Por uma Igreja sinodal |
Relatório de síntese
4. Os pobres, protagonistas do caminho da Igreja
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Reflexão sobre o n.º 4 do Relatório de Síntese da primeira sessão da Assembleia do Sínodo dos Bispos


Apesar de liturgicamente ter terminado, podemos afirmar que ainda estamos a viver a intensidade do Tempo de Natal e a consequência desse momento ímpar na história da humanidade: Deus fazer-se carne e tornar-se igual a um de nós, em tudo, excepto no pecado! E com isto, o homem alcançou uma dimensão quase divina, gozando da plenitude da Vida, a Vida em abundância. Se os pobres “são os protagonistas do caminho da Igreja”, isto deve-se a este Deus que se fez pequeno, pobre e humilde, estendendo a todos eles, em primeiro lugar, a Sua misericórdia.

No Relatório da Síntese da 1.ª Sessão da Assembleia do Sínodo dos Bispos, no seu nº 4, sobressai de uma maneira particularmente intensa, a comunhão deste Jesus pobre e humilde com os múltiplos rostos de pobres e sem uma vida digna. E não são somente rostos, são vidas concretas de sofrimento, de falta de dignidade, de isolamento, de vulnerabilidade, de violência e de abusos, de abandono e de discriminação: vidas sem sentido.

Este é o grande desafio para a Igreja dos dias de hoje: como respeitar, acolher, acompanhar esta pobreza e esta falta do sentido de vida e comprometer-se com uma Vida Nova, vinda directamente deste Jesus Salvador?

À semelhança de Jesus, temos o dever de participar de uma forma tremendamente activa na construção do bem comum e na defesa da dignidade da vida. Assim como Jesus os colocou no centro da Sua missão, também nós teremos cada vez mais de colocar os pobres no centro da vida da Igreja. Ir buscá-los às periferias e fazer caminho com eles na direcção do centro, tomando a certeza que também se torna necessário não deixar que se desviem do centro.

Para isso, os cristãos têm-se organizado de variadas formas para dar cumprimento a esta missão. Na Igreja têm surgido múltiplas respostas, umas formais outras informais, umas de grande dimensão outras simples e discretas, umas para grandes grupos e outras para pessoas individuais, umas de cariz prático e imediato e outras de reflexão e estudo do caminho a seguir, etc, etc, etc.


Assim como o nosso Deus assumiu um rosto e um corpo humano para salvar o homem, também a Igreja deve tomar corpo e assumir a missão da salvação, olhando sobretudo para os pobres e mais necessitados. A caridade é, sem dúvida, a expressão deste corpo salvífico.

São Paulo diz-nos que todos formamos um só corpo, tendo Cristo como cabeça. Deste modo, quanto mais nos organizarmos e caminharmos juntos (Igreja Sinodal) mais damos expressão a este Corpo. A solidariedade, a dignidade humana, o bem comum, a subsidiariedade, a justiça, e muitos mais valores, alcançam-se muito mais facilmente numa comunidade onde se partilha e pratica a caridade. De facto, devemos viver a caridade construindo redes e ligações institucionais e de uma forma coordenada, evitando um estilo impessoal de viver a caridade. A vivência da caridade e da solidariedade, de uma forma organizada, contribui em muito para a unidade da Igreja e para o cumprimento da sua missão evangélica.

Tudo isto levanta grandes desafios, pois o assistencialismo (financiamento público) é o perigo eminente e comodista, que nos impede de avançar na procura da prática evangélica real e total, sem reservas nem constrangimentos, sem favores nem interesses pessoais. É imperioso que se pratique uma partilha de dons e recursos dentro da Igreja, entre os vários grupos existentes, quer sejam organizados e institucionais, quer sejam informais e sectoriais. Só assim saímos do assistencialismo e caminhamos na verdadeira caridade cristã, promovendo à dignidade humana (quase divina) aquele que mais necessita e carece de apoio.

Este momento Sinodal é a oportunidade por excelência de as Instituições mais organizadas e formalmente constituídas regressarem à vivência comunitária, quer seja paroquial, vicarial ou diocesana. Referimo-nos aos Centros Sociais Paroquiais, às Santas Casas da Misericórdia, às Cáritas, às Conferências Vicentinas e a muitos outros grupos associativos e institucionais do exercício da caridade. Com os anos de existência estas entidades têm tido a tendência de se afastarem da vida comunitária eclesial, isto é, do centro da Igreja, umas vezes por culpa própria, outras vezes por falta de coordenação e acompanhamento de quem deveria fazê-lo. Por vezes caímos na tentação e mesmo na prática de nos tornarmos muito pouco sinodais e solidários, internamente na vida própria das Instituições e externamente com as outras instituições paroquiais e diocesanas.

É a oportunidade de implementarmos e/ou reforçarmos os laços de rede e de proximidade entre as Instituições, ou seja, de experimentarmos integralmente uma vivência sinodal e de solidariedade entre pares.


Por tudo isto, sugere-se:

a) Recuperar nas paróquias ou nas vigararias o ensinamento da doutrina social da Igreja actualizada aos dias de hoje;

b) Investir no trabalho voluntário e solidário em prol da comunidade, e, em particular, em favor dos mais necessitados, fragilizados e marginalizados;

c) Fomentar a partilha de experiências, de recursos e de projectos, quer seja a nível sectorial ou vicarial, quer seja por zonas pastorais ou a nível diocesano; criando para o efeito grupos de trabalho e de reflexão;

d) Promover a efectiva interinstitucionalidade entre as Instituições da Igreja, e também com outras, de forma a concretizar e a dar corpo à alínea anterior.

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