Entrevistas |
Padre Fernando Sampaio, diretor da Pastoral da Saúde do Patriarcado de Lisboa - Parte 1
“O voluntariado cristão é uma responsabilidade para com o doente”
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O diretor da Pastoral da Saúde do Patriarcado de Lisboa lembra a responsabilidade do voluntariado católico nos hospitais. “Os doentes esperam que os voluntários apareçam, confiam neles e é necessário manter esta confiança”, destaca o padre Fernando Sampaio. Na primeira parte da entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE, por ocasião do Dia Mundial do Doente (11 de fevereiro), este sacerdote explica como vai decorrer a Jornada do Voluntariado em Saúde e a salienta a importância do Manual da Assistência Espiritual e Religiosa Hospitalar.

 

Para assinalar o Dia Mundial do Doente, a Pastoral da Saúde do Patriarcado de Lisboa está a promover a Jornada do Voluntariado em Saúde, que vai decorrer neste sábado, 10 de fevereiro, no Hospital Pulido Valente, com o tema ‘E Jesus disse-lhes: «vinde repousar um pouco, à parte»’ (Mc 6, 31-34). Qual o objetivo deste encontro?

É necessário, de vez em quando, parar um pouco para refletir. A ideia, tal qual como Jesus depois de acolher os 12, tendo sido enviados e após esse trabalho tiveram necessidade de repousar, também nós, de vez em quando, temos necessidade de repousar das nossas atividades, quer sejam elas físicas, quer sejam ao nível do voluntariado. Nesse sentido, no voluntariado – e refiro-me mais ao voluntariado pastoral, ao voluntariado cristão nas paróquias ou nos hospitais – é necessário fazer uma pausa para refletir o que andamos a fazer e qual a nossa responsabilidade. Muitas vezes as pessoas entendem o voluntariado como ir quando lhes apetece, mas de facto não é isso, é uma responsabilidade para com o doente e é necessário tornar as pessoas responsáveis pelas pessoas que visitam. É necessário que os voluntários sintam esta responsabilidade de cativar os doentes, de estar com eles. Os doentes esperam que os voluntários apareçam, confiam neles e é necessário manter esta confiança. Esta é a responsabilidade, no fundo, que o voluntário deve ter sempre presente.

Por outro lado, ao nível do voluntariado católico, temos que ter a noção que o nosso trabalho é um trabalho de Igreja. Nós damos o rosto pela Igreja, a Igreja torna-se presente através dos voluntários. Todo o nosso trabalho na Igreja é de voluntariado – Jesus foi talvez o primeiro voluntário! E é necessário tomar consciência disso. Nós não somos neutros, nem um voluntário é neutro: quando se torna presente no doente, ele próprio é uma mensagem, é uma mensagem de amor. E é necessário que compreenda esta mensagem de amor que ele veicula em si próprio. Portanto, ele veicula Jesus, antes de mais, e é necessário encher-se de Jesus para veicular Jesus. Um dos aspetos importantes é tomar consciência de que leva Jesus e de que é necessário anunciar Jesus, torná-l’O presente. Não apenas pela sua Pessoa, mas também pela oração, pela leitura da Palavra de Deus e pelo anúncio expresso de Jesus, quando isso é possível.

 

O que destaca do programa da Jornada do Voluntariado em Saúde?

Um dos temas que vamos tratar é exatamente a dimensão espiritual do voluntariado. Fazer voluntariado, em si, já é uma ação espiritual, mas assumir essa mesma ideia, e sobretudo ter a consciência que está a exercer uma ação espiritual, é necessário também preencher-se e conhecer aquilo que são os dinamismos espirituais em si próprio, que o arrastam, que o levam e que o conduzem a este encontro com os doentes. Qual é a minha espiritualidade? Quais são os meus dinamismos interiores que dão sentido à minha vida e que me empurram exatamente para ajudar outros em situações de sofrimento ou de solidão e também precisa de redescobrir o sentido para a sua vida? Portanto, o nutrir-se, o alimentar-se, é fundamental para depois poder dar e tornar presente.

