruk tem visitado pessoas, fam�lias inteiras nas suas casas, mas tamb�m soldados que est�o longe, em postos de controle, por exemplo. Tem celebrado Missas em abrigos, at� no metro, e tem organizado actividades para distrair as crian�as do ambiente de guerra. N�o � raro v�-lo a usar por cima da sua batina negra, que o identifica como padre, um colete � prova de bala. � assim, quase parecendo um soldado, que tem visitado as pessoas que est�o nos abrigos antia�reos e � com ou sem o colete � prova de bala que visita os seus paroquianos, que lhes leva a comunh�o e tamb�m alimentos e produtos b�sicos para a sobreviv�ncia do dia-a-dia. Produtos que s�o, tantas vezes, adquiridos por ele atrav�s dos fundos recebidos da Funda��o AIS.

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Ajudar os feridos no esp�rito

Esta � uma guerra total, que n�o deixa ningu�m de fora, nenhum sector da sociedade. Nem sequer a Igreja. “Esta guerra vai chegar �s igrejas, atrav�s dos nossos soldados ou das pessoas que estiveram sob a ocupa��o. E temos de estar preparados para isso”, explica. � preciso estar � altura dos acontecimentos. � isso que o Pe. Andriy procura fazer todos os dias. “Ajudar as pessoas que tamb�m est�o feridas no esp�rito e n�o apenas no corpo”, acrescenta. Na verdade, os sacerdotes n�o podem fazer tudo sozinhos. Seria impens�vel. Mas a presen�a de um consagrado junto de pessoas aflitas, de pessoas em sofrimento, pode fazer toda a diferen�a. Quando sobe no elevador – se houver electricidade, claro – no pr�dio de Nina, o Pe. Andriy Bodnaruk nunca sabe quanto tempo vai demorar a visita. Pode ser breve, para um ol�, ou pode demorar o tempo necess�rio para lhe enxugar as l�grimas, para lhe sossegar o esp�rito, para lhe dizer que, apesar da guerra, est� tudo bem. A for�a do Pe. Andriy, confessa-nos ele pr�prio, vem da Cruz, vem do exemplo de Cristo que tamb�m sofreu, que tamb�m foi um deslocado, que tamb�m foi um exilado. E que nunca abandonou o seu povo. Andriy Bodnaruk � um dos muitos sacerdotes que a Funda��o AIS apoia directamente neste momento t�o dif�cil da vida da Ucr�nia.

texto por Paulo Aido, Funda��o Ajuda � Igreja que Sofre