Outro aspeto do programa é ajudar os voluntários a centrar-se em Jesus. Eles, quando vão, levam Jesus. É necessário que nós tornemos presente Jesus também através do próprio Evangelho. Usar muito mais o Evangelho, usar muito mais a palavra de Deus. Às vezes os doentes estão muito zangados, às vezes estão com sentimento muito pessimista e uma palavra do Evangelho pode ajudar a levantar o doente.

São exatamente estes aspetos, mais interiores, que consta a Jornada do Voluntariado em Saúde.

 

O voluntariado nas capelanias hospitalares foi porventura a área da pastoral que mais sofreu com o confinamento devido à covid-19. Dois anos após a pandemia, como está atualmente este voluntariado na diocese?

Na realidade, o voluntariado foi suspenso. Há hospitais onde o voluntariado social e ligado às capelanias católicas já retomou. Aqui, no Santa Maria, também já retomou plenamente e temos cá voluntários a trabalhar connosco, mas sabemos que há hospitais, na diocese, onde isso de facto ainda não aconteceu.

Há hospitais que estão a fazer ações de formação para haver recomeço. E as ações de formação são muito necessárias, ao nível dos hospitais: como é que se entra no hospital; depois da pandemia, como é que devemos agir, como fazer para não andar a levar infeções – porque a infeção hospitalar é de facto grave. Queremos que os voluntários não sejam problema, mas sim parte da solução e sobretudo parte da solução importante para os doentes. Nesse sentido, o Papa fala [na Mensagem para o Dia Mundial do Doente 2024] do cuidar das relações com os doentes e se há alguma coisa que aqui venha ao de cima é exatamente a relação, porque é esse um dos cuidados que o voluntário realiza. A relação vem ao de cima e é importante para ajudar o doente a vencer a solidão.

 

Em novembro passado foi apresentado publicamente o Manual da Assistência Espiritual e Religiosa Hospitalar. O que este documento traz de novo? De que forma ele se concretiza?

Este é um documento que já existe há bastante tempo, e pode ser acedido no site da Pastoral da Saúde do Patriarcado. O manual foi publicado pelo Grupo de Trabalho Religiões Saúde, com a ajuda da Comissão Nacional da Pastoral da Saúde, no tempo do padre Feytor Pinto. É um documento que tem a ver com aquilo que é a pluralidade do próprio serviço de assistência espiritual religiosa, porque contem elementos culturais das diferentes religiões ou tradições religiosas e dos aspetos que, a partir das tradições religiosas, incidem sobre cuidados de saúde. Como é que se pode atender alguém, por exemplo, que seja muçulmano? Quais são os cuidados para que a pessoa que é cuidada se sinta bem, sinta que está a ser respeitada nas suas tradições? Este manual traz um conjunto de elementos muito simples, muito práticos, daquilo que deve ser tido em conta nos cuidados de saúde. Como a pluralidade religiosa e cultural é cada vez maior entre nós, o serviço de assistência espiritual religiosa deve conter essa pluralidade.

É um manual que, no fundo, ajuda os profissionais e também, daí, nós estarmos a fazer, aqui no Hospital de Santa Maria, um projeto muito bonito, que se chama ‘Conhecer para cuidar’. Estamos a organizar uma sessão mensal sobre a assistência espiritual religiosa, sobre a espiritualidade e sobre as diferentes religiões e os cuidados de saúde. São sessões abertas a todos, e fizemos a primeira, ainda em novembro, sobre o SAER – Serviço de Assistência Espiritual e Religiosa. A segunda sessão, já em janeiro, foi sobre ciência, espiritualidade e humanização, feita pela enfermeira Sílvia Caldeira, e agora em fevereiro, no dia 7, das 11h00 às 12h00, vamos ter uma sessão sobre ‘Muçulmanos e cuidados de saúde’. No próximo mês, será sobre ‘Igreja Adventista do Sétimo Dia e cuidados de saúde’. 

 

